VIH em Portugal. Um terço dos novos infetados tem menos de 30 anos
Portugal continua a ter uma taxa de novos diagnósticos de infeção por HIV e de SIDA acima da média da União Europeia. E, à semelhança de anos anteriores, continuam, em muitos casos, a ser tardios.
De acordo com o mais recente relatório da Direção-Geral da Saúde, a que a Renascença teve acesso, foram diagnosticados, até junho, 924 casos de HIV – mais 120 do que no ano anterior – e 128 de SIDA. Houve 111 mortes, 40% das quais depois de 20 anos de diagnóstico.
A maior parte dos novos infetados são homens e um terço (32,4%) tem menos de 30 anos. Mais de metade (53,1%) nasceram no estrangeiro, mas 8 em cada 10 (70,9%) contraíram a infeção em Portugal.
Há quase três casos de homens com HIV por cada mulher, sendo que na esmagadora maioria das situações a infeção aconteceu por via sexual (96,1%), predominando a transmissão heterossexual (54%), embora seis em cada 10 casos sejam homens que têm sexo com homens.
Cerca de metade (48,6%) foram detetados na Área Metropolitana de Lisboa tendo a região Norte apresentado a segunda taxa mais elevada de diagnósticos.
Quatro em cada 10 casos diagnosticados não tinham sintomas (61,5%), mas tal como em anos anteriores há uma elevada proporção de diagnósticos tardios, sobretudo, chegaram tardiamente, sobretudo, em pessoas com mais de 50 anos.
Nas quatro décadas da epidemia VIH (1983-2023), foram notificados em Portugal 68627 casos de infeção por VIH, dos quais 23 955 atingiram estádio SIDA. Contudo, o número de casos em que os diagnósticos da infeção e de SIDA ocorreram em Portugal foi, respetivamente, 64 928 e 23 703. Entre 2014 e 2023 observou-se uma redução de 36% no número de novos casos de infeção por VIH e de 66% em novos casos de SIDA,
De acordo com as estimativas da DGS, em 2022 viviam em Portugal, viviam 46 764 pessoas com infeção por VIH, 95,0% das quais estavam diagnosticadas, o que indica que Portugal atingiu o primeiro objetivo da ONUSIDA.
Diagnósticos tardios
Tal como nos anos anteriores, mantem-se uma elevada proporção de diagnósticos tardios, com particular expressão entre os homens heterossexuais e as pessoas com 50 ou mais anos.
Em 2023, foram distribuídos cerca de sete milhões de preservativos externos e internos e mais de um milhão e novecentas mil embalagens de gel lubrificante.
O Programa Troca de Seringas (PTS) que assinala este ano, 30 anos desde a sua implementação, permitiu a distribuição de mais de sessenta e quatro milhões de seringas entre a população de utilizadores de drogas injetadas.
No que diz respeito à Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao VIH, 2023 registou um aumento significativo no número de pessoas abrangidas por esta importante estratégia de prevenção, atingindo-se um total de cerca de seis mil e novecentas pessoas, maioritariamente homens e que referem práticas sexuais com outros homens.
Foram realizados cerca de oitenta e nove mil testes rápidos para VIH em diversas estruturas de saúde e estruturas comunitárias, verificando-se um aumento significativo do número de testes rápidos realizados, em comparação com o ano de 2021. Adicionalmente, em 2023 foram prescritos mais de trezentos e noventa mil testes no âmbito dos cuidados de saúde primários e dispensadas mais de doze mil unidades de autoteste para VIH pelas farmácias comunitárias, entre outubro de 2019 e dezembro de 2022.
Num estudo sobre o conhecimento e estigma relacionado com VIH entre profissionais de saúde em Portugal, com uma amostra de 807 profissionais de saúde, em 2023, apenas 34% demonstraram conhecimento elevado sobre a infeção, sendo alguma forma de estigma identificada em 31% dos casos.
A falta de formação específica e de experiência prática com PVVIH foram os principais fatores associados ao estigma. O estudo destaca a importância de intervenções educativas e políticas institucionais para combater a discriminação e melhorar a qualidade do atendimento às pessoas que vivem com VIH.
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