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Governo soma polémicas com Costa a “surfar ondas”

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partyofeuropeansocialists / Flickr

O primeiro-ministro, António Costa

A demissão de Marta Temido parecia anunciada num desgaste que se vinha notando na que chegou a ser a ministra mais popular do Governo e potencial candidata à sucessão de António Costa no PS. E há quem diga que Temido foi “vítima da ambição de Costa”.

Esta ideia é defendida pelo ex-bloquista Daniel Oliveira num artigo de opinião no Expresso, onde defende que “o pecado de Marta Temido foi não ter aproveitado a força política que ganhou na pandemia para exigir meios e apoio para uma reforma urgente”.

Daniel Oliveira considera que a ministra da Saúde demissionária “deixou-se inebriar pelo galanteio de Costa” que lhe deu o cartão de militante socialista e a levou a um Congresso do partido, apresentando-a como a grande heroína no combate à pandemia.

Depois disso, uma sondagem chegou a apontar Temido como a melhor candidata para a sucessão a Costa na liderança do PS.

Já em Junho passado, num debate no Parlamento, Costa deu o peito às balas por Temido. Mas, nos tempos mais recentes, vinha sendo visível que a ministra estava a perder apoio no PS e até junto do Presidente da República.

Agora, o que se questiona é se a demissão de Temido poderá ser a ponta do icebergue num Governo que, apesar de maioritário, já se viu envolvido em várias polémicas em apenas cinco meses desde a tomada de posse.

Para Daniel Oliveira, Costa não hesitará em demitir qualquer que seja o ministro se isso lhe permitir governar com “poucas ondas”. “Se não se fizer aeroporto, se as carreiras médicas tiverem de esperar, paciência. Estes quatros anos são para preparar os seus voos. O resto vai-se gerindo. Sem lealdades”, escreve o ex-político do Bloco de Esquerda no Expresso.

Para o presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, José Matos Correia, a demissão de Marta Temido é a “a demonstração clara da desorientação do Governo e, em particular, de António Costa”, como escreve também no Expresso.

Há apenas cinco meses renovou-lhe a confiança política, reconduzindo-a no cargo, quando o registo da sua actuação patenteava não existir qualquer razão para isso”, aponta ainda Matos Correia, dando exemplos semelhantes que diz terem acontecido com outros ministros, citando “João Gomes Cravinho [Negócios Estrangeiros], Ana Abrunhosa [Coesão Territorial] ou Maria do Céu Antunes [Agricultura]”.

“Quem quer mudanças políticas tem que derrubar o Governo”

Costa já veio dizer que a saída de Temido não mudará nada em termos de estratégia do Governo para a Saúde.

“O Governo prosseguirá as reformas em curso tendo em vista fortalecer o SNS [Serviço Nacional de Saúde] e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos portugueses”, escreve o primeiro-ministro numa nota lacónica no Twitter, onde agradece o trabalho feito pela ministra demissionária, “muito em especial no período excecional do combate à pandemia”, como sublinha.

Já em declarações divulgadas pela Rádio Renascença, Costa nota que “os diplomas são dos governos, não são do ministro A nem do ministro B”.

“Achei graça até ver os principais críticos do Governo a dizer que o que importa é a mudança de políticas. Quem quer mudanças políticas tem que derrubar o Governo“, aponta ainda o primeiro-ministro, frisando que o programa do seu Executivo foi “legitimado pelo voto dos portugueses”.

Entretanto, Marta Temido será obrigada a ficar no cargo enquanto se procura um sucessor – algo que “não será rápido”, como já alertou Costa.

Perante este dado, a socialista Ana Gomes, ex-candidata presidencial, considera que é uma “crueldade” manter Marta Temido em funções “pelo período demorado que António Costa antevê necessitar para a substituir”. “Nem consigo perceber como em vez de tratar desta prioridade, visita Moçambique para respaldar um (des)governo cleptocrático”, critica a também ex-eurodeputada.

Muitos casos em 5 meses de Governo maioritário

A demissão de Temido é, apenas, o último grande caso a envolver o segundo Governo de Costa. De resto, em apenas cinco meses de executivo, não se esperariam tantas polémicas, tanto mais num Governo de maioria absoluta.

Cerca de uma semana depois da tomada de posse, estalou o primeiro caso, aquando da apresentação do Programa de Governo, com o ministro da Economia, António Costa e Silva, a falar em taxar os lucros extraordinários das energéticas.

Depois das ondas levantadas, Costa e Silva foi obrigado a amenizar o discurso, notando que a medida seria “uma solução última”, para adoptar só em caso de extrema “necessidade”.

No final de Maio, a confusão no controle das fronteiras, com longas filas de passageiros e muito desespero no aeroporto de Lisboa, foram um grande embaraço para o Governo – até porque era uma altura de recuperação do turismo depois da razia provocada pela pandemia.

O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, teve de apresentar um plano de contingência, mas, no início de Junho, os problemas voltaram ao aeroporto.

O Verão também veio pôr a nu muitos dos problemas do SNS, com o fecho de urgências um pouco por todo o país, especialmente nos serviços de ginecologia e obstetrícia.

Como sinais trágicos que ficam destes tempos difíceis, morreram dois bebés, um nas Caldas da Rainha, em Junho, e outro em Setúbal, em Julho. Em Agosto, morreu também uma grávida após uma transferência de hospital por falta de vagas.

Temido andou debaixo de fogo durante todo este tempo. E depois dos dias desafiantes da pandemia de covid-19, enfrentou duras negociações para o aumento do valor a pagar pelas horas extra dos médicos e enfermeiros.

Pelo meio, foi visada por médicos internos que denunciaram exaustão e uma espiral de insatisfação. Até que se demitiu na madrugada desta terça-feira.

Pedro Nuno “queimado” em praça pública

O caso do novo aeroporto de Lisboa é outra “pedra no sapato” deste Governo que continua por sair.

A 29 de Junho, Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, anunciou um novo Aeroporto no Montijo que seria construído a par do Aeroporto de Alcochete.

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O ministro chegou a dar entrevistas para as televisões sobre o assunto. Mas o primeiro-ministro e o Presidente da República, bem como o PSD, anunciaram não ter conhecimento oficial de nada.

Costa acabou a desautorizar o seu ministro e chegou a anunciar-se a demissão de Pedro Nuno. Mas a crise política resolveu-se com um mea culpa público do ministro que se manteve em funções.

Pedro Nuno tem sido apontado como eventual sucessor de Costa na liderança do PS, mas este processo pode tê-lo “queimado”, surgindo, agora, Ana Catarina Mendes e Fernando Medina como os principais candidatos nessa corrida.

Marques Mendes, comentador político e ex-presidente do PSD, já disse que “Costa quer encontrar um sucessor que seja qualquer um menos Pedro Nuno”. E o caso do aeroporto nem foi a primeira “rasteira política” de Costa ao seu ministro.

Quanto ao novo aeroporto, continua tudo em águas de bacalhau.

Entretanto, houve ainda o caso do empréstimo de 40 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) à empresa de Mário Ferreira, a Pluris Investments. Estavam em causa 52% do bolo total de 76,7 milhões de euros de apoio à capitalização de empresas afectadas pela pandemia.

O ministro da Economia chegou a ser chamado ao Parlamento para dar explicações. Mas o caso resolveu-se com o grupo de Mário Ferreira a anunciar que prescindia do empréstimo.

As declarações do presidente da Endesa em Portugal a anunciar um aumento até 40% nos preços da luz também colocaram os holofotes da polémica sobre o Governo.

António Costa acabou a ordenar que as facturas pagas à Endesa pelo Estado fossem validadas pelo secretário de Estado do Ambiente e da Energia, João Galamba.

Enquanto isso, os preços da luz e do gás têm aumentado sucessivamente e não há sinais de abrandamento.

As nomeações de Fernando Medina

No início de Agosto, foi a vez do ministro das Finanças se envolver em polémicas por causa da escolha do ex-director de Informação da TVI, Sérgio Figueiredo, para o cargo de consultor do seu ministério, com um salário de ministro.

O caso correu na imprensa durante vários dias e acabou com Sérgio Figueiredo a renunciar ao convite de Medina. Mas, para a história, ficam suspeitas de uma “troca de favores” entre o ex-presidente da Câmara de Lisboa e o ex-director da TVI – note-se que Figueiredo contratou Medina como comentador quando estava naquele canal.

Entretanto, Medina também foi visado noutra polémica pelas nomeações para a liderança da empresa que gere o património imobiliário do Estado, a Estamo, apostando em duas pessoas que trabalharam consigo na Câmara de Lisboa. À tona vieram novamente acusações de “jobs for the boys”.

A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, também teve a sua polémica com a Confederação dos Agricultores (CAP) que criticou a falta de resposta do Governo aos impactos da seca na produção e na alimentação animal.

“É melhor perguntar porque é que, durante a campanha eleitoral, a própria CAP aconselhou os eleitores a não votar no Partido Socialista“, atirou Maria do Céu Antunes às críticas da CAP, o que levou os agricultores a falarem em “bullying político”.

A ministra da Agricultura é um nome há muito contestado na pasta e a sua recondução no cargo causou alguma estranheza no sector agrícola. Será ela a próxima grande candidata a uma demissão? É bem possível, até face aos tempos “muito difíceis” que aí vêm por causa da combinação fatal entre os efeitos da seca e da inflacção.

  Susana Valente, ZAP //

Fonte: ZAP

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