Comorbilidades associadas à DPOC têm impacto no outcome
Como se caracteriza a DPOC atualmente?
A DPOC é uma doença com uma elevada morbilidade e mortalidade. Regra geral, são doentes complexos, o que exige uma abordagem em equipa multidisciplinar alargada. O problema que se coloca é que olhamos para a DPOC como uma doença índice, ou seja, como a principal, não atribuindo o devido valor às restantes. Percebe-se, hoje, que as comorbilidades associadas às pessoas com DPOC têm um impacto altíssimo no outcome, quer no controlo da doença no momento atual, quer no futuro, com risco de mortalidade.
No que diz respeito à investigação, a DPOC é uma das áreas mais estudadas. Todos os anos, a Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) publica guidelines para a DPOC.
Qual é o papel dos médicos de Medicina Geral e Familiar ao nível das terapêuticas?
O papel do médico de família e do enfermeiro de família, ou seja da microequipa nas unidades de saúde, é abordar, quer a DPOC, quer as outras doenças que estão relacionadas com a DPOC. Este é um grande desafio, porque se existe equipa de saúde mais habilitada para gerir a multimorbilidade é a dos cuidados primários. A DPOC não é apenas uma patologia que envolve o sistema respiratório, está associada a outras tais como depressão, insuficiência cardíaca (nomeadamente a isquémica), osteoporose, entre outras.
“Se estivermos com foco único e exclusivamente no pulmão, não atingimos o pleno de potencial de ajuda, cura ou gestão destas doenças.”
Na USF João Semana, onde exerce funções, existe uma consulta ligada à área respiratória. Como funciona?
Ainda se mantém. A unidade de saúde tem imenso trabalho com todas as outras doenças, pelo que fazemos um ajuste lógico das doenças respiratórias, de acordo com a sazonalidade. Isto significa que, antes do inverno, abrimos mais vagas para chamar utentes com doenças respiratórias crónicas, com o intuito de realizar uma consulta mais estruturada de DPOC e de asma. Depois tentamos gerir esta questão dentro de outros programas de saúde, nomeadamente hipertensão e diabetes, onde os doentes também já têm uma rotina de consultas. Aqueles que têm doenças respiratórias também são integrados nesse contexto quando é possível.
Seria importante incluir esta consulta em todas as USF?
Esta consulta é uma mais-valia enorme, de facto, porque estes doentes são muito complexos e precisam de um espaço dedicado suscetível da verificação, ou não, de agudizações, fatores de descontrolo da doença, identificação de ação à terapêutica, revisão da técnica inalatória, utilização de questionários de controlo, definição de um plano terapêutico, vacinação, reabilitação, gestão de expectativas e muito mais. Tudo isto consome bastante tempo.
Como nos cuidados de saúde primários acabamos por ter cuidados contínuos durante bastantes anos, isso permite-nos ir ajustando esta agenda e distribuí-la ao longo do ano ou dos anos.
“É preciso um espaço em que se possa pensar e fazer uma consulta estruturada de doenças respiratórias.”
CG
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