O afrodisíaco ‘mel louco’ da Turquia que pode te derrubar

Seus fãs juram que ele pode curar palpitações cardíacas, estômagos embaraçosos e até impotência. No entanto, todos os anos, centenas de pessoas acabam no hospital depois de se empanturrarem com o “mel louco” da Turquia.

Mas o apicultor Bayram Demirciler está convencido de que o mel que as suas abelhas produzem nas montanhas acima do Mar Negro “nunca causou problemas”.

Nos anos bons, suas colmeias na província de Rize, no nordeste da Turquia, produzem até 350 quilos de mel “louco” de rododendro.

O verdejante Alpes Pônticos é o lar de uma subespécie de rododendro cujas flores roxas gotejam pólen que dá a cor ao “mel louco”. Eles também contêm uma neurotoxina chamada grayanotoxina, que pode retardar os batimentos cardíacos e também tem um efeito alucinógeno.

“Este mel é muito bom para pessoas com hipertensão”, disse Mustafa Oguz Alparslan, cujas colmeias – protegidas dos ursos gulosos por uma cerca eléctrica – ficam ainda mais altas nas montanhas, a 1.400 metros (4.600 pés).

Mas coma demais e “também pode causar uma queda rápida da pressão arterial”, alertou o apicultor, que disse sempre “testar o seu mel à medida que o tira da colmeia”.

Nocauteou um urso

Os médicos – que reconhecem as suas virtudes em pequenas doses homeopáticas – dizem que o mel pode retardar o fluxo de sangue para o cérebro, causando tonturas, desmaios e até alucinações.

A intoxicação com “mel louco” foi documentada até na antiguidade.

O historiador grego Estrabão, que nasceu na região do Mar Negro, disse que três das coortes romanas de Pompeu foram colocadas fora de ação por aliados do rei pontiano Mitrídates, que deixaram “potes de mel louco” em seu caminho.

E também apareceu no romance de Agatha Christie, “A Haunting in Venice”, filmado no ano passado por Kenneth Branagh.

A “Rainha do Crime” – que escreveu parte de “Assassinato no Expresso do Oriente” em Istambul – fez com que Rowena Drake matasse a própria filha com ele e até o usou para dar visões ao detetive belga Hercule Poirot.

O mel pode até colocar feras nas costas. Um jovem urso pardo ganhou as manchetes em agosto de 2022, quando foi encontrado inconsciente perto de colmeias na província de Duzce, no outro extremo do Mar Negro da Turquia. Ele desmaiou depois de abusar do “mel louco”, de acordo com o Ministério de Florestas e Agricultura.

No mesmo mês, um motorista de ônibus que viajava entre Rize e a cidade portuária de Trabzon culpou o mel por ele ter desmaiado e batido em carros em um semáforo.

No seu hospital em Trabzon, o professor Abdulkadir Gunduz trata entre “30 e 100” pessoas que foram derrubadas pelo mel em anos difíceis.

O médico disse que é “possível que existam milhares de casos” em toda a região.

“Se tivermos maio e junho ensolarados, as abelhas se deleitarão com os rododendros”, tornando o mel ainda mais forte, disse o professor Gunduz, que há muito pesquisa o assunto.

Um detalhe em particular despertou seu interesse. “Mais de 80% dos pacientes intoxicados são homens com mais de 50 anos. Alguns acreditam que (o mel) melhora o desempenho sexual”, disse ele.

‘Quase morri por nada’

Na sua loja em Cayeli, a 20 quilómetros de Rize, Necmettin Colak recomenda aos seus clientes “tomar uma colher de sopa de mel com o estômago vazio”.

Para clientes mais maduros em busca de um estímulo sexual, ele aconselha seu mel de castanha, que jura ser “mais eficiente”.

Ele armazena seu “mel louco” por vários meses para permitir que seus atributos mais problemáticos se dissipem antes de prová-lo e vendê-lo a 55 euros o quilo.

Mas nem todos tomam tais precauções. Alaattin Demirci, da província de Trabzon, teve de ser levado ao hospital depois de comer um “mel louco” em janeiro de 2021.

Poucos dias depois, o sexagenário postou fotos suas no Facebook, insistindo que “nunca mais” tentaria, dizendo que “quase morreu por nada”.

© 2024 AFP