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Jameela Jamil. “As redes sociais são responsáveis pelo declínio da saúde mental na nossa sociedade”

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A atriz, apresentadora e ativista britânica Jameela Jamil era uma das presenças mais antecipadas da Web Summit deste ano. E não é para menos: para além de ser conhecida por papéis em séries como “The Good Place” ou “She-Hulk” e pelas suas passagens pelo Channel 4 e BBC Radio 1, é uma das vozes menos filtradas da Internet.

Fiel ao seu estilo combativo mas divertido, subiu ao palco principal de um dos maiores eventos de tecnologia do planeta, em Lisboa, mas não se deixou intimidar, aproveitando para defender, entre frases duras e momentos de boa disposição, que as redes sociais “são responsáveis pelo declínio da saúde mental na nossa sociedade”, criticar os bilionários tecnológicos e deixar avisos quanto à Inteligência Artificial.

Numa entrevista exclusiva à Renascença – dada logo depois de deixar o mesmo palco por onde, momentos antes, passaram líderes do TikTok, Boston Dynamics ou Lyft- , a atriz fez questão de aplaudir a decisão portuguesa de proibir telemóveis nas escolas.

“Acho isso fantástico e apoio muito esta ideia. Acredito que, com isso, assistiremos a um aumento da capacidade de atenção, felicidade e bem-estar das crianças e, com sorte, a uma diminuição da misoginia extrema, da cultura dos distúrbios alimentares e da ideação suicida”, acredita a apresentadora, voz ativa contra o algoritmo que, em 2018, criou a comunidade “I Weigh” para defender a “inclusão radical”, a aceitação corporal e a saúde mental.

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“As plataformas de redes sociais são responsáveis pelo declínio da saúde mental da nossa sociedade”, começa por dizer, lamentando que quem as use seja “bombardeado com desinformação”.

“Os algoritmos perseguem adolescentes, rapazes e raparigas, em questão de minutos ou segundos, disseminando misoginia extrema, cultura da dieta extremista e ódio aos padrões de beleza. É predatório. As redes sociais têm muito que se explicar”, admite Jamil, que considera os social media “muito perigosos” e, por isso, aplaude os países que “estão a tornar ilegal o uso das redes sociais por menores de 15 ou 16 anos”.

Mas como podemos ripostar? A resposta passa pela resistência. “Devemos ter muito cuidado com quem seguimos, quanto dinheiro gastamos. Devemos ser muito mais restritivos na nossa utilização, porque o que eles querem é dinheiro”, relembra. “Se continuarmos a usar as redes sociais 10 horas por dia eles vão achar que funciona e é aceitável”, lamenta.

Oficialmente, veio à Web Summit para falar sobre podcasting, uma área em que aposta há largos anos mas, à Renascença, assume que aproveitou para se informar melhor sobre o assunto do momento: Inteligência Artificial (IA).

“Quero aprender sobre as possibilidades, mas também sobre os perigos da IA e garantir que temos os responsáveis certos no controlo”, assevera a ativista, que considera que, no geral, a IA é “algo mais assustador do que positivo para o mundo”, especialmente porque “está a substituir as pessoas”.

“Estou atenta a isso e vigilante em relação ao que está a ser dito hoje para garantir que o lucro não é o único fator em discussão quando se considera o uso da IA na nossa sociedade”, revela, preocupada com “a perda extraordinária de empregos” e com o facto da IA estar a ser utilizada para “fazer arte”.

E deixa um aviso a quem mais lucra com a inovação: “Os multimilionários podem ganhar mais dinheiro com isto, mas ainda precisam de partilhar a mesma sociedade que nós. Se todos estivermos desempregados, desesperados, sem dinheiro para comida e sem nada para fazer, sem qualquer propósito, isso pode transformar todas as cidades em Gotham City”, assegura, citando a célebre cidade do crime de Batman. “Espero que as pessoas sejam responsáveis”, pede, garantindo que, de sua parte, nunca o fez nem nunca aceitaria contracenar com um ator gerado por Inteligência Artificial – como Tilly Norwood, apresentada no dia anterior, na mesma Web Summit.


Tem o I Weigh pelo menos desde 2018. Como evoluiu ao longo dos anos?

O I Weigh surgiu num momento pré-menstrual na internet, em que estava cansada da forma como valorizamos as mulheres apenas pela balança, em vez de reconhecermos as nossas inúmeras conquistas e contributos para a sociedade. Então, postei sobre isso e tornou-se viral, teve bastante repercussão e já lá vão quase oito anos. As pessoas continuam com este sentimento de reconhecimento do seu próprio valor, pelo que o projeto se transformou num grande podcast e numa empresa de media. Fizemos documentários e é bom saber que não estou sozinha nesta indignação.

Acha que as plataformas de redes sociais deveriam responsabilizar-se pela nossa saúde mental?

Sim, as plataformas de redes sociais são responsáveis pelo declínio da saúde mental na nossa sociedade.

Também nos bombardeiam com desinformação. Os algoritmos perseguem adolescentes, rapazes e raparigas, em questão de minutos e segundos, disseminando misoginia extrema, cultura da dieta extremista e ódio aos padrões de beleza. Acho que vi recentemente uma notícia sobre como, se uma adolescente apaga uma selfie, o algoritmo passa a bombardeá-la com anúncios de produtos para a tornar mais bonita.

Portanto, é predatório. As plataformas de redes sociais têm muito que explicar. São muito perigosas e aplaudo todos os países que estão a tornar ilegal o uso das redes sociais por menores de 15 ou 16 anos.

Como podemos ripostar?

Devíamos deixar de usar as redes sociais até que eles ripostem e nós também. Devemos ter muito cuidado com quem seguimos, quanto dinheiro gastamos na loja do TikTok ou do Instagram, etc. Devemos ser muito mais restritivos na nossa utilização, porque o que eles querem é dinheiro. Assim, se continuarmos a usá-lo sempre, 10 horas por dia, eles vão achar que funciona e que é aceitável. Acho que os pais também precisam de tomar medidas para retirar as redes sociais de casa. Não devem estar a navegar no Instagram na frente dos seus filhos. Nas escolas… não deveria estar nem perto das escolas.

É o que estamos a fazer em Portugal neste momento.

Exatamente. Acho isso fantástico e apoio muito esta ideia. Acredito que assistiremos a um aumento da capacidade de atenção, felicidade e bem-estar das crianças e, com sorte, a uma diminuição da misoginia extrema, da cultura dos distúrbios alimentares e da ideação suicida.

O “papá algoritmo” é um mau “pai”?

O “pai algoritmo” [expressão que utiliza nas redes sociais] é um pai muito, muito mau e eu detesto-o.

O que espera aprender com a Web Summit, um fórum tão orientado para a IA?

Aprender sobre as possibilidades, mas também sobre os perigos da IA e garantir que temos os responsáveis certos no controlo. No geral, considero a IA algo mais assustador do que positivo para o mundo, porque está a substituir as pessoas, e as pessoas são grandes inovadoras, têm empatia e preocupam-se com a continuidade da sociedade e da humanidade. Por isso, estou atenta e vigilante em relação ao que está a ser dito hoje para garantir que o lucro não é o único fator em discussão quando se considera o uso da IA na nossa sociedade, porque isso levará a uma perda extraordinária de empregos, como já está a acontecer.

Como alguém disse brilhantemente na internet: ‘eu pensava que a IA deveria realizar tarefas administrativas para que eu pudesse fazer arte, mas, em vez disso, a IA está a fazer arte enquanto eu fico com mais tarefas administrativas’. Acho que isto é algo realmente preocupante, porque os multimilionários podem ganhar mais dinheiro com isto, mas ainda precisam de partilhar a mesma sociedade que nós. Se todos estiverem desempregados, desesperados, sem dinheiro para a comida e sem nada para fazer, sem qualquer propósito, estas pessoas serão enormemente impactadas. Isto transformará todas as cidades em Gotham City. Assim, pode ter muito dinheiro no seu castelo, mas quando sair dele, estará no inferno se permitir que uma sociedade entre em decadência. Espero que as pessoas sejam responsáveis. Mas, na verdade, não tenho uma opinião formada sobre isso.

Se houver planeta para viver…

Sim, se existir um planeta habitável.

Também é atriz. Sei a resposta a esta pergunta, mas preciso de a perguntar na mesma: aceitaria contracenar com um ator de IA?

Não.

Já teve de o fazer antes ou ninguém a convidou?

Não.

Eles não vão perguntar, certo?

Não.

Tem algum projeto que devamos ter em atenção?

Tenho um filme que estreou chamado “A Merry Little Xmas” com a Alicia Silverstone, que é um ícone dos anos 90. É um filme de Natal. E tenho um podcast chamado “Wrong Turns”, um podcast de comédia desastrosa que certamente te vai fazer feliz. Ele alegra a semana de muita gente porque é muito engraçado e constrangedor para os convidados. Além disso, tenho várias coisas que estou a escrever e a filmar para o próximo ano. Acabei de filmar o meu primeiro drama para a BBC, por isso estou a tentar ser mais séria, mas os resultados têm sido bastante variados. Assim, verão mais de mim no próximo ano.


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