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Da livre escolha à falta de confiança nas autoridades de saúde: fenómeno ‘antivacina’ sustenta-se em múltiplas razões, apontam estudos

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“Alguns milhões de franceses que se recusam a ser vacinados afetam a vida de um país inteiro”, garantia há dias Jean Castex, primeiro-ministro de França, sobre as pessoas que recusam a inoculação da vacina contra a Covid-19. Mas o que leva uma pessoa a não se querer vacinar, em plena sexta onda da pandemia? Como a aldeia do Asterix, que resiste graças a uma poção mágica que confere uma força invencível, à invasão romana.

A vacina, segundo um artigo publicado na revista francesa ‘The Conversation’, ainda estava em fase de desenvolvimento e já despertava a desconfiança da população nos países ocidentais. Estudos apontam que na Europa, em geral, a confiança nas vacinas permanece abaixo dos 60% – em comparação com os 92% de África ou os 95% da Ásia. O caso francês é paradigmático sobre o fenómeno transversal a todas as sociedades mundiais. A taxa geral de vacinação em terras gaulesas é de 79,5% – o sexto país mais vacinado do mundo, numa lista liderada por Portugal – mas há quase 4,7 milhões de pessoas, com mais de 12 anos, não vacinada (dados de 4 de janeiro de 2022), cerca de 9% da população.

Em 2019, a Organização Mundial de Saúde classificou o fenómeno entre as 10 maiores ameaças à saúde global. A hesitação inicial manifesta-se como uma recusa mais ou menos forte da vacina – de todas em geral ou de apenas algumas, sobretudo as de mRNA da Covid-19, como a Pfizer ou da Moderna. Uma síntese de 15 estudos sobre o assunto revelou que há uma ampla variedade de fatores que influenciam a hesitação vacinal: etnia, status ativo ou não, crenças pessoas, religião, tendência política (partidos extremistas, populismo ou abstencionismo), género, nível de escolaridade, idade, nível de rendimento, perceção do risco de infeção, falta de confiança nas autoridades de saúde, ciência, medicina e, claro, dúvidas sobre a vacina.

Foi destacado um primeiro conjunto de razões potencialmente racionais: a livre escolha, os potenciais efeitos colaterais e doenças que a vacinação poderia desencadear, a não eficácia das vacinas oferecidas ou a possibilidade de transmissão do vírus apesar da injeção, o que a torna inútil. Há outros motivos também invocados, tais como as dúvidas sobre soros – fração líquida de sangue que contém anticorpos em particular e muitas vezes confundida com vacinas -, processo de acreditação, origem e modo de ação, a certeza de já estar imunizado. Por último, mas em menor escala, há também motivos associados ao ato de injetar como medo da dor, de picadas, injeção incorreta ou contrair infeções. Mas há uma variável que claramente se destaca: o julgamento de confiança nas instituições e políticos que vão resultar da crise pandémica.

O ‘antivax’ não surgiu com a vacina contra a Covid-19, é já uma resistência vinda de fontes mais profundas e sociais. A hesitação vacinal é então um processo social complexo e dinâmico que se alimenta de múltiplas redes de influência, significado e lógica. As opiniões e práticas dos indivíduos em relação à vacinação são analisadas como um processo contínuo que evolui de acordo com os contextos pessoais e sociais.

Em fevereiro de 2020, o diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) especificou: “Não estamos apenas a lutar contra uma epidemia, estamos também a lutar contra um infodemia.” O neologismo refere-se a um excesso de informações, corretas ou não, que se cruzam e se confundem. Nesse caso, os processos de divulgação digital, mas também o clássico boca-a-boca, geraram e ampliaram a disseminação de dúvidas quanto à segurança da vacina.

Em julho de 2021, um estudo realizado pela ‘OpinionWay-Les Échos’ indicava que 16% da população em França ainda “não pretendia ser vacinada” contra 45% em dezembro de 2020. Outra pesquisa, realizada pela ‘Odoxa-Le Figaro’, estimou esse percentual de pessoas que não desejam ser vacinadas em 19%, incluindo 11% qualificados como “irredutíveis”.




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