Segurança deve ser discutida “uns com os outros e não uns contra os outros”, pede D. Américo Aguiar
O cardeal D. Américo Aguiar pede que o país discuta temas como a saúde ou a segurança “uns com os outros” e não “uns contra os outros”.
À margem da apresentação do livro “Memórias de uma Jornada Belíssima” (onde relata as suas memórias como presidente da Fundação da Jornada Mundial da Juventude), o bispo de Setúbal pediu que as respostas aos problemas do país “não sejam nem à custa de ninguém, nem contra ninguém”.
“Quando nós optamos por tomar uma decisão que vai favorecer A, mas vai prejudicar B, estamos apenas a mudar o problema de sítio”, alertou o cardeal, quando confrontado pela Renascença com a polémica operação da PSP no Martim Moniz em Lisboa e a recente lei que impede o acesso de estrangeiros não residentes ao Serviço Nacional de Saúde.
No caso específico da segurança, o bispo recordou as palavras do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) para sublinhar que é uma necessidade que “todos, todos, todos os cidadãos se sintam em segurança” – reforçando, contudo, que isso não pode justificar tudo.
“Ninguém, por ser da raça A, (…) pode sentir-se ameaçado por desconfiança. Mas também não está correto que eu, que não percebo nada de técnica policial, me ponha a achar sobre os procedimentos das autoridades. [Devemos] discutir os assuntos para, no fim, tomarmos as melhores decisões possíveis. Porque quando nós queremos tratar da segurança uns contra os outros, só ficamos piores”, defendeu.
Dívidas perdoadas em Setúbal chegam aos 60 mil euros
Depois de fazer o anúncio do perdão no final de dezembro, D. Américo Aguiar avançou esta terça-feira que as dívidas que a diocese de Setúbal vai perdoar no âmbito do ano jubilar de 2025 rondam os 60 mil euros.
Segundo o cardeal, a medida enquadra-se nas indicações dadas pelo Papa Francisco para que, no Jubileu que decorre até ao final deste ano, “quem tenha possibilidades materiais e financeiras, pessoais ou institucionais, também perdoe quem lhes deve dinheiro, na totalidade ou em parte”.
Tal como na proposta de amnistia que entregou no parlamento, D. Américo Aguiar diz esperar que este ato de perdão signifique um momento de esperança.
“Para a Diocese de Setúbal, é um valor muito significativo. Mas o que eu desejo e espero é que, para cada uma das pessoas a quem é perdoada a dívida, que isto signifique esperança (…) e volte a dar oxigênio para respirar, sonhar e construir o futuro e que essa dívida não seja uma pedrinha no sapato”, reforçou.
A polémica do altar-palco e as “turras” com a autarquia
Relatos dos bastidores da Jornada Mundial da Juventude, momentos de discórdia entre a Igreja e a Câmara Municipal de Lisboa e até a polémica com o altar-palco. Tudo isto pode ser encontrado no livro de memórias de D. Américo Aguiar como presidente da Fundação JMJ, cargo que ocupou até julho de 2024.
“Memórias de uma Jornada Belíssima” reúne, em mais de 170 páginas, as recordações do bispo de Setúbal dos bastidores do maior evento católico realizado em Portugal, contadas em entrevista ao jornalista da agência Ecclesia, Paulo Rocha.
Na apresentação da obra, na tarde desta terça-feira na Câmara Municipal de Lisboa (CML), D. Américo recordou algumas das peripécias daquele tempo. Para além das “várias vezes em que marrámos, eu e o Filipe Anacoreta Correia [vice-presidente da CML] e ainda bem, para ser uma jornada belíssima”, o cardeal desvendou ainda alguns exemplos dos relatos que lhe foram sendo feitos por quem viveu e trabalhou durante as JMJ.
“Fui caminhar um bocadinho ao Parque Eduardo VII e estavam os polícias e os homens e as mulheres da higiene urbana, após a primeira noite. Eu fui lá pedir-lhes desculpa, pelo incómodo de estarem a trabalhar. E eles: ‘Senhor bispo, desculpa?! Nós estamos feliz, que bom, uma experiência única!’”, recordou.
Também presente na cerimónia, o presidente da CML, Carlos Moedas, sublinhou que “acima de tudo” a JMJ deixou-lhe “para a vida” a amizade com o bispo de Setúbal. Apesar de considerar que “nunca será capaz de retribuir” o que o evento lhe deixou, o autarca admitiu que viveu naqueles tempos um dos momentos mais conturbados da sua vida profissional.
“Na página 54, o D. Américo diz que ‘o altar-palco foi a maior campanha de marketing da JMJ no país’. Esta é uma frase histórica. [ridos] Eu li aquilo e digo assim: foi, mas também foi dos momentos mais difíceis da minha vida profissional”, assumiu.
Source link