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Desprescrição. Criada Rede Portuguesa

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A desprescrição é um processo dinâmico de redução ou retirada de medicamentos potencialmente inadequados, supervisionado por um profissional de saúde, com o objetivo de gerir a polifarmácia e melhorar os ganhos em saúde. Para que este processo seja bem-sucedido, deve incluir uma tomada de decisão partilhada entre o doente e os profissionais de saúde, ser baseado em evidência científica e envolver uma equipa multidisciplinar que integre todos os intervenientes na prescrição e administração de medicamentos, apoiada por sistemas de informação em saúde mais eficientes.

A gestão da polimedicação, particularmente em adultos mais velhos, é um dos maiores desafios dos sistemas de saúde. A complexidade clínica, a multimorbilidade e a utilização simultânea de múltiplos fármacos aumentam o risco de reações adversas e interações medicamentosas. Neste contexto, a desprescrição surge como uma estratégia essencial para garantir uma utilização mais segura, eficaz e centrada na pessoa.

Criação da Rede Portuguesa de Desprescrição (PTDeN)

Foi recentemente criada a Rede Portuguesa de Desprescrição (PTDeN), uma iniciativa pioneira liderada pelo Professor Doutor Luís Monteiro, Md PhD e Médico de Família, em colaboração com as investigadoras Professora Anabela Pereira, MD, PhD, e Professora Daniela A. Rodrigues, MSc, PhD.

A PTDeN constitui uma iniciativa colaborativa que reúne profissionais de saúde e investigadores comprometidos com a melhoria da segurança na utilização dos medicamentos em adultos mais velhos em Portugal. O seu principal objetivo é partilhar conhecimento, inspirar mudança e promover práticas de desprescrição seguras e baseadas na evidência.

Juntos, podemos tornar a desprescrição parte integrante dos cuidados de saúde de qualidade. A rede convida investigadores e profissionais de saúde a partilhar publicações e projetos relacionados com desprescrição, otimização da terapêutica e práticas de prescrição mais seguras em adultos mais velhos. O envolvimento ativo dos profissionais permitirá consolidar um espaço nacional de reflexão, cooperação e inovação científica em torno deste tema emergente.

Mais informações disponíveis em: https://ptdeprescribing.wordpress.com/

Recursos Digitais e Apoio aos Profissionais de Saúde

A PTDeN já disponibiliza recursos online destinados a apoiar médicos de família e outros profissionais na prática clínica. Entre estes destaca-se uma aplicação web desenvolvida para apoiar os profissionais de saúde portugueses na identificação de medicamentos potencialmente inapropriados (PIM) em adultos mais velhos.

Esta ferramenta baseia-se em critérios explícitos internacionais, incluindo a lista EU(7)-PIM e os critérios STOPP (Screening Tool of Older Persons’ Prescriptions) e START (Screening Tool to Alert to Right Treatment), adaptados e traduzidos para português.

Estas ferramentas constituem instrumentos fundamentais para identificar medicamentos potencialmente inapropriados (PIM) e possíveis omissões terapêuticas (PPO), promovendo uma prática clínica mais segura e personalizada. O acesso facilitado a este tipo de instrumentos representa um passo importante na capacitação dos profissionais para implementar intervenções de desprescrição no contexto da atenção primária e hospitalar.

Formação e Colaboração Interprofissional

A formação contínua é um dos pilares centrais da Rede Portuguesa de Desprescrição. Pretende-se fomentar a criação de programas de formação, workshops e cursos online dirigidos a médicos, farmacêuticos, enfermeiros e outros profissionais interessados em melhorar a qualidade da prescrição em populações envelhecidas.

Além disso, a PTDeN procura estreitar a colaboração entre grupos de investigação nacionais e internacionais, incentivando a partilha de metodologias, dados e experiências. Esta abordagem colaborativa visa criar sinergias entre a investigação clínica, a prática médica e as políticas de saúde pública, contribuindo para a implementação sustentável de práticas de desprescrição.

Evidência Científica Recente: O Ensaio C-SENIoR

Um exemplo marcante do avanço nacional nesta área é o estudo “Effectiveness of a Collaborative Deprescribing Intervention of Proton Pump Inhibitors on Community-Dwelling Older Adults: The C-SENIoR Pragmatic Non-randomised Controlled Trial”, desenvolvido em coautoria pelo Professor Doutor Luís Monteiro, MD, PhD, e uma equipa de investigadores portugueses liderada pela Dra Sónia Romano.

 DOI: [https://doi.org/10.1007/s40266-025-01259-5](https://doi.org/10.1007/s40266-025-01259-5)

O objetivo deste ensaio foi avaliar a eficácia de uma intervenção colaborativa, envolvendo farmacêuticos comunitários e médicos de família na desprescrição de inibidores da bomba de protões (IBP) — fármacos classificados no grupo ATC/WHO A02BC — em adultos mais velhos a viver na comunidade (≥ 65 anos).

Métodos

Tratou-se de um ensaio pragmático, multicêntrico, não randomizado e controlado em dois braços, com seguimento de 6 meses, desenvolvido em unidades de saúde familiar (USF) e farmácias comunitárias portuguesas. A intervenção incluiu:

  1. Sensibilização e educação dos doentes nas farmácias, sobre o uso prolongado de IBP e seus potenciais riscos;
  2. Avaliação clínica pelos médicos de família, para determinar a adequação do uso e iniciar o processo de desprescrição quando indicado;
  3. Acompanhamento farmacêutico regular, para monitorizar a adesão e sintomas de refluxo durante a retirada gradual do medicamento.

O grupo de comparação recebeu cuidados habituais. O principal desfecho foi o sucesso da desprescrição, definido como descontinuação ou redução da dose do IBP aos 3 e 6 meses. Foram também avaliados desfechos clínicos e farmacológicos secundários.

Resultados

Participaram 166 doentes (idade média 74,2 anos; 59% mulheres), com uso médio de IBP há 10,6 anos. A intervenção foi altamente eficaz na redução do uso inapropriado de IBP. Aos 3 meses, a diferença de risco absoluto ajustada entre o grupo de intervenção (GI) e o grupo controlo (GC) foi de 46,3% (IC 95% 32,8–59,9), com um número necessário para tratar (NNT) de 2,2. O risco relativo de desprescrição no GI comparado com o GC foi de 9,6 (IC 95% 3,6–25,6). Aos 6 meses, o efeito manteve-se estável. Não foram observadas diferenças significativas entre grupos nos desfechos secundários.

Conclusões

Esta intervenção colaborativa mostrou-se eficaz na redução do uso inadequado de IBP, reforçando o papel essencial da cooperação entre médicos e farmacêuticos comunitários. O estudo evidencia que a integração de estratégias de educação, revisão terapêutica e acompanhamento interdisciplinar pode melhorar a segurança e qualidade da farmacoterapia em adultos mais velhos.

Os autores salientam ainda a necessidade de ensaios de maior dimensão e com seguimento prolongado, para avaliar resultados clínicos e percecionados pelos doentes, bem como o impacto a longo prazo destas intervenções de desprescrição.

 A Investigação em Desprescrição: Desafios e Perspetivas Futuro

Apesar dos progressos, a investigação em desprescrição permanece limitada. Persistem lacunas na avaliação da efetividade das intervenções, na aceitação pelos doentes e profissionais e na integração da desprescrição nos sistemas de informação clínica.

Futuras investigações devem avaliar:

A eficácia de estratégias específicas como consultas prolongadas, repositórios digitais de guidelines e programas educativos direcionados;

O papel da inteligência artificial (IA) na identificação de medicamentos inapropriados, avaliação de risco e geração de recomendações personalizadas de desprescrição;

As barreiras e facilitadores à desprescrição em diferentes populações (idosos, multimórbidos, pessoas com défice cognitivo);

O impacto da colaboração interprofissional, envolvendo médicos, farmacêuticos e enfermeiros, na adesão e segurança do processo.

Conclusão

A criação da Rede Portuguesa de Desprescrição (PTDeN) marca um ponto de viragem na promoção da segurança medicamentosa em Portugal. Ao congregar profissionais e investigadores, a rede cria uma base sólida para integrar a desprescrição nos cuidados de saúde de qualidade. Com o apoio de ferramentas digitais, formação contínua e investigação aplicada, a PTDeN afirma-se como referência nacional e internacional na otimização da terapêutica em populações envelhecidas. A desprescrição é o futuro da boa prescrição.

Saiba mais em: https://ptdeprescribing.wordpress.com/ 

Fonte: Saúde Online

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