
Uma década de apoio a startups portuguesas. Setor representa “1% do PIB e 1,5% das exportações”
A Startup Portugal completa 10 anos de existência no próximo ano, que balanço pode ser feito desta década? É positivo?
O balanço é extremamente positivo. Há 10 anos nem sequer falávamos em unicórnios portugueses, há 10 anos não tínhamos apoiado mais de 10 mil startups a passar aqui pela Web Summit e a singrarem no mercado, e há 10 anos havia muito pouco investimento em start-ups. Agora temos quase 450 milhões, por exemplo, o ano passado, investido em startups portuguesas. Portanto, há vários indicadores que nos provam que estamos a ter aqui um efeito bola de neve todos os anos, que nos faz acreditar que estamos a construir uma geração de empreendedores que vai fazer muito pelo nosso país.
Esse dinheiro é tudo dinheiro público?
Não, não, não, muito dinheiro privado também, dinheiro também, cada vez mais em termos percentuais, internacional, não só investidores locais portugueses, mas também investidores internacionais a apostarem em empresas com DNA portuguesa, o que é também muito importante.
Nesta década, mudou o perfil dos empresários portugueses? Existia algum conservadorismo e medo de arriscar que agora está ultrapassado?
O mundo ficou muito mais pleno nos últimos 10 anos, tivemos várias ondas tecnológicas que fizeram transformar muito o mundo, e também a Covid. Antes da Covid tínhamos muito mais reuniões presenciais e agora conseguimos fazer negócios totalmente remotos, trabalhar por Zoom ou via internet e fazer as coisas acontecerem é muito mais normal do que ter que ir para a reunião física e fechar um negócio.
Ora, com a emergência da internet, cloud, mobile e agora AI, de qualquer parte do mundo, um empreendedor pode criar algo novo e competir num contexto global.
Isto, primeiro, torna mais fácil criar, há menos barreiras a criar empresas, mas também torna-se mais difícil uma pessoa sobressair.
Portanto, os empreendedores para sobressaírem têm que ser mais agressivos, têm que arriscar mais, têm que tomar mais risco, mais cedo para realmente ver se aquele negócio tem pernas para andar.
Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui
E as empresas portuguesas têm o que é preciso para pôr os negócios a andar?
Eu acho que sim. Trabalhei muitos anos – e continuo a fazer –enquanto investidor de capital de risco. Agora estou aqui também a contribuir nesta função não executiva como presidente da StarUp Portugal para ajudar as empresas portuguesas e falo com empreendedores de todo o mundo.
Realmente acho que os empreendedores portugueses têm algumas características que são ímpares. O facto de estarem num país relativamente pequeno no contexto mundial faz com que sejam mais ambiciosos desde o início e pensar global logo no início, porque, em condições normais, o mercado natural deles, que é Portugal, é demasiado pequeno para o projeto que estão a montar.
Portanto, têm que pensar logo como é que eu vou vender isto noutro país, num país maior, num mercado maior, e isso é essencial para o sucesso deles.
Há muitos anos que se fala desse potencial do empreendedorismo e como Portugal pode ser um líder, ou como pode ser pelo menos um player importante na área do empreendedorismo, mas em Portugal há milhares de pessoas, mais de dois milhões, que continuam a ganhar pouco, continuam a ganhar salários mínimos ou semelhantes. Como é que é possível, como é que se explica a estas pessoas que o empreendedorismo é importante? Será que não se está aqui a criar a sensação de um país mais desigual?
Não, eu acho que não, acho que a tecnologia é um grande equalizador e estas empresas que têm o DNA tecnológico, de facto as pessoas que trabalham lá estão a ganhar acima da média, estão a criar mais valor para o país. Isso tem um efeito contágio positivo no resto da economia portuguesa, porque à medida que a percentagem de empresas que nós temos a nascer em Portugal tem este carácter mais tecnológico, estamos a aumentar realmente a produtividade de Portugal e a capacidade de entregar mais valor, num contexto competitivo a nível global. Toda a gente vai ganhar com isso, a economia vai ganhar com isso e evoluir para indústrias onde este valor acrescentado existe é extremamente importante para o país.
Sabe-se quantas pessoas vivem em Portugal do mundo do empreendedorismo e da tecnologia?
Vou fazer umas contas. Nós temos cerca de 4.700 startups em Portugal… Imaginemos se calhar entre 5 a 10 pessoas em cada, estamos a falar em 25 mil a 50 mil pessoas a trabalhar em start-ups. Mas depois há todas as outras pessoas que trabalham em entidades que estão a apoiar as startups também, que estão relacionadas para o mundo do empreendedorismo, mas se calhar estamos a falar algo entre 25 a 50 mil pessoas.
E isso per capita coloca Portugal em que lugar da tabela?
Antes nem aparecíamos no mapa, agora, por exemplo, em termos de percentagem do Produto Interno Bruto (PIB), as startups representam 1% do PIB mas exportam 1.5%. Ou seja, são empresas que exportam mais de 60% do que fazem. Tem um impacto extremamente positivo também nessa perspetiva e tem vindo a crescer esse número.
Todos os anos estamos a ter cada vez mais startups a nascer mais do que aquelas que morrem.
Quais é que são as áreas em que Portugal tem mais capacidade de vingar?
Temos algumas startups a trabalhar muito em coisas mais ligadas à saúde, agricultura, outras mais ligadas à tecnologia para retalho. Há startups em vários setores, acho que não há nenhum assim que se destaque em demasia face aos outros, sinceramente.
A Startup Portugal apoia mais um ano a presença de empresas portuguesas no Web Summit, quantas estão este ano?
Este ano são 115 empresas espetaculares e é engraçado que mais de metade são fora do Porto e Lisboa. É interessante, o empreendedorismo está cada vez mais disseminado pelo país e prova que o talento não vem só dos principais centros urbanos que temos no nosso país.
Temos estado a falar de um lado mais ou menos cor-de-rosa do empreendedorismo, mas há certamente dificuldades no setor. Quais são dois ou três problemas que os empreendedores em Portugal ainda continuam a encontrar e que seriam urgentes debelar?
Eu acho que há um bastante relevante, tem sido muito falado até com o arranque do Web Summit… Estamos num mundo cada vez num ritmo muito mais elevado diz-se que a Europa está a ficar para trás, porque é muito mais burocrática, muito mais regulada O Governo, por exemplo, já anunciou agora durante a Web Summit, que vai fazer um esforço para tirar a burocracia e o peso da burocracia num conjunto de atividades que temos associados às empresas portuguesas, e isso é extremamente importante.
Mas isto não é uma promessa repetida, que nunca é cumprida…
Mas achamos que é importante ver o Governo assumir isso como realmente um problema, em primeiro lugar, e que querem endressá-lo de cabeça. Portanto, acho que temos que fazer muito mais em realmente simplificar, desburocratizar e garantir que as startups e os empreendedores e os empresários portugueses conseguem realmente fazer as coisas avançar sem estarem presos por amarras burocráticas.
E acredita que agora é que vai ser?
Tem que ser
Source link


