SNS tem problema de gestão. “Tem de se perguntar para onde foi o dinheiro”
Orçamento do SNS aumentou 72% enquanto os salários dos médicos subiram 19%, lembra o novo secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, que desconfia da concretização do plano de emergência para a Saúde do novo Governo.
O novo secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos alertou que “há um problema de gestão” no Serviço Nacional de Saúde (SNS), argumentando que o aumento do orçamento nos últimos nove anos não se refletiu nos salários dos profissionais.
Em entrevista à agência Lusa, Nuno Rodrigues disse que o orçamento do SNS aumentou 72% entre 2015 e 2024, passando de 7.874 milhões de euros para 13.506 milhões de euros.
No mesmo período, o salário bruto de um médico no primeiro grau da carreira subiu 19%, aumentando de 2.746 euros para 3.281 euros.
“Há aqui um problema de gestão e tem de se perguntar para onde foi o dinheiro. Para os médicos não foi claramente. E, portanto, há aqui um problema de gestão que tem de ser resolvido”, disse o especialista em Saúde Pública na primeira entrevista desde que foi eleito secretário-geral, no dia 23 de março, no Congresso Nacional do SIM, substituindo Jorge Roque da Cunha.
Nuno Rodrigues defendeu, por outro lado, que “a forma mais competitiva” do Estado conseguir não ter um aumento da despesa pública em saúde é a contratação coletiva, neste caso, com os médicos.
Questionado se concorda com o recurso aos setores privado e social para aliviar a sobrecarga no SNS, afirmou que o sindicato não vê essa questão como relevante “no sentido de que o mais importante é que as pessoas realmente tenham acesso à saúde em Portugal”.
“Se o SNS for competitivo e o setor social e privado forem supletivos nas falhas que possa haver isso é importante, mas tem de haver um reforço na eficiência do Serviço Nacional de Saúde e na sua competitividade, porque é disso que se trata”, defendeu Nuno Rodrigues que iniciou a atividade sindical em 2015 e fazia parte do secretariado nacional do SIM desde 2018.
O que deve fazer o novo Governo
Sobre o novo Executivo, Nuno Rodrigues disse esperar que, “apesar de ser minoritário, seja um Governo de ação e de medidas concretas” e que “mostre serviço a favor dos portugueses e neste caso da saúde dos portugueses que tão maltratada tem sido”.
O médico apontou como um dos “grande problemas” que tem de ser combatido “as desigualdades” no acesso aos cuidados de saúde.
“O SNS é muito grande e não há um SNS, há vários SNS. Há um SNS para quem está em Lisboa e Vale do Tejo, há um SNS para quem está em Bragança e há um SNS para quem está no Porto. E este é um dos grandes problemas que eu espero ver endereçado por um Governo nacional”, defendeu.
Para Nuno Rodrigues, “não é a fechar as urgências rotativamente ou a alternar o fecho de urgências e limitar o acesso” que se diminui as desigualdades.
“Isso é feito dando condições à fixação de profissionais” nas zonas “mais críticas”, através da melhoria das condições de trabalho, dando mais autonomia e flexibilidade aos médicos.
No que respeita a haver 1,5 milhões de portugueses sem médico de família, considerou que as metas previstas “terão de ser revistas”.
Plano de emergência da AD? “Difícil”
Sobre o “Plano de emergência para a saúde”, previsto no programa eleitoral do atual Governo, para realizar até 2025 e que visa atribuir um médico de família a todos os portugueses e resolver o problema das listas de espera, o sindicalista disse ser difícil que seja concretizado “num prazo tão curto”.
O plano de Montenegro, a ser implementado até ao final de 2025, terá de ser aprovado até junho, ou seja, nos primeiros 60 dias, tal como o novo primeiro-ministro prometeu durante a campanha.
Este plano, assente em três eixos, começaria pela redução dos prazos na marcação de consultas de saúde familiar e pela inclusão da teleconsulta como uma alternativa ao atendimento presencial. Montenegro quer também assegurar enfermeiro e médico de família recorrendo aos setores privado e social.
A rede e incentivos nas urgências seriam redefinidos para “todos os profissionais”, disse Montenegro, que quer atendimento no próprio dia em caso de doença aguda.
“Queremos assegurar um atendimento no próprio dia, quando se trate de doença aguda”, disse, garantindo especial atenção na área da obstetrícia e da pediatria.
Nas consultas de especialidade e cirurgias, sempre que o tempo de resposta ultrapasse uma hora de espera, Montenegro quer instalar a atribuição de um ‘voucher’ para que o utente possa escolher outro prestador do serviço.
“A saúde precisa de alterações estruturais que demoram mais tempo a implementar e a produzir efeitos, mas este plano de emergência tem uma meta: até final de 2025, acabar com listas de espera que excedem o tempo máximo garantido e dar uma resposta de medicina familiar a todos os utentes de Portugal”, disse.
Quanto ao “Plano de motivação dos profissionais de saúde”, que também consta do programa, o dirigente sindical disse esperar que melhore as condições de trabalho dos médicos em termos de material para poder trabalhar, de compatibilização de horários do trabalho com a família.
“Esse conjunto de ações no local de trabalho é que vão realmente trazer também uma maior tranquilidade e uma menor preocupação dos médicos para se focarem no que deve ser o seu único objetivo, que é tratar os doentes”, afirmou ainda.