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“O médico de família é central na adesão às vacinas antigripais”

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Como vê a decisão de antecipar a vacinação antigripal em relação aos anos anteriores? Acredita que terá impacto na redução da sobrecarga do sistema de saúde durante o outono-inverno?
Honestamente, acredito que sim, e que poderá levar a um aumento do número de pessoas a aderir à vacina antigripal. A antecipação da vacinação pode ser uma medida estratégica eficaz, especialmente no contexto da pressão sazonal sobre o sistema de saúde durante o outono e inverno. Há algumas razões pelas quais essa decisão pode ter um impacto positivo na redução da sobrecarga do sistema de saúde: proteção precoce e maior cobertura vacinal, redução da sobrecarga do sistema de saúde, impacto na co-circulação de outros vírus e na redução do absenteísmo e manutenção das atividades económicas. Se bem implementada, a antecipação pode ser uma peça importante na estratégia de saúde pública para enfrentar as pressões sazonais e, assim, proteger tanto a saúde da população quanto a capacidade de resposta dos serviços de saúde.

 

O número de pessoas que aderem a esta vacina ainda não é o ideal?
Ainda não é o ideal! Já é um número bastante bom, certamente mais elevado do que em muitos outros países, mas considero que ainda podemos ser mais ambiciosos de forma a protegermos ainda mais a nossa população. Atendendo ao facto de a nossa população estar cada vez mais envelhecida — ou seja, cerca de ¼ tem pelo menos mais de 60 anos — são estas pessoas quem mais beneficia, tal como as de alto risco, com doenças crónicas associadas, que as tornam mais suscetíveis a desenvolver a gripe.

De qualquer forma, não deixo de salientar que a vacinação antigripal está indicada para todas as pessoas a partir dos 6 meses de idade e não apenas para as maiores de 60 anos ou de alto risco.
Como é sabido, a vacina é eficaz, fundamentalmente, para reduzir não apenas o risco de desenvolver doença, mas também o de desenvolver doença grave e complicações que possam levar à morte, assim como o risco de descompensar doenças crónicas que as pessoas tenham controladas. Isto sim, é importante.

 

“A vacinação antigripal está indicada para todas as pessoas a partir dos 6 meses de idade e não apenas para as maiores de 60 anos ou de alto risco”

 

Qual o benefício clínico ou imunológico em iniciar a vacinação contra a gripe mais cedo, especialmente para grupos de risco?
Sabendo que, de forma geral, a gripe surge, geralmente, no final/início do ano, a toma antecipada da vacinação permite dar tempo ao organismo para criar uma resposta imunológica mais eficaz e que mais pessoas podem ser imunizadas antes do pico da temporada de gripe, o que permite uma proteção mais abrangente da população. Quando somos vacinados, não ficamos totalmente imunes logo no dia seguinte. O nosso organismo precisa de duas a quatro semanas para atingir o nível de maior eficácia na neutralização do vírus.

Portanto, permite que a pessoa esteja no máximo da sua capacidade imunológica durante um surto de gripe, evitando infeções graves, hospitalizações e complicações associadas, como pneumonias e agudizações de doenças crónicas.

 

Qual é a importância da introdução da vacina de dose elevada para pessoas com 85 anos ou mais? Em que casos esta dose elevada pode ser mais vantajosa do que a dose padrão?
Idealmente, a vacina de dose elevada deveria, pelo menos, ser recomendada a pessoas com idade superior a 65 anos.

As pessoas acima dos 85 anos são um grupo de maior fragilidade, com mais dificuldade em produzir anticorpos. Mas, os indivíduos com mais de 65 anos, que tenham doenças que levem a uma redução da imunidade, para além da imunossenescência, também precisam de uma vacina com dose elevada, para preparar o organismo para neutralizar o vírus de forma mais eficaz quando estiver em contacto com ele; ou então de uma vacina com adjuvante, outra técnica para potenciar a produção de anticorpos para uma determinada dose vacinal.

Mas, respondendo à questão, é importantíssimo, porque dá mais garantias de que as pessoas mais frágeis, ou seja, com mais de 85 anos, criem uma resposta imunológica efetiva quando estiverem em contacto com o vírus da gripe. Além disso, sabemos que a vacina de dose elevada é mais efetiva na redução do risco de doença, bem como na redução das hospitalizações.

 

“A vacina de dose elevada deveria, pelo menos, ser recomendada a pessoas com idade superior a 65 anos”

 

Sendo que a vacinação é a forma mais eficaz de prevenir a gripe ou as suas consequências, como é que os médicos de família e outros profissionais de saúde podem melhorar a comunicação com os seus utentes sobre a importância da vacinação, especialmente quando falamos de pessoas que podem ter receios ou dúvidas em relação às vacinas?
O papel do médico de família na vacinação, em geral, e em particular na da gripe — e agora também da covid-19, que muitas vezes está associada — é fundamental. Devem adotar uma abordagem empática e proativa, recomendando a vacina em consultas de rotina e personalizando a mensagem para cada utente, baseada em evidências, e que se foque nas preocupações individuais dos utentes. Melhorar a comunicação através de educação acessível, desmistificação de mitos, promoção ativa da vacina e o uso de testemunhos pessoais pode contribuir para um aumento da confiança e adesão à vacinação.
Por um lado, os médicos devem ter um conhecimento suficiente acerca destas vacinas dos seus benefícios e da sua real importância. Por outro lado, devem cumprir e aderir às recomendações, neste caso específico, de Portugal.

Depois, é importante que tenham um discurso acessível aos doentes, no sentido de os motivarem para o benefício da vacinação, para que não corram riscos desnecessários e para prevenir descompensações desnecessárias caso tenham doenças crónicas e sejam infetados com o vírus da gripe. Esta educação dos doentes para a importância das vacinas é muito relevante.

Também existem campanhas, como as da Direção-Geral da Saúde (DGS), folhetos informativos ou vídeos, mensagens por SMS, e-mails ou aplicações de saúde, mas a recomendação do médico de família tem mais impacto na adesão. É preciso que o profissional tenha uma comunicação clara acerca dos benefícios e da segurança das vacinas, utilizando, por exemplo, ferramentas digitais ou recursos educacionais, alguns produzidos pela DGS, pela Organização Mundial de Saúde ou por outras organizações com alta credibilidade internacional.

Se o doente mostrar algum receio ou preocupação, o médico deve responder adequadamente, desmistificando mitos, receios, dúvidas ou informações incorretas. Ou seja, o médico tem um papel determinante, que acredito que faz a diferença nas taxas de adesão.

 

É uma questão de confiança?
Sim, é uma questão de confiança! O que faz a diferença no aumento da taxa de vacinação é a recomendação do médico. O seu papel é central no aumento da adesão e da confiança nas vacinas, que, de uma forma geral, são eficazes e seguras.

A grande mensagem é exatamente essa: Isto pode levar à criação de valor e ganhos em saúde para as pessoas de quem cuidamos.

É preciso recomendar; o doente decide, mas temos que recomendar e incentivar, porque isso pode criar valor para a pessoa, para o sistema de saúde, para os cidadãos e para a sociedade como um todo.

 

E relativamente aos profissionais de saúde, o que é que se pode fazer para que passem a tomar também a vacina, uma vez que alguns ainda são muito relutantes?
A vacinação é algo muito importante a que tanto os médicos, como os enfermeiros, os auxiliares, os farmacêuticos e até os cuidadores de lares devem aderir. Muitas vezes, não é para benefício direto dos próprios — embora também o seja —, mas também coletivo, para evitarem ser transmissores do vírus para as pessoas mais vulneráveis de quem cuidam.

Podemos não desenvolver a doença, mas transmitir o vírus a quem venha à nossa consulta. Portanto, é importante que os profissionais de saúde se vacinem para quebrar esta cadeia de transmissão.

Faz todo o sentido. Esse é um caminho ainda por fazer, porque a taxa de adesão dos profissionais ronda os 50%.

 

Porquê?
Penso que as pessoas ainda não incorporaram que o grande benefício não é estritamente pessoal, mas público. Ou seja, eu, nas minhas funções de cuidar dos doentes e na relação de proximidade que tenho com os mesmos, posso transmitir-lhes o vírus. O profissional pode não ter problemas, mas o doente pode descompensar a sua doença, desenvolver doença grave e necessitar de ser hospitalizado. Pode, inclusive, no seguimento desse processo, falecer.

 

Sílvia Malheiro

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Fonte: Saúde Online

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