
Como o fluxo do fluido cerebral prevê a sobrevivência no glioblastoma

A depuração interrompida do fluido cerebral no hemisfério oposto ao tumor surge como um forte preditor independente de sobrevivência em pacientes com glioblastoma de tipo selvagem IDH. Crédito: Professor Akifumi Hagiwara/Faculdade de Medicina, Universidade Juntendo, Japão
O glioblastoma – a forma mais agressiva de câncer cerebral – continua sendo um dos maiores desafios da medicina. Apesar da cirurgia, radioterapia e quimioterapia, a maioria dos pacientes sobrevive apenas cerca de um ano após o diagnóstico.
No entanto, uma nova descoberta pode mudar a forma como os médicos entendem e monitorizam esta doença mortal. Especificamente, o estudo concentrou-se no glioblastoma de tipo selvagem da isocitrato desidrogenase (IDH), a forma mais comum e de rápido crescimento do tumor, conhecida pelo seu mau prognóstico e opções de tratamento limitadas.
Num estudo publicado em Neuro-Oncologiaos pesquisadores descobriram que regiões cerebrais distantes do tumor – conhecidas como hemisfério contralateral (o lado oposto ao tumor) – podem revelar pistas vitais sobre a sobrevivência de um paciente com glioblastoma de tipo selvagem IDH.
A equipe foi liderada pelo Professor Associado Akifumi Hagiwara, em colaboração com o Sr. Takuya Ozawa, o Prof. Koji Kamagata da Faculdade de Medicina da Universidade de Juntendo e o Dr.
Como a ressonância magnética revela alterações cerebrais ocultas
Usando técnicas avançadas de ressonância magnética (MRI), a equipe mostrou que distúrbios no sistema interno de “fluxo de fluido” do cérebro predizem quanto tempo os pacientes viverão, independentemente do tamanho ou localização do tumor.
Hagiwara explica: “Descobrimos que mesmo regiões cerebrais distantes do tumor mostram sinais de interrupção da circulação de fluidos. Essa disfunção estava fortemente ligada a uma sobrevida mais curta, sugerindo que o glioblastoma não é apenas uma doença local, mas afeta todo o ambiente cerebral”.
Esse fluxo de fluido, conhecido como sistema glinfático, atua como uma rede de limpeza e drenagem do cérebro. Ajuda a remover resíduos, proteínas e outros materiais indesejados, fazendo circular fluido ao longo dos vasos sanguíneos e através do tecido cerebral. Quando este sistema falha, podem acumular-se substâncias tóxicas, causando inflamação e danos adicionais.
O estudo analisou dados de ressonância magnética de um total de 546 pacientes em dois grandes conjuntos de dados clínicos. Os pesquisadores usaram dois marcadores de imagem não invasivos – análise de imagem por tensor de difusão (DTI) ao longo da imagem do espaço perivascular (ALPS) e da água livre (FW) – para medir o movimento e o acúmulo de fluido no tecido cerebral.
Em termos simples, o DTI-ALPS mede a facilidade com que as moléculas de água se movem ao longo dos minúsculos canais que correm ao lado dos vasos sanguíneos, enquanto a imagem FW estima a quantidade de fluido livre retido entre as células cerebrais. Um índice ALPS mais baixo (indicando um movimento mais lento da água) e níveis mais elevados de FW (indicando acumulação de fluidos) apontaram para piores resultados de sobrevivência.
Implicações para tratamento e pesquisas futuras
Pacientes com circulação de fluidos mais saudável – valores ALPS mais elevados e níveis mais baixos de FW – viveram significativamente mais tempo do que aqueles com fluxo prejudicado. Notavelmente, estes padrões foram observados no hemisfério contralateral, o lado do cérebro oposto ao tumor, destacando que mesmo áreas que parecem normais nos exames podem ser afetadas.
As implicações são de longo alcance. Se confirmadas em ambientes clínicos, as avaliações da dinâmica dos neurofluidos baseadas em ressonância magnética podem se tornar uma nova ferramenta para o planejamento de tratamento personalizado. Pacientes com função glinfática deficiente podem se beneficiar de terapias mais intensivas ou direcionadas, como imunoterapia ou medicamentos que restauram o equilíbrio dos fluidos cerebrais.
Hagiwara acrescenta: “No futuro, esperamos que esses marcadores de imagem possam ajudar a identificar precocemente pacientes de alto risco e orientar tratamentos que melhorem a circulação de fluidos. Além do glioblastoma, esta abordagem também pode avançar nossa compreensão de outros distúrbios cerebrais ligados à eliminação prejudicada de resíduos, como a doença de Alzheimer”.
O estudo também abre novos caminhos para a inovação terapêutica. Os tratamentos destinados a melhorar a função glinfática – como otimizar o sono, reduzir a inflamação ou modular canais de água específicos (aquaporinas) no cérebro – podem potencialmente melhorar os resultados.
Estas estratégias poderão um dia complementar as terapias convencionais contra o cancro, restaurando a capacidade natural do cérebro de eliminar substâncias nocivas.
Repensando o glioblastoma como uma doença cerebral total
Ao descobrir esta dimensão oculta do glioblastoma, a investigação sublinha a importância de olhar além do tumor visível. O próprio sistema de encanamento do cérebro – antes considerado passivo – parece desempenhar um papel ativo na determinação do desempenho dos pacientes.
Hagiwara conclui: “O glioblastoma tem sido visto há muito tempo como uma doença de crescimento celular descontrolado, mas nosso estudo mostra que também envolve um colapso na forma como o cérebro mantém seu ambiente interno. Compreender e restaurar esse equilíbrio pode ser a chave para melhorar a sobrevivência e a qualidade de vida dos pacientes”.
Mais informações:
Akifumi Hagiwara et al, Contralateral Neurofluid Dynamics Predict Survival in IDH Wild-type Glioblastoma: A DTI-ALPS and Free Water Imaging Study, Neuro-Oncologia (2025). DOI: 10.1093/neuonc/noaf242
Fornecido pela Universidade Juntendo
Citação: Como o fluxo do fluido cerebral prevê a sobrevivência no glioblastoma (2025, 14 de novembro) recuperado em 14 de novembro de 2025 em https://medicalxpress.com/news/2025-11-brain-fluid-survival-glioblastoma.html
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