
Linha SNS 24 evitou que 100 mil pessoas fossem às urgências nos primeiros dias do ano
O coordenador do SNS 24 faz um balanço muito positivo da linha de atendimento a grávidas e, também, da resposta ao novo modelo de urgências de obstetrícia, que obriga a uma triagem telefónica prévia. Desde que o modelo entrou em vigor, há um mês, foram triadas 16 mil utentes e cerca de 4 mil evitaram ir a uma urgência hospitalar.
Em entrevista à Renascença, João Oliveira diz que o SNS 24 nunca recebeu tantas chamadas como neste início do ano. Em apenas 16 dias, evitou que 100 mil pessoas fossem às urgências, numa altura em que os serviços estão muito pressionados por causa das infeções respiratórias.
O coordenador da Linha SNS 24 (808 24 24 24) adianta, ainda, que tem nesta altura 2.300 profissionais em bolsa de atendimento prontos para serem ativados e 900 em formação, entre os quais, os primeiros farmacêuticos, cuja contratação foi aprovada recentemente pelo Ministério da Saúde para responder ao aumento da procura.
Desde que o novo modelo de urgências de obstetrícia entrou em vigor, há cerca de um mês, a Linha SNS 24 triou 16 mil grávidas. Cerca de oito em cada 10 foram encaminhadas para a urgência. Estes números eram previsíveis?
Sim. Desde que a Linha SNS Grávida foi criada, em 1 de junho de 2024, registámos mais de 85 mil triagens. Desde que entrou em funcionamento o novo modelo de urgências obstétricas – há cerca de um mês – 16 mil utentes ligaram primeiro para a Linha da Saúde. Praticamente, 4 mil utentes conseguiram uma resposta fora dos serviços de urgência, seja porque permaneceram em casa, em autocuidados e com chamadas de seguimento, ou porque foram encaminhadas para cuidados primários, inclusivamente com consulta marcada. Estes são dois dados que estamos a monitorizar e que consideramos muito vantajosos neste novo modelo.
“Só” duas em cada 10 mulheres é que não precisaram de ir a um hospital, significa isto que as grávidas não fazem um uso abusivo das urgências?
O que nós podemos dizer é que através desta linha conseguimos rastrear previamente as grávidas e perante a sua gravidade clínica, tentamos sempre encontrar a resposta mais adequada. Por isso é que é tão importante este contato prévio.
No início do novo modelo de urgências – que obriga as grávidas a ligarem sempre para o SNS 24 – houve muitas queixas de atrasos no atendimento. Esse problema foi resolvido?
Sim, o que nós podemos dizer é que esses relatos estão em linha com a procura que o Serviço Nacional de Saúde tem neste período de inverno. Não só o SNS 24, mas todo o SNS regista maior procura, até pela circulação dos vírus respiratórios que causam mais infeções neste período. E, portanto, neste período temos feito um reforço, de profissionais de saúde.
Temos, nesta altura, mais de 2.300 profissionais em bolsa de atendimento prontos para serem ativados e temos cerca de 900 em recrutamento e formação que serão integrados assim que possível na bolsa. Relativamente aos tempos de espera, obviamente que existem dias, nomeadamente durante o período de inverno, em que os tempos de espera são um pouco mais alargados do que no resto do ano. Mas também podemos dizer que mais de 50% das chamadas até ao dia de ontem [quinta-feira] foram atendidas até 5 minutos, o que reflete o reforço que temos vindo a fazer e que diariamente adaptamos para a Linha responde melhor.
E destes novos profissionais quantos é que são enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstétrica?
Neste momento não tenho esse dado, o que lhe posso dizer é que todos os enfermeiros e farmacêuticos que nós recrutamos têm formação obrigatória. Nenhum profissional de saúde pode operar neste serviço sem ter a devida formação. O que nós temos feito é que profissionais com menos experiência ficam com situações mais fáceis e menos complexas na triagem e profissionais que têm mais experiência, ficam com as situações mais complexas. Portanto, a transferência entre profissionais ocorre de maneira muito suave e completamente transparente no serviço.
O SNS 24 tem cada vez mais solicitações: a triagem de grávidas, o projeto “Ligue Antes Salve Vidas”, a resposta a pessoas com problemas respiratórios agudos, atendimento psicológico. Essa bolsa de profissionais é suficiente para responder ao aumento da procura?
O recrutamento não é um processo pontual no SNS 24, acontece durante todo o ano porque a procura não é estável. O recrutamento em alguns períodos, nomeadamente, no Inverno tem de ser acelerado face à procura, mas o dimensionamento é feito dia a dia.
À medida que a procura aumenta nós aumentamos a nossa população de atendimento que em 90% dos casos é constituída por enfermeiros. Agora estamos a trabalhar com outras Ordens para conseguirmos integrar outro tipo de profissionais de saúde.
Já recrutaram médicos e farmacêuticos? Quantos?
Apenas farmacêuticos. Na sequência do despacho da secretária de Estado da Gestão da Saúde – que autoriza a contratação de farmacêuticos para a Linha SNS 24 – estamos no processo de recrutamento e formação.
A Linha Saúde 24 têm batido recordes. No ano passado fez 3,5 milhões de atendimentos. Só em dezembro foram 500 mil. E há, até pelo projeto “Ligue Antes Salve Vidas”, um novo perfil de pessoas a ligar. Que tipo de pessoas é que ligam agora?
Sim, relativamente aos primeiros 16 dias deste ano, nós atendemos mais de 313 mil chamadas, o que mais do que duplica os números do período homólogo do ano passado, em que estávamos a atender cerca de 153 mil. São números muito significativos que prova que, apesar da nossa procura ter duplicado, nós continuamos com capacidade de resposta 24 sobre 24 horas.
Adicionalmente, o projeto “Ligue Antes Salve Vidas” – implementado em 25 ULS – obriga pessoas que antigamente não tinham o hábito de nos ligar a fazê-lo antes de recorrerem a uma urgência. E isso mudou o perfil do utente: agora durante o inverno estamos a ter uma população mais nova, até porque somos contactados pelos responsáveis pelas crianças e pelos idosos por causa de infeções respiratórias. Esta mudança faz com que todas as pessoas, em qualquer situação aguda não emergente, nos contactem.
O projeto “Ligue antes, Salve Vidas” implica que quando a pessoa precisa de uma consulta ela é marcada via SNS 24 nas 24 ou 48 seguintes. Têm conseguido fazer isso mesmo nas zonas, como Lisboa, onde há falta de médicos de família?
Sim. Quando há necessidade de encaminhamento para cuidados primários o doente termina a chamada do SNS 24 com uma hora de consulta agendada no centro de saúde. Não estamos a falar de consultas de vigilância clínica, nem pouco mais ou menos, são unicamente consultas que estão disponíveis ao nível dos cuidados de saúde primários dentro das regras do projeto. Desde o início do projeto já agendamos mais de 290 mil consultas, obviamente, na totalidade das 25 ULS que aderiram ao modelo.
Em relação à Linha Saúde 24, portanto, mais de metade dos utentes que ligam (52%) não necessitam de ir a uma urgência. São quantos doentes que deixaram de ir a uma urgência?
Neste momento, estamos a atingir o valor mais alto de sempre, de encaminhamentos para cuidados primários, obviamente que o projeto “Ligue Antes, Salve Vidas” tem aqui um papel determinante.
Nos 16 primeiros dias de 2025, mais de 100 mil utentes não necessitaram de ir ao serviço de urgência, ficaram em autocuidados ou seguiram para cuidados de saúde primários.
E teleconsultas no SNS24 já começaram a ser marcadas?
As teleconsultas são um projeto que está em fase piloto. Já estamos a agendar e a fazer algumas mas o sistema ainda está a ser monitorizado de forma muito próxima e muito fina e brevemente, quando tivermos o sistema mais estável, faremos a divulgação dos dados.
O novo modelo de triagem para grávidas completou agora um mês, é um projeto piloto que vai durar três. Na sua opinião, precisa de algumas melhorias ou pode continuar como está e ser alargado ao resto do país?
Isso está a ser aferido pelo Ministério da Saúde e pela Comissão Nacional de Saúde da Mulher, Criança e Adolescente e, portanto, dentro de algumas semanas será feito esse balanço. As decisões serão tomadas ao nível do Ministério da Saúde.
Mas, na sua opinião, o sistema está a funcionar?
Sejam grávidas, crianças ou outros doentes, sempre que evitamos uma deslocação desnecessária ao hospital estamos a otimizar o tempo de resposta dos serviços de urgência para quem efetivamente precisa e isso será sempre uma vantagem em todo o nosso sistema de saúde.
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