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A pessoa com deglutição comprometida: intervenção do enfermeiro especialista em Enfermagem de Reabilitação

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A deglutição é um processo fisiológico complexo, a capacidade para ingerir e deglutir os alimentos sólidos, líquidos está dependente da posição e função da orofaringe, esófago, nervos cranianos, cérebro e músculos. A deglutição apresenta duas funções vitais: a nutrição via oral e a proteção das vias aéreas (Cardoso et. al., 2011). É um processo sinérgico, composto por diferentes fases, mas intrinsecamente relacionadas, sequenciais e harmoniosas (Braga, 2016). Qualquer alteração à normal dinâmica da deglutição pode conduzir à disfagia, sendo por vezes a primeira manifestação de determinadas doenças (Miller, 2008; Ferreira, 2018). A deglutição comprometida/disfagia ocorre se existir dificuldade ou alteração neste processo. A perturbação da deglutição está relacionada a algumas complicações, como o aumento de secreções que conduzem à obstrução das vias respiratórias e à pneumonia de aspiração, desidratação devido a alterações de hemoconcentração, medo e receio de comer ou de beber, perda de peso e má nutrição (Hoeman, 2011; Cordeiro & Menoita, 2012).

As estatísticas mundiais referem que a disfagia atinge 60% dos indivíduos idosos que sofrem de doença degenerativa e 30 a 40% daquele que apresentam défices sequelares a um AVC. Portanto, é considerado um problema pertinente para a realidade demográfica e clínica dos utentes internados. A disfagia pode ocorrer em qualquer idade e ter diferentes fatores causais (Chaves et al., 2013). No entanto, estas são agrupadas em causas mecânicas e neurológicas. Encontramos também a disfagia associada ao processo de envelhecimento (presbifagia) e distúrbios gastroenterológicos. Pode ainda ser classificada em disfagia orofaríngea ou esofágica, sendo a orofaríngea a única em que os Enfermeiros de Reabilitação intervêm.

As competências da Enfermagem de Reabilitação abrangem a avaliação e reeducação da deglutição. É missão dos Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Reabilitação (EEER), garantir a manutenção das capacidades funcionais dos utentes, prevenir complicações e evitar incapacidades, melhorar as funções residuais, manter ou recuperar a independência nas atividades de vida e minimizar o impacto das incapacidades instaladas (Ordem dos Enfermeiros, 2011). A avaliação da deglutição permite ao EEER identificar possíveis alterações na deglutição e detém um papel fundamental na identificação e determinação da consistência segura dos alimentos e líquidos, promovendo maior segurança no autocuidado alimentar-se e prevenir complicações.

A disfagia conduz a implicações importantes na pessoa ao nível da nutrição (desnutrição, medo de comer), hidratação (desidratação, medo de beber) e ao nível da saúde pulmonar (WGO, 2014) em que metade dos doentes com disfagia sofre aspiração (Robbins, 2008), e estima-se que destes, cerca de metade, o fazem de forma silenciosa, sem sinais evidentes de disfagia. Além de fator de comorbilidade, a disfagia prolonga o tempo de internamento hospitalar, e consequentemente aumenta o custo de internamento por doente (Santoro, 2008; Almeida et al. 2016) e o risco de mortalidade (Rofes, 2010). Desta forma, a avaliação precoce e rotineira da deglutição, bem como a aplicação de intervenções específicas (compensatórias e terapêuticas) parecem proporcionar um nível mais seguro de cuidados, e reduzir a incidência de complicações relacionadas com a disfunção (Marques, André e Rosso, 2008; Wener, 2010). É importante referir que existem muitos instrumentos validados para a avaliação da disfagia de uma forma não invasiva, no entanto, qual o mais adequado permanece por clarificar (Braga, 2016).

As perturbações da deglutição representam uma causa de morbilidade e mortalidade importante, e as evidências científicas apontam para a importância da deteção precoce destas perturbações. Os Enfermeiros têm um papel crucial junto das pessoas com alterações do padrão de deglutição e familiares/cuidadores, podendo mesmo ser os primeiros técnicos de saúde a detetarem a existência de um problema.

Uma vez concluída a avaliação da deglutição e rasteio da disfagia através de instrumentos de rastreio são formulados diagnósticos de enfermagem e definidas intervenções especificas de Enfermagem de Reabilitação, traçado um plano de intervenção e reabilitação personalizado e individualizado, atendendo a cada pessoa. A elaboração e implementação de um programa de avaliação e reabilitação da pessoa com alterações da deglutição, por parte do EEER constitui uma mais-valia tanto para o utente, quanto para a melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem. Muitas destas complicações podiam ser prevenidas e minimizadas se existisse um maior conhecimento do assunto e uma avaliação frequente da disfagia nos utentes internados. É evidente que as intervenções de enfermagem na avaliação inicial à pessoa com potencial risco de aspiração contribuem para ganhos em saúde para a população e melhoria da qualidade de vida da pessoa e da qualidade das intervenções dos enfermeiros.

A disfagia é uma realidade bem presente nos nossos utentes; é primordial desenvolver fluxogramas e/ou protocolos de atuação que possibilitam uma avaliação rápida e eficaz desta disfunção, permitir uniformizar cuidados e procedimentos de toda a equipe multidisciplinar.

Um rastreio eficaz da deglutição comprometida, assim como providenciar intervenções apropriadas, atempadas e a adoção de estratégias adequadas permitem uma alimentação por via oral com segurança afim de reduzir/prevenir riscos de aspiração, ou seja, acrescentando qualidade de vida à pessoa e família.

Fonte: Lifestyle Sapo

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