
Covid-19: Afinal, quantas vacinas vamos ter de levar? Resposta está na luta entre o sistema imunológico e o vírus
Em Israel debate-se a necessidade de uma quarta dose da vacina contra a Covid-19 para grupos de alto risco, incluindo pessoas com mais de 60 anos e profissionais de saúde. Nos Estados Unidos, há médicos que defendem a hipótese entre certos grupos. E as farmacêuticas responsáveis pelas vacinas há muito que insistem que provavelmente viremos a precisar de injeções anuais. Afinal, quantas doses da vacina serão necessárias? A resposta depende do nosso sistema imunológico, do vírus, e da frequência com que eles entram em colisão.
No entanto, neste ponto da pandemia, não há consenso sobre o número de vacinas de que precisaremos a longo prazo; muitos dos principais especialistas em vacinas contra a Covid-19 do mundo mudaram de posição nas últimas semanas. No verão, Ali Ellebedy, imunologista da Washington University em St. Louis, pensou: “Não vamos precisar de vacinas anuais ”, apontou. Agora, diz que está dividido: “Estou a 50% agora.”
Um futuro de vacinações anuais quase seria um alívio. No ano passado, o governo dos Estados Unidos recomendou que quase todos os elegíveis fossem vacinados contra a Covid-19 três vezes mas a possibilidade de uma injeção focada na variante Ómicron aproxima-se. A narrativa não é linear: tanto subvacinar como sobrevacinar têm desvantagens. Podemos ter sorte de conseguir uma proteção verdadeiramente estável com as atuais vacinas. Ou podemos estar no início de uma campanha de vacinação que promete ser a mais intensa e difundida a nível mundial de sempre.
Existem duas razões principais para vacinar os já vacinados: uma queda substancial nas defesas do nosso corpo ou um grande aumento nas agressões do vírus. Atualmente ainda se trabalha para entender como o nosso sistema imunológico ‘colabora’ com a vacina. Durante meses, cientistas monitorizara a elevação e queda no proteção contra infeções assintomáticas e formas mais brandas da Covid-19, uma dinâmica que parece fortemente ligada aos anticorpos.
Após as duas primeiras injeções de mRNA nas pessoas, os níveis de anticorpos baixavam entre cinco e dez vezes desde o seu pico até seis meses depois. Agora, os imunologistas estão a acompanhar os efeitos da terceira dose – quando os níveis de anticorpos vão estabilizar e quanto tempo até chegar a esse patamar.
Após o reforço ‘bombeamos’ mais anticorpos do que após as primeiras injeções, o que vai levar a mais tempo até que caiam abaixo do limite de proteção. Exposições repetidas a uma vacina também podem fazer aumentar a qualidade dos anticorpos, que ficam melhores na deteção do SARS-CoV-2. Se esse processo continuar a ocorrer após a terceira injeção, ou talvez a quarta, poderemos vacinar com muito menos frequência do que agora. O ritmo final da vacinação também dependerá do que queremos que as nossas injeções alcancem: o bloqueio de doenças graves requer menos injeções; tentar suprimir a maioria das infeções e transmissão significa mais. E precisaremos definir as nossas expectativas de maneira razoável. A prevenção indefinida de infeções “é uma barreira que a vacinologia, historicamente, não foi capaz de realmente atingir”, explicou recentemente Kizzmekia Corbett, imunologista e desenvolvedora de vacina contra a Covid-19 em Harvard.
A metamorfose do vírus é outra ‘equação’ difícil de desvendar. Uma proteção sólida contra uma variante pode não ser suficiente para impedir outra – a Ómicron já estão tão mutada que muitos dos nossos anticorpos treinados pelas vacinas não o reconhecem tão bem, apesar do efeito positivo das doses de reforço. Mas tão importante quanto descobrir a nossa necessidade de injeções é determinar o quanto os nossos sistemas imunológicos (e psíquicos) podem suportar. A certo ponto, outra exposição à mesma vacina não fará muito bem às defesas do corpo. Os atuais esquemas de vacinação não estão a correr esse risco… ainda.
Um intervalo estendido entre vacinas pode dar aos anticorpos tempo para amadurecer. A equipa de Ellebady descobriu que, meio ano após a segunda dose de mRNA, muitas moléculas ainda estão em ritmo de autoaperfeiçoamento – esperar alguns meses pode ajudar a garantir que os anticorpos medíocres sejam eliminados, deixando apenas os melhores para serem colocados em ação.