
Hospitais do Tâmega e Sousa em ponto de rutura: internistas recusam mais doentes em condições “inseguras”
A unidade de saúde admite pressão extrema e diálogo permanente com os clínicos, após estes se recusarem a aceitar doentes em camas fora das enfermarias. Medidas de contingência estão ativas
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A Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa (ULSTS) assumiu esta terça-feira, dia 23, um cenário de “elevadíssima pressão assistencial”, numa resposta formal ao alarme soado pelos médicos internistas. Estes, num documento divulgado pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), recusaram-se a continuar a admitir doentes em condições que consideram irregulares, inseguras ou simplesmente indignas, como permanecerem em macas fora dos espaços habituais de internamento. A direção da unidade, num tom que procura equilibrar o reconhecimento da crise com uma mensagem de controlo operacional, garante que o plano de inverno está a ser cumprido e que o diálogo com as equipas nunca foi interrompido.
O ponto de conflito, ou de colisão entre a realidade no terreno e a capacidade de resposta, cristalizou-se no Serviço de Medicina Interna. Os profissionais descrevem um hospital a operar em regime de sobrecarga há demasiado tempo, com a particularidade de a pressão atual ter atingido um patamar crítico. Esgotada a capacidade convencional, incluindo as unidades de transição que funcionam em pleno, os clínicos traçaram uma linha: não aceitarão a manutenção de doentes em locais inadequados. E estabeleceram um limite numérico concreto – as 166 camas da Unidade Padre Américo, em Penafiel –, além do qual alertam que não tomarão decisões que ponham em risco a segurança.
Do lado da administração, a argumentação segue outro caminho, ainda que partilhando a premissa da dificuldade. A situação, explicam, enquadra-se nos cenários previstos no plano de resposta sazonal, atualmente no nível 3 de contingência. O aumento da afluência, impulsionado sobretudo por infeções respiratórias agudas e por descompensações de doenças crónicas, motivou uma série de medidas já aplicadas. Falam na abertura de áreas de contingência, que terão acrescentado até 66 camas sob alçada da Medicina Interna, no recurso a camas contratualizadas no setor social e privado, e no reforço da hospitalização domiciliária.
A gestão de pessoal foi também alvo de ajustes, com a integração de médicos de especialidades como pneumologia ou nefrologia nas equipas de internamento, para além de um reforço de enfermagem. A atividade cirúrgica programada não urgente foi suspensa temporariamente, uma medida padrão do protocolo de nível 3 para libertar recursos. A administração insiste que o plano foi desenhado precisamente para estas alturas, permitindo uma gestão partilhada em contexto adverso. A dificuldade, sublinham, não está no empenho dos profissionais – cujo profissionalismo e dedação elogiam –, mas sim num volume de procura excecional e em limitações estruturais antigas.
Resta saber como se resolverá o impasse quotidiano à porta das enfermarias. A direção da ULSTS assegura que o conselho de administração mantém uma disponibilidade total para reunir, ouvir e ajustar medidas operacionais. O objetivo declarado é apoiar os médicos no terreno e garantir os cuidados. Enquanto isso, os internistas mantêm a sua posição pública, um reflexo do desgaste acumulado e da perceção de que a linha vermelha da segurança foi, em muitos momentos, ultrapassada. O inverno, e a vaga de doentes que traz consigo, continua à espreita.
NR/HN/Lusa
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