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HTA. “Devíamos ter uma atitude mais proativa”

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Já se fala de HTA há muito tempo, mas a sua prevalência mantém-se elevada. O que pode estar a falhar nas mensagens de prevenção?

Existem três problemas. Primeiramente, a população geral ainda não percebeu a importância de se vigiar a pressão arterial, o que exige da nossa parte um investimento maior na literacia em saúde. A HTA é uma patologia que não dói, não dá sintomas na maioria das vezes e quando estes surgem já é grave. É preciso medir a pressão arterial com regularidade. Outra questão é o utente que inicia medicação e, como não tem sintomas e se sente bem, deixa de fazer o tratamento. Temos de trabalhar nestes pontos para se melhorar o panorama geral da saúde cardiovascular.

Os fatores de risco clássicos são, de uma maneira geral, conhecidos: excesso de peso, hipercolesterolemia, tabagismo, consumo excessivo de  bebidas alcoólicas, sedentarismo.  Mas nem sempre se adotam os comportamentos mais saudáveis. Isso é visível desde cedo, já que as crianças e os jovens estão mais sedentários e acabam por ter excesso de peso. Em adultos, essa tendência mantém-se, aumentando a probabilidade de virem a ser hipertensos.

Além disso, há ainda os novos fatores de risco, para os quais há cada vez mais evidência científica quanto ao seu impacto na saúde cardiovascular: perturbações da ansiedade, depressão, stress, poluição. Tudo isto contribui para o aumento da pressão arterial.

E existe inércia terapêutica por parte dos profissionais de saúde?

Sim. Perante um doente com um valor no limite, por exemplo uma sistólica de 145 mmHg, existe a tendência de se desculpar, achando que esse valor se deve a uma comida mais salgada ou ao stress de ter ido a correr para a consulta. Mas, muitas vezes, já é mesmo preciso fazer medicação. Devíamos ter uma atitude mais proativa no combate à HTA.

“Não basta envolver médicos, é preciso contar com enfermeiros e farmacêuticos, num trabalho de partilha”

Há novas guidelines para a HTA. O que gostaria de destacar?

Não existem propriamente muitas novidades. O diagnóstico continua a basear-se no consultório, dando-se cada vez mais importância à responsabilização do doente, e fora do consultório mantém-se o recurso a  AMPA/MAPA. Os valores alvo cut-off continuam a ser os mesmos, dependendo obviamente do local onde é feita a medição da pressão arterial. No que diz respeito aos fármacos, não há mudanças nas substâncias, a questão é mais no uso da single pill combination, reforçando-se que a monoterapia deve ser prescrita apenas em situações muito particulares. A população portuguesa, assim como outros europeus, têm um risco cardiovascular moderado, com mais que um fator de risco, o que exige, pelo menos, dois fármacos para controlar a pressão arterial. Nestas guidelines está bem vincado que se deve optar, na maioria dos doentes, pela terapêutica dupla. Como um dos grandes problemas é a não adesão, alerta-se para a relevância da single pill combination de longa ação.

Outro ponto fundamental, e que surge deste vez de forma mais aprofundada do que é habitual, é o follow-up do doente hipertenso, dando-se particular ênfase ao envolvimento de diferentes profissionais de saúde. Não basta envolver médicos, é preciso contar com enfermeiros e farmacêuticos, num trabalho de partilha. Quanto ao timing para se manter o doente controlado, ao fim de três meses de diagnóstico ou de alteração de terapêutica convém existir um bom controlo da patologia. E, obviamente, destaca-se o problema da não adesão, que é a principal causa para não controlo da HTA, e a inércia terapêutica.

E quais são as orientações para os idosos, sobretudo os geriátricos?

Resumindo, as guidelines recomendam que não se olhe para os idosos apenas tendo em conta a idade, mas sim, a sua fragilidade. Há pessoas com 80 anos que ainda têm muitas capacidades e são muito ativos, outras não. Ao contrário do adulto, os mais velhos devem ser medicados somente a partir dos 160 mmHg de sistólica e, após início da terapêutica, não se pode esperar que atinjam valores idênticos aos adultos mais jovens. Também se aborda a desprescrição, já que as artérias tendem a fragilizar-se e pode ser necessário alguns ajustes.

“O maior risco é o dos adultos mais jovens com um valor diastólico mais elevado, aos quais se deve estar atento, e nos que têm um valor no limite”

No dia-a-dia, com a sobrecarga de trabalho e com a falta de condições em muitas unidades, que dicas gostaria de deixar aos colegas de diferentes especialidades para não deixem de dar atenção à HTA?

É uma mensagem de otimismo. Mesmo perante tantas dificuldades, tem sido feito um bom trabalho. Desde o fim da pandemia, o grau de controlo dos doentes hipertensos já melhorou. Há cerca de ano e meio, apenas metade dos utentes hipertensos, em Medicina Geral e Familiar, estavam controlados. De acordo com os últimos dados, já atingimos os 60% de doentes controlados.

A sobrecarga de trabalho é enorme, sem dúvida, mas devem articular-se com outros profissionais de saúde, como enfermeiros de família. O maior risco é o dos adultos mais jovens com um valor diastólico mais elevado, aos quais se deve estar atento, e nos que têm um valor no limite. Temos que ser mais proativos e começar a medicar mais cedo. Em Portugal já temos, felizmente, equipas médico-enfermeiro que vão alternando a vigilância destes utentes, envolvendo-os inclusive na gestão da sua patologia.

 

E quem não tem médico de família?

Deve-se envolver os farmacêuticos, porque são profissionais que estão sensibilizados para este problema de saúde. O seu apoio é uma  mais-valia mesmo para quem têm médico de família. Estes profissionais têm um papel essencial, podendo questionar o doente por que não comprou todas as embalagens, esclarecer dúvidas, propor a medição regular … Caso detetem alguma situação que não esteja controlada, o ideal seria poderem comunicar com o médico de família. Temos muito a melhorar nesta partilha de responsabilidade interpares.

MJG

 

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Fonte: Saúde Online

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