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O que a ciência diz?

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Crédito: Unsplash/CC0 Domínio Público

Uma vez marginalizadas na década de 1970, as substâncias psicadélicas – desde a esketamina (um derivado da cetamina) e a psilocibina (o ingrediente activo dos cogumelos alucinogénios) até ao MDMA – estão a ser reintroduzidas como potenciais terapias para perturbações psiquiátricas graves.

Antidepressivos psicodélicos aprovados

Os antidepressivos à base de esketamina foram aprovados em países como a França e os Estados Unidos, onde o dextrometorfano também é utilizado. A Austrália deu um passo além, concedendo aprovação regulatória ao MDMA e à psilocibina para tratar certas condições psiquiátricas.

No entanto, uma análise conduzida por investigadores da Universidade de Rennes sugere que as provas científicas que apoiam estes tratamentos são fracas. Estas substâncias também acarretam riscos significativos, incluindo uso indevido e vulnerabilidades associadas ao estado mental do paciente.

Não é novo, mas está de volta

Os alucinogénios são agora apresentados como um avanço no tratamento de perturbações psiquiátricas graves, como a depressão ou a perturbação de stress pós-traumático, por vezes em combinação com psicoterapia.

Apesar de serem apresentados como inovações, o potencial terapêutico dos psicodélicos não é uma descoberta nova. Nas décadas de 1960 e 70, estas substâncias foram exploradas para uso médico, mas rapidamente caíram em desuso devido a restrições regulamentares.

Agora, em 2024, a questão permanece: os psicodélicos são genuinamente eficazes no tratamento de transtornos psiquiátricos? Um painel internacional de especialistas – dois psiquiatras, um especialista em dependência e três psicólogos, apoiados por investigadores da Universidade de Rennes – revisou os ensaios clínicos para fornecer informações.

Desafios da avaliação de psicodélicos em ensaios clínicos

Psicodélicos como MDMA e psilocibina já foram aprovados em regiões como EUA, Europa e Austrália. No entanto, avaliar a sua eficácia apresenta desafios únicos, particularmente no quadro rigoroso dos ensaios duplo-cegos.

Nos testes tradicionais de medicamentos, dois grupos de pacientes são comparados: um recebe o medicamento, enquanto o outro recebe um placebo ou tratamento padrão. Para garantir resultados imparciais, nem os pacientes nem os médicos sabem quem está recebendo qual tratamento.

Com psicodélicos, esse método falha. Os seus efeitos inequívocos – alucinações, percepções alteradas e dissociação – tornam quase impossível manter a “cegueira” dos grupos de estudo, potencialmente distorcendo os resultados.

Aprovações aceleradas comprometem o rigor científico.

Os psicodélicos são frequentemente considerados tratamentos de último recurso para pacientes que não respondem às terapias convencionais. Como resultado, os organismos reguladores dependem frequentemente de vias de aprovação aceleradas para acelerar a sua disponibilidade. Infelizmente, esses caminhos normalmente exigem evidências científicas menos robustas do que os processos de aprovação tradicionais – uma tendência que suscita preocupações.

Algumas falhas em artigos científicos

A análise identificou várias deficiências nos estudos sobre tratamentos psicodélicos:

  • Erros foram frequentemente observados, às vezes nos títulos dos artigos publicados.
  • Os benefícios dos psicodélicos eram frequentemente exagerados.
  • Os ensaios geralmente envolveram pequenas amostras de pacientes e foram conduzidos durante breves períodos, limitando a sua relevância mesmo em ensaios em fase final.
  • Os pesquisadores não conseguiram abordar adequadamente as limitações dos protocolos duplo-cegos para psicodélicos.

Riscos subestimados

Segundo os autores do artigo, estas lacunas têm consequências graves: dificultam uma avaliação minuciosa não só dos efeitos a longo prazo destes compostos, mas também dos riscos de segurança, particularmente aqueles relacionados com efeitos secundários graves que podem ocorrer em pacientes durante tratamento.

Na verdade, os alucinógenos, devido aos seus mecanismos de ação variados e ainda pouco compreendidos, apresentam riscos potenciais significativos que devem ser cuidadosamente avaliados. A sua utilização em psicoterapia introduz riscos adicionais de abuso e coerção, uma vez que o uso de alucinogénios pode aumentar a vulnerabilidade dos pacientes.

Notavelmente, houve relatos de efeitos colaterais psiquiátricos preocupantes (como dissociação e pensamentos suicidas) em indivíduos tratados com escetamina para depressão resistente ao tratamento. O uso crônico de cetamina e seus derivados também pode causar distúrbios urinários. Substâncias como a psilocibina e o MDMA também podem causar efeitos secundários cardiovasculares graves, especialmente através dos seus metabolitos.

Recomendações para práticas mais seguras

Os autores do estudo enfatizam a necessidade de uma regulamentação mais rigorosa e de protocolos de ensaios clínicos aprimorados. Eles instam as autoridades de saúde a abandonarem os processos de aprovação acelerados e a adoptarem medidas mais rigorosas para garantir que os benefícios dos psicadélicos superam os seus riscos.

Ao abordar estas preocupações, os investigadores e reguladores podem proteger melhor os pacientes enquanto exploram o potencial terapêutico destas poderosas substâncias.

Fornecido por A Conversa

Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.A conversa

Citação: Alucinógenos aprovados para tratamento de transtornos psiquiátricos: o que diz a ciência? (2024, 28 de dezembro) recuperado em 28 de dezembro de 2024 em https://medicalxpress.com/news/2024-12-hallucinogens-psychiatric-disorders-science.html

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