
Profissionais de Saúde em Moçambique Ameaçam Fechar Todas as Unidades
Profissionais de saúde ameaçam fechar todas as unidades sanitárias do país caso o Governo não cumpra, em 15 dias, com o pagamento integral do subsídio natalino. A associação de classe acusa o Executivo de falácias e alerta para consequências graves nos cuidados à população
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A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) lançou um ultimato de 15 dias ao Governo para o pagamento integral e atempado do 13.º salário, sob pena de desencadear o que classifica como a paralisia mais perigosa do setor. A ameaça de encerramento total das unidades sanitárias foi feita hoje em Maputo pelo presidente da APSUSM, Anselmo Muchave, durante uma conferência de imprensa carregada de emoção e frustração.
“O Governo, se não pagar o 13.º salário na íntegra aos profissionais de saúde, as unidades sanitárias todas serão fechadas aqui em Moçambique”, declarou Muchave, deixando pouco espaço para ambiguidades. Segundo ele, trata-se de um direito legal consagrado, “não sendo negociável, nem um favor” concedido pelo Executivo. O tom foi duro, quase um ponto de não retrato após um ano de queixas sucessivamente ignoradas.
Muchave pintou um quadro sombrio das possíveis consequências. A interrupção do serviço, garantiu, colocaria os hospitais e centros de saúde num caos operacional imediato, com riscos diretos para a continuidade e a qualidade dos cuidados prestados. A sua fuga deu conta de um setor já profundamente asfixiado. Referiu, com voz pesada, que a falta crónica de insumos médicos e até de alimentação nas unidades durante este ano resultou em mortes que considerou “mais graves que os massacres que estão a acontecer em Cabo Delgado”. Uma comparação extrema que pretendeu sublinhar a gravidade silenciosa da crise sanitária.
“O Governo não mostrou certeza, ações concretas, a não ser falácias durante todo o ano”, acusou o líder sindical. “Tivemos unidades sanitárias que até agora têm dificuldades graves (…), mas o Governo, a direção do Ministério da Saúde, não saiu a falar daquilo que está a acontecer na jornada sanitária. O nosso povo está a morrer”, desabafou, misturando a linguagem formal da negociação com a dor de um testemunho direto.
A APSUSM, que representa perto de 65.000 trabalhadores do setor, deixou claro que o prazo não é para negociar, mas para cumprir. “Passado o prazo, a classe não se vai ‘sentar’ para negociar o pagamento, já que ‘o 13.º não se negocia’”, frisou Muchave, empregando um coloquialismo que reforça a decisão inabalável. Este confronto surge no seguimento de alertas repetidos. Já em agosto, a associação tinha apontado “deficiências alarmantes” no fornecimento de medicamentos e exigido uma nova equipa governamental para o diálogo, num processo de conversações que se arrasta há três anos com paralisações pontuais.
Em maio passado, durante as comemorações do Dia do Enfermeiro, o Presidente moçambicano tinha prometido investir na melhoria das condições de trabalho e no reconhecimento da carreira. Na mesma ocasião, o ministro da Saúde apelara ao diálogo para travar as greves. Essas promessas, segundo a perceção agora transmitida pela APSUSM, não se materializaram em ações palpáveis. Os conflitos mais recentes envolveram médicos dos Hospitais Centrais de Nampula e de Maputo, que reivindicavam o pagamento de horas extraordinárias. Agora, a ameaça alarga-se a todo o sistema, com um desfecho que o Governo tem quinze dias para evitar.
NR/HN/Lusa
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