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Prof. Doutor Joaquim Ferreira: “Doenças do movimento exigem diagnóstico precoce e cuidados integrados”

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Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Joaquim Ferreira,  Neurologista, Docente Universitário e Director Clínico do CNS – Campus Neurológico, destaca a importância do diagnóstico precoce e do tratamento multidisciplinar nas doenças […]

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Joaquim Ferreira,  Neurologista, Docente Universitário e Director Clínico do CNS – Campus Neurológico, destaca a importância do diagnóstico precoce e do tratamento multidisciplinar nas doenças do movimento, alertando para o impacto do envelhecimento populacional na prevalência destas patologias em Portugal.

Healthnews (HN) – O que são as doenças do movimento e quais são as mais comuns em Portugal?

Joaquim Ferreira (JF) – As doenças do movimento são condições neurológicas que afetam o controle normal dos movimentos. Podem manifestar-se por lentidão dos movimentos, como ocorre na Doença de Parkinson, ou por movimentos anormais, como é o caso do tremor.

As doenças do movimento mais frequentes são a Doença de Parkinson, o tremor essencial e a síndrome das pernas inquietas. Existem ainda várias outras doenças do movimento menos comuns, como, por exemplo, a Doença de Huntington, a Atrofia Multissistémica, a Paralisia Supranuclear Progressiva, as distonias musculares (como o blefaroespasmo e a distonia cervical) e os tiques (nomeadamente a Doença de Gilles de La Tourette).

HN – Existem neste grupo de doenças algumas com especial prevalência em Portugal, comparativamente a outros países?

JF – Em termos gerais, as doenças do movimento mais comuns em Portugal não apresentam uma prevalência significativamente diferente em comparação com outros países europeus ou ocidentais. No entanto, existe uma forma de Doença de Parkinson, associada a uma alteração genética específica, que é particularmente prevalente em Portugal. Esse fato não implica, por si só, que a Doença de Parkinson seja mais comum em Portugal do que em outros países europeus. Contudo, o envelhecimento da população portuguesa é claramente um fator que contribuirá para o aumento da prevalência da doença no futuro.

HN – Como é que estas doenças afetam o quotidiano dos doentes e quais são os principais desafios que enfrentam no seu dia-a-dia?

F – A forma como estas doenças afetam os doentes depende das queixas predominantes e da fase da doença em que se encontram. A alteração do movimento normal, os movimentos involuntários anormais e a incoordenação motora podem comprometer a capacidade dos doentes de realizar atividades diárias que exigem coordenação, como usar talheres, escrever, caminhar, entre outras. No caso da Doença de Parkinson, os doentes podem apresentar tremor e uma lentificação dos movimentos. O tremor, em particular, é frequentemente o sintoma que leva os doentes a procurar um médico. Contudo, outros sinais também podem ser sugestivos da doença, como a redução do balanceio de um braço, letra mais pequena, arrastamento de uma perna e diminuição do olfato, entre outros sintomas. O tremor essencial é também uma doença do movimento caracterizada por tremor, geralmente nas mãos, que costuma começar na juventude e tende a agravar-se lentamente com a idade. Esse tremor é mais evidente quando os doentes realizam tarefas com as mãos, como escrever, usar talheres ou levar um copo à boca. A síndrome das pernas inquietas caracteriza-se por uma sensação de desconforto nas pernas, principalmente à noite (ao deitar) e em situações de imobilidade, como quando os doentes estão sentados em espaços apertados. Para aliviar o desconforto, os doentes tendem a mexer as pernas e caminhar.

HN – Sabemos que o impacto destas doenças vai além do doente. Que dificuldades enfrentam as famílias dos doentes com patologias do movimento?

JF – Uma das principais dificuldades para as famílias é a compreensão das doenças do movimento. Muitas destas doenças manifestam-se com sintomas flutuantes e imprevisíveis, o que torna difícil para os familiares entenderem o que está a acontecer com o doente. Outro desafio, tanto para os doentes quanto para as suas famílias, é garantir o acesso aos melhores cuidados. Atualmente, sabe-se que o tratamento mais eficaz destas doenças envolve não apenas o uso de medicamentos adequados, mas também o acompanhamento por equipas multidisciplinares compostas por vários profissionais de saúde, que devem trabalhar de forma integrada. Essas equipas incluem neurologistas, psiquiatras, fisioterapeutas, terapeutas da fala, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, entre outros profissionais de saúde.

HN – Nos últimos anos, que avanços significativos têm sido feitos na medicina no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento das doenças do movimento?

JF – Entre as doenças do movimento, a Doença de Parkinson tem sido aquela em que se registaram os maiores progressos no que diz respeito às terapêuticas disponíveis. Nos últimos anos, novos medicamentos foram disponibilizados, ampliando as opções de tratamento farmacológico. Existem também terapias mais complexas, como a administração subcutânea ou intestinal de medicamentos, e procedimentos cirúrgicos, como a estimulação cerebral profunda e a ultrassonografia focalizada, que têm mostrado resultados promissores no tratamento de formas mais graves de algumas destas doenças.

HN – O CNS – Campus Neurológico Sénior é conhecido pela sua abordagem multidisciplinar. Pode explicar-nos como funciona esta abordagem e quais são os seus benefícios para os doentes?

JF – A abordagem multidisciplinar adotada pelo CNS – Campus Neurológico envolve a colaboração de uma equipa de profissionais de saúde, que trabalham de forma integrada para proporcionar um tratamento personalizado e abrangente aos doentes. A equipa é composta por neurologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala, nutricionistas, psicólogos, enfermeiros, psiquiatras, e outros especialistas, que avaliam e tratam os doentes de maneira integrada. Esta abordagem permite que cada profissional contribua com o seu conhecimento especializado para o tratamento e acompanhamento do doente, garantindo que todas as suas necessidades sejam abordadas de forma coordenada. Esta abordagem procura também incluir, sempre que possível, os familiares e cuidadores do doente.

HN – Na sua opinião, o que precisa de ser feito para melhorar o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado das doenças do movimento em Portugal?

JF – É essencial aumentar a consciencialização sobre as doenças do movimento, tanto junto da população em geral quanto entre os profissionais de saúde. Muitas destas doenças apresentam sintomas iniciais subtis, e um maior conhecimento pode facilitar uma referenciação mais rápida para observação por profissionais de saúde. Além disso, deve ser combatida a associação excessiva de muitas destas queixas ao envelhecimento, o que condiciona o diagnóstico e a valorização desses sintomas.

Embora a crescente evidência científica recomende uma abordagem multidisciplinar para tratar estas doenças, apenas uma minoria dos doentes consegue aceder a esse modelo de cuidados. Dessa forma, o acesso limitado a cuidados multidisciplinares continua a ser uma das maiores limitações na abordagem terapêutica das doenças do movimento.

Entrevista MMM/AL

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