
Pessoas com esta rara condição visual veem rostos ilusórios com mais frequência, mostra novo estudo

 Crédito: Unsplash/CC0 Domínio Público
 
Quando você olha para as nuvens, para a casca de uma árvore ou para a frente de um carro, às vezes você vê um rosto olhando para você? Isso é “pareidolia facial” e é uma ilusão perfeitamente normal onde nossos cérebros identificam rostos em padrões que não são realmente rostos.
Para a maioria de nós, essas ilusões são inofensivas. Mas minha nova pesquisa, publicada em Percepçãosugere que pessoas com síndrome da neve visual – uma condição neurológica rara que causa constante “estática visual” – experimentam esse fenômeno com mais força e frequência.
Esta descoberta oferece uma janela única sobre como um cérebro hiperativo pode amplificar os padrões ilusórios erróneos que vê no mundo. Também mostra como a percepção não é um espelho perfeito da realidade.
O que é a síndrome da neve visual?
A síndrome da neve visual é caracterizada pela percepção persistente de pontos tremeluzentes, como a estática da televisão, em todo o campo de visão. Pessoas com essa doença costumam relatar que os pontos nunca desaparecem, mesmo no escuro.
A causa desta síndrome permanece obscura, mas evidências recentes apontam para hiperexcitabilidade no córtex visual, a região do cérebro que interpreta o que vemos. Em essência, os neurônios responsáveis pelo processamento da informação visual podem estar disparando com muita rapidez, inundando a percepção com ruído.
Muitos indivíduos com síndrome da neve visual também apresentam enxaquecas, sensibilidade à luz, pós-imagens ou rastros visuais que persistem após o movimento. Esses sintomas podem tornar as experiências visuais cotidianas confusas e exaustivas. No entanto, apesar da crescente conscientização, a condição continua subdiagnosticada e mal compreendida.
Testando como a ‘neve visual’ molda a percepção
Para testar se este sistema visual hiperativo muda a forma como as pessoas interpretam informações visuais ambíguas, a nossa equipa de investigação convidou mais de 250 voluntários para completar uma experiência online.
Os participantes primeiro preencheram um pequeno questionário para determinar se apresentavam sintomas de neve visual. Em seguida, foram mostradas 320 imagens de objetos do cotidiano, de troncos de árvores a xícaras de café, e solicitados a avaliar, em uma escala de 0 a 100, a facilidade com que conseguiam ver um rosto em cada imagem.
No total, 132 pessoas preencheram os critérios para a síndrome da neve visual, enquanto 104 formaram um grupo de controle pareado por idade. Também rastreamos se os participantes tiveram enxaquecas, o que nos permitiu comparar quatro subgrupos.
O cérebro que vê demais
Os resultados foram impressionantes. Pessoas com neve visual deram consistentemente “pontuações faciais” mais altas para cada imagem do que aquelas sem a condição. Isso sugere que eles eram mais propensos a ver rostos em texturas e objetos aleatórios.
Aqueles com neve visual e enxaquecas tiveram a pontuação mais alta.
Esse padrão era notavelmente consistente. Em geral, os grupos concordaram sobre quais imagens se pareciam mais com rostos, mas o grupo da neve visual relatou ter visto rostos ilusórios de forma mais vívida.
Em outras palavras, os mesmos objetos desencadearam uma ilusão mais forte.
Os resultados estão alinhados com teorias anteriores de que o cérebro visual da neve é hiperresponsivo. Normalmente, nosso sistema visual gera “suposições” rápidas e de baixo nível sobre o que estamos vendo, seguidas de verificações mais lentas para confirmar essas suposições.
Quando esse ciclo de feedback é interrompido por atividade neural excessiva, um “alarme falso” precoce, como confundir um objeto com um rosto, pode ser amplificado em vez de corrigido.
Por que a enxaqueca a torna mais forte
A enxaqueca e a neve visual têm sido frequentemente associadas e ambas envolvem níveis anormalmente elevados de atividade cortical. Durante uma enxaqueca, os neurônios visuais podem tornar-se hipersensíveis à cintilação, à luz e ao contraste.
Nossos dados sugerem que quando a enxaqueca e a neve visual ocorrem juntas, a sensibilidade do cérebro a rostos ilusórios aumenta ainda mais. Isto pode refletir uma via neural compartilhada subjacente a ambas as condições.
Pesquisas futuras poderiam usar essa relação para desenvolver novas ferramentas de diagnóstico. Os testes de pareidolia facial são rápidos, acessíveis e podem ser adaptados para crianças ou pacientes não-verbais que não conseguem descrever facilmente o que vêem.
Uma nova maneira de entender a percepção
A pareidolia facial não é um distúrbio – é um efeito colateral de um sistema perceptivo que prioriza informações sociais. A evolução distorceu nosso sistema visual para identificar os rostos primeiro e fazer perguntas depois.
Para pessoas com neve visual, esse sistema pode estar muito alto. Seus cérebros podem “ligar os pontos” no ruído visual, interpretando informações ambíguas como padrões significativos.
Esta descoberta apoia a ideia de que a neve visual não é apenas um problema de visão, mas uma perturbação mais ampla na forma como o cérebro interpreta os estímulos visuais.
Ao compreender por que algumas pessoas veem demais, podemos aprender mais sobre como todos nós vemos.
Por que isso importa
A síndrome da neve visual é frequentemente descartada ou mal diagnosticada, deixando os pacientes frustrados. Vincular a condição a uma ilusão mensurável, como a pareidolia facial, dá aos médicos um sinal tangível da atividade cerebral alterada por trás dos sintomas.
Também humaniza a experiência. Pessoas com neve visual não imaginam suas percepções – seus cérebros estão genuinamente processando o mundo de maneira diferente.
Além do diagnóstico, esta pesquisa contribui para uma questão maior na neurociência: como o cérebro consegue um equilíbrio entre sensibilidade e precisão? Pouca atividade e perdemos o sinal. Demais, e começamos a ver rostos na neve.
Fornecido por A Conversa
 Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original. 
 
Citação: Pessoas com esta condição visual rara veem rostos ilusórios com mais frequência, mostra um novo estudo (2025, 30 de outubro) recuperado em 30 de outubro de 2025 em https://medicalxpress.com/news/2025-10-people-rare-visual-condition-illusory.html
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