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SNS: o melhor seguro de saúde dos portugueses

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Houve um tempo, não há muito, em que o Serviço Nacional de Saúde foi aplaudido das varandas. Um tempo em que o mundo olhou para Portugal com admiração, quando os seus profissionais, de máscara e alma, fizeram do medo coragem e da escassez resiliência. Foi o tempo da pandemia, quando o SNS provou ser o que sempre foi: um pilar civilizacional, o maior património coletivo que este país alguma vez construiu.

Mas o tempo das palmas passou. E o silêncio que ficou é ensurdecedor.
Hoje, o SNS parece um navio cansado, remendado por dentro e corroído por fora, onde se continua a exigir mais de quem já deu tudo. E onde os decisores, cada vez mais distantes do terreno, continuam a acreditar que o problema se resolve com relatórios, planos e powerpoints.

Estive presente em quatro comissões da reforma da saúde pública. Quatro tentativas sérias de redesenhar o futuro, com equipas técnicas dedicadas, documentos estruturados e propostas sólidas. Quatro esperanças que morreram lentamente, abafadas entre mudanças de gabinete e a falta de coragem política para ouvir quem, no terreno, conhece a realidade e sente o pulso das populações.

A reforma nunca aconteceu. O SNS foi ficando. E nós, profissionais, fomos ficando com ele porque acreditamos.

Entretanto, o setor privado cresce à sombra do enfraquecimento do público. É legítimo que exista e que prospere. Mas não nos iludamos: não é substituto.
Os hospitais privados não têm urgências polivalentes, não fazem saúde pública, não asseguram vacinação, vigilância epidemiológica nem programas de literacia em saúde. Procuram o previsível, o rentável, o que cabe num orçamento.
Mas a vida e a doença são tudo menos previsíveis.

Imagine uma situação de emergência grave durante a madrugada, como uma reação alérgica severa ou uma crise médica inesperada. Uma ambulância chega, mas nem sempre há especialistas disponíveis ou suporte intensivo imediato no momento certo. Nos casos mais complexos, o SNS público continua a ser o único sistema estruturado para atender a todos, sem depender de capacidade de mercado ou rentabilidade. E então? O que vale a sua conta bancária? Nada. Porque o problema não é o dinheiro, é a ausência de um sistema preparado para todos.

A medicina privada não é vilã. Atua racionalmente num mercado com fronteiras claras. Mas o SNS é mais do que racional: é humano. É o espaço onde o idoso frágil encontra amparo, o doente raro encontra resposta e a criança sem seguro encontra futuro. É o sítio onde ainda se cuida porque é dever, não porque é negócio.

O erro maior tem sido político e estrutural: pensar que o mercado pode substituir o Estado.
Não pode. Porque o privado só funciona bem enquanto o SNS ainda existe. No dia em que o SNS colapsar, e já há sinais disso, o sistema inteiro entra em rutura.
Sem o SNS, não há emergência pré-hospitalar, não há saúde pública, não há rede. E, quando a rede cai, caímos todos.

E é por isso que a pergunta se impõe: de quem é a culpa?
Do enfermeiro exausto, que continua a tentar fazer o impossível?
Do médico que procura um futuro mais digno?
Do utente que reclama porque espera?
Ou dos decisores que, ao longo de décadas, ignoraram os sinais e deixaram o SNS definhar, convencidos de que resistiria para sempre?

A culpa é coletiva. É de todos nós, por termos alimentado a ilusão de que um sistema pode sobreviver sem investimento, sem respeito e sem escuta.
Mas é sobretudo de quem teve o poder de mudar e não quis ouvir. De quem confundiu reforma com retórica e planeamento com propaganda.

Se queremos salvar o SNS, temos de começar por democratizá-lo.
Os enfermeiros diretores e diretores executivos das Unidades Locais de Saúde devem ser eleitos pelos seus pares, garantindo legitimidade técnica e reconhecimento do terreno.
E em cada Conselho de Administração deve existir um elemento consultivo dos utentes, com assento permanente, caso ainda não exista, que represente verdadeiramente a voz de quem o sistema serve.

Sem esta escuta, qualquer reforma continuará a nascer muda e a morrer surda.

O SNS é o maior seguro de saúde de todos os portugueses, ricos e pobres. É ele que segura o país quando tudo o resto falha. E mesmo os mais ricos não terão proteção real: nenhum seguro de saúde privado consegue oferecer o que o Serviço Nacional de Saúde garante. E é por isso que vemos cada vez mais profissionais a emigrar, à procura de sistemas que valorizem a sua prática, como acontece nos Estados Unidos e noutros países.

Houve um tempo, não há muito, em que o Serviço Nacional de Saúde foi aplaudido das varandas. Um tempo em que o mundo olhou para Portugal com admiração, quando os seus profissionais, de máscara e alma, fizeram do medo coragem e da escassez resiliência. Foi o tempo da pandemia, quando o SNS provou ser o que sempre foi: um pilar civilizacional, o maior património coletivo que este país alguma vez construiu.

Mas o tempo das palmas passou. E o silêncio que ficou é ensurdecedor.
Hoje, o SNS parece um navio cansado, remendado por dentro e corroído por fora, onde se continua a exigir mais de quem já deu tudo. E onde os decisores, cada vez mais distantes do terreno, continuam a acreditar que o problema se resolve com relatórios, planos e powerpoints.

Estive presente em quatro comissões da reforma da saúde pública. Quatro tentativas sérias de redesenhar o futuro, com equipas técnicas dedicadas, documentos estruturados e propostas sólidas. Quatro esperanças que morreram lentamente, abafadas entre mudanças de gabinete e a falta de coragem política para ouvir quem, no terreno, conhece a realidade e sente o pulso das populações.

A reforma nunca aconteceu. O SNS foi ficando. E nós, profissionais, fomos ficando com ele porque acreditamos.

Entretanto, o setor privado cresce à sombra do enfraquecimento do público. É legítimo que exista e que prospere. Mas não nos iludamos: não é substituto.
Os hospitais privados não têm urgências polivalentes, não fazem saúde pública, não asseguram vacinação, vigilância epidemiológica nem programas de literacia em saúde. Procuram o previsível, o rentável, o que cabe num orçamento.
Mas a vida e a doença são tudo menos previsíveis.

Imagine uma situação de emergência grave durante a madrugada, como uma reação alérgica severa ou uma crise médica inesperada. Uma ambulância chega, mas nem sempre há especialistas disponíveis ou suporte intensivo imediato no momento certo. Nos casos mais complexos, o SNS público continua a ser o único sistema estruturado para atender a todos, sem depender de capacidade de mercado ou rentabilidade. E então? O que vale a sua conta bancária? Nada. Porque o problema não é o dinheiro, é a ausência de um sistema preparado para todos.

A medicina privada não é vilã. Atua racionalmente num mercado com fronteiras claras. Mas o SNS é mais do que racional: é humano. É o espaço onde o idoso frágil encontra amparo, o doente raro encontra resposta e a criança sem seguro encontra futuro. É o sítio onde ainda se cuida porque é dever, não porque é negócio.

O erro maior tem sido político e estrutural: pensar que o mercado pode substituir o Estado.
Não pode. Porque o privado só funciona bem enquanto o SNS ainda existe. No dia em que o SNS colapsar, e já há sinais disso, o sistema inteiro entra em rutura.
Sem o SNS, não há emergência pré-hospitalar, não há saúde pública, não há rede. E, quando a rede cai, caímos todos.

E é por isso que a pergunta se impõe: de quem é a culpa?
Do enfermeiro exausto, que continua a tentar fazer o impossível?
Do médico que procura um futuro mais digno?
Do utente que reclama porque espera?
Ou dos decisores que, ao longo de décadas, ignoraram os sinais e deixaram o SNS definhar, convencidos de que resistiria para sempre?

A culpa é coletiva. É de todos nós, por termos alimentado a ilusão de que um sistema pode sobreviver sem investimento, sem respeito e sem escuta.
Mas é sobretudo de quem teve o poder de mudar e não quis ouvir. De quem confundiu reforma com retórica e planeamento com propaganda.

Se queremos salvar o SNS, temos de começar por democratizá-lo.
Os enfermeiros diretores e diretores executivos das Unidades Locais de Saúde devem ser eleitos pelos seus pares, garantindo legitimidade técnica e reconhecimento do terreno.
E em cada Conselho de Administração deve existir um elemento consultivo dos utentes, com assento permanente, caso ainda não exista, que represente verdadeiramente a voz de quem o sistema serve.


Sem esta escuta, qualquer reforma continuará a nascer muda e a morrer surda.

O SNS é o maior seguro de saúde de todos os portugueses, ricos e pobres. É ele que segura o país quando tudo o resto falha. E mesmo os mais ricos não terão proteção real: nenhum seguro de saúde privado consegue oferecer o que o Serviço Nacional de Saúde garante. E é por isso que vemos cada vez mais profissionais a emigrar, à procura de sistemas que valorizem a sua prática, como acontece nos Estados Unidos e noutros países.

Fonte: Lifestyle Sapo

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