Cancro do pulmão. “O maior desafio é diagnosticar”
Porquê o tema “Personalização e Multidisciplinaridade” neste evento do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão?
Com todas as evoluções que têm existido e continuam a surgir diariamente no diagnóstico, estadiamento, tratamento e seguimento do cancro do pulmão, a sua abordagem tem que ser feita por um conjunto de profissionais que decidem o melhor tratamento para AQUELE doente com AQUELE tumor, NAQUELE momento. Só assim se consegue uma abordagem cada vez mais personalizada e eficaz.
Quais os principais desafios que se enfrentam, atualmente, no combate ao cancro do pulmão?
Nos estádios mais avançados, em que são detetados a grande maioria dos tumores, o desafio é conseguir-se prolongar a sobrevivência, com boa qualidade de vida, tentando assim transformar esta patologia numa doença crónica. Nos estádios mais precoces, uma abordagem multidisciplinar permite a utilização combinada de várias terapêuticas (cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e terapêutica molecular) escolhidas para cada caso, aumentando também aqui de forma significativa a sobrevivência dos doentes, atrasando a possível recidiva ou progressão da doença.
Mas o maior desafio que temos pela frente é conseguirmos diagnosticar o mais precocemente possível, através da implementação de um programa de rastreio a nível nacional, que comprovadamente leva a uma diminuição da mortalidade por esta doença. Não nos podemos ainda esquecer do papel fundamental da prevenção, através da instituição de modos de vida saudáveis, nomeadamente com a evicção tabágica.
“Somos treinados para tratar, não para estar doentes, e é disso que vamos ouvir falar na palestra “Cuidar de nós para poder cuidar””
Vão dar destaque à qualidade de vida dos doentes. A perspetiva dos doentes pode diferir da dos clínicos como têm indicado alguns trabalhos neste âmbito?
A qualidade de vida é fundamental. Só tem interesse em prolongar a vida se for vivida com qualidade, e quando falamos de bem estar do doente, falamos de bem estar físico, mental e social. É verdade que a perspetiva dos doentes pode diferir das dos clínicos, porque cada doente é único, e é essa também a razão por que cada vez mais se utilizam os PROs (Patient Reported Outcomes), que nos permitem avaliar o impacto dos tratamentos em muitas situações para as quais as medições fisiológicas não existem ou são limitadas (dor, fadiga, disfunção sexual, ansiedade, náuseas,…).
O burnout dos profissionais de saúde é um tema constante nos últimos tempos e vão falar sobre esse tema. Que medidas devem ser tomadas?
Vivemos tempos difíceis, em que existe uma sobrecarga de todos os profissionais de saúde, levando a situações extremas de cansaço físico e emocional que podem transformar-se em burnout. É uma realidade que tem que ser encarada, prevenida e tratada. Geralmente, o profissional só se apercebe da sua situação num estádio já muito avançado, o que torna depois o tratamento mais complexo. Somos treinados para tratar, não para estar doentes, e é disso que vamos ouvir falar na palestra “Cuidar de nós para poder cuidar”. É a mensagem que também pretendemos passar na caminhada que vai decorrer no segundo dia do congresso (esperamos que não chova!!), “Steps of hope – cuidar de si para cuidar dos outros”
Haverá um momento para os enfermeiros. O que gostaria de destacar?
Gostaria de destacar o que no fundo todos sabemos: os enfermeiros são uma peça fundamental no acompanhamento destes doentes. Só um trabalho em conjunto na prática clínica do dia a dia entre médicos e enfermeiros permite tratar bem os doentes. Mais uma vez a multidisciplinaridade está presente. O programa de enfermagem foi preparado e desenhado pelos enfermeiros e toca em temas complementares do programa geral e tão importantes como a prevenção e diagnóstico, qualidade de vida, do tratamento ao fim de vida.
MJG
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