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Inflamação pode ligar gravidade da COVID-19 ao aparecimento de sintomas neurológicos

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Inflamação pode ligar gravidade da COVID-19 ao aparecimento de sintomas neurológicos

Achados representativos de neuroimagem pareada e TC de tórax de pacientes com COVID-19 apresentando sintomas neurológicos. Crédito: Cérebro, Comportamento e Imunidade – Saúde (2024). DOI: 10.1016/j.bbih.2024.100805

A COVID-19 é conhecida principalmente por seus efeitos no sistema respiratório, mas suas consequências vão muito além disso. Um estudo recente, publicado no periódico Cérebro, Comportamento e Imunidade — Saúde e realizado no Instituto D’Or de Pesquisa e Educação (IDOR), revelou alterações moleculares que podem estar por trás dos sintomas neurológicos exibidos por alguns pacientes afetados pela doença, destacando a importância de entender melhor essas potenciais consequências ainda pouco conhecidas da COVID-19.

A COVID-19 continua sendo uma doença preocupante mesmo após o fim de sua fase pandêmica. Somente no primeiro semestre de 2024, ela foi responsável por mais de 3.000 mortes no Brasil. Além disso, a literatura científica vem documentando extensivamente os efeitos deletérios da infecção mesmo após a recuperação dos pacientes, uma condição agora conhecida como “COVID longa”.

COVID longa se refere a uma série de sintomas persistentes que permanecem ou surgem após a fase aguda da doença. Mesmo após a recuperação dos sintomas respiratórios, os pacientes podem continuar a enfrentar desafios significativos, especialmente em relação à saúde neurológica. Uma parcela significativa dos sobreviventes da COVID-19, mesmo aqueles que tiveram casos leves, podem apresentar declínio cognitivo e dificuldade de concentração por longos períodos após a infecção. Isso torna importante estudar como a doença afeta o cérebro mesmo na fase aguda, pois isso pode fornecer pistas sobre essas sequelas neurológicas.

Durante a infecção, os sintomas neurológicos mais comuns são dores de cabeça, fadiga, perda do olfato e complicações ainda mais graves, como derrames e encefalite. Investigar essas manifestações é crucial, pois ainda sabemos pouco sobre os mecanismos que levam a essas complicações e como elas se desenvolvem.

Como o estudo foi conduzido

Buscando biomarcadores que pudessem fornecer pistas sobre os processos neuroinflamatórios na COVID-19, pesquisadores do IDOR analisaram dados de pacientes confirmados com COVID-19 que estiveram internados na Rede D’Or entre abril e novembro de 2020.

A amostra incluiu 35 pacientes com idades entre 26 e 87 anos, divididos entre casos moderados e graves, todos apresentando sintomas neurológicos significativos durante a infecção aguda pela COVID-19. Os dados foram coletados de prontuários médicos e incluíram exames de imagem (ressonância magnética e tomografia computadorizada), exames de sangue e análise do líquido cefalorraquidiano (LCR) — um fluido que envolve o cérebro e a medula espinhal. Dez amostras de LCR de pacientes não infectados serviram como grupo controle.

Descobertas revelam inflamação cerebral significativa

A análise revelou que a maioria dos pacientes tinha pelo menos uma comorbidade, com 65,7% tendo duas ou mais. Cerca de 85,7% dos pacientes apresentaram sintomas neurológicos no momento da admissão hospitalar, um quadro clínico que foi ainda mais pronunciado do que os sintomas respiratórios.

Exames de imagem mostraram que 28,6% dos pacientes apresentaram alterações cerebrais focais ou difusas associadas à COVID-19, incluindo lesões desmielinizantes, encefalite e acidente vascular cerebral.

Os exames de sangue indicaram que 66% dos pacientes apresentaram sinais de uma resposta inflamatória exacerbada. As análises proteômicas do LCR revelaram um padrão de proteína alterado em comparação aos controles, com 116 proteínas significativamente desreguladas relacionadas ao sistema imunológico e aos processos metabólicos.

Citocinas pró-inflamatórias estão associadas à gravidade da doença

Os níveis de duas citocinas pró-inflamatórias, IL-6 e TNFα, estavam elevados no LCR de pacientes com COVID-19, com a IL-6 sendo particularmente mais alta em casos graves. Essas citocinas estão associadas à gravidade da doença e às alterações observadas em exames de imagem.

A Dra. Fernanda Aragão, pesquisadora de pós-doutorado do IDOR e primeira autora do estudo, comenta que a pesquisa é uma das primeiras a conectar exames de imagem e sintomas neurológicos com biomarcadores neuroinflamatórios capazes de refletir a gravidade da doença aguda, uma complicação que ainda é difícil de prever.

Apesar da distinção de gravidade encontrada a partir desses biomarcadores, a pesquisadora ressalta que a neuroinflamação é independente da gravidade da doença e pode ser uma das principais causas de distúrbios neurológicos associados à COVID-19. Ela ressalta que mesmo pacientes com casos mais leves apresentaram alterações significativas no LCR, sugerindo que a resposta inflamatória do corpo pode afetar o cérebro de maneiras ainda não totalmente compreendidas.

“Este estudo revela que a neuroinflamação é um fator comum em casos neurológicos da doença, mesmo em pacientes com condições diversas, sejam moderadas ou graves. Identificar esses marcadores inflamatórios que conectam a gravidade da COVID-19 e as alterações de neuroimagem pode ser muito importante para o desenvolvimento de terapias voltadas tanto para o tratamento de infecções agudas por COVID-19 quanto para o enfrentamento dos efeitos persistentes do que é conhecido como COVID longa”, acrescenta o autor.

Implicações para tratamento e monitoramento de longo prazo

Essas descobertas destacam a necessidade de monitoramento de longo prazo de pacientes que tiveram COVID-19, especialmente aqueles em risco de desenvolver complicações neurológicas persistentes. Uma melhor compreensão desses mecanismos pode ajudar a desenvolver estratégias de tratamento e prevenção mais eficazes no futuro.

A pesquisa do IDOR fornece insights valiosos sobre os impactos neurológicos da COVID-19 e abre caminho para estudos futuros que explorem essas descobertas mais profundamente e em populações maiores.

Assim, a investigação contínua sobre as consequências neurológicas da COVID-19 é apresentada como um investimento crucial, especialmente com a evolução de novas variantes e a implementação de programas de vacinação, para garantir que os efeitos de longo prazo da pandemia sejam adequadamente compreendidos e abordados.

Mais informações:
Fernanda GQ Barros-Aragão et al, Alterações em biomarcadores neuroinflamatórios correlacionam-se com a gravidade da doença e alterações de neuroimagem em pacientes com complicações neurológicas da COVID-19, Cérebro, Comportamento e Imunidade – Saúde (2024). DOI: 10.1016/j.bbih.2024.100805

Fornecido pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Educação

Citação: A inflamação pode vincular a gravidade da COVID-19 ao início dos sintomas neurológicos (26 de agosto de 2024) recuperado em 27 de agosto de 2024 de https://medicalxpress.com/news/2024-08-inflammation-link-covid-severity-onset.html

Este documento está sujeito a direitos autorais. Além de qualquer uso justo para fins de estudo ou pesquisa privada, nenhuma parte pode ser reproduzida sem permissão por escrito. O conteúdo é fornecido apenas para fins informativos.

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