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Destino traçado

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É-me cada vez mais difícil de compreender como ainda há pessoas que se deixam seduzir por lugares de ministros. Ou por cargos públicos, de um modo geral. A exposição permanente, o escrutínio sistemático, a invasão da privacidade, os baixos salários, a crueldade desenfreada das redes sociais, a desproporcionalidade da crítica (insignificante quando é positiva, demolidora quando algum aspecto negativo surge)constituem factores, a meu ver, suficientemente desmobilizadores para quem tenha estudado e trabalhado, anos a fio, no sentido de construir uma carreira profissional digna e assente em parâmetros de competência.

A sociedade altamente mediatizada em que vivemos convida a que os melhores, ou, pelo menos, os mais bem preparados, se afastem.

Vem isto a propósito dos insistentes pedidos para que Luis Montenegro demita a ministra da Saúde. As críticas a Ana Paula Martins têm-se acumulado e percorrem transversalmente o sector, transformando-a no alvo privilegiado de toda a contestação.

Independentemente dos méritos ou deméritos da ministra, a realidade é que o Serviço Nacional de Saúde tem problemas profundíssimos que não podem ser imputados ao ministro A ou B, ao PSD ou ao PS. Milhões e milhões são queimados anualmente na fogueira do SNS, com o objectivo de alimentar um monstro de muitas cabeças, devorador insaciável de dinheiro, que se volatiliza ao ritmo das reclamações de utentes e da da pressão imparável das corporações.

Já não alimento ilusões: estamos condenados a que seja assim sempre. Governos e oposições habituaram-se e habituaram-nos, a todos, a um jogo esquizofrénico de promessas e de passa culpas, que, no fundo, esconde a impotência crónica de políticos e dirigentes para reconhecerem que o SNS português, sendo um dos melhores da Europa, está, em muitos aspectos e tendo em conta a realidade nacional, uns bons furos acima da generalidade dos serviços públicos, mas tem debilidades estruturais que nenhuma propaganda resolve.

Somos um País pequeno e pobre, mas com a legítima aspiração a ter a qualidade de vida de quem é rico. Praticamente todo o discurso político, quando aborda as questões da Saúde, corrobora a ideia de que, em tempo recorde, se pode acabar com as listas de espera, com a falta de médicos e enfermeiros, com o fecho das urgências, com as cirurgias em atraso, enfim, com todas as questões e desgraças que, diariamente, consomem a paciência e ocupam horas e horas nos noticiários. Não sei como ainda se acredita nesse discurso, que pressupõe a existência de uma árvore das patacas ao alcance da mão para que os milagres aconteçam. Melhor seria que quem ciclicamente nos vai governando se empenhasse na criação de um modelo que garantisse uma gestão mais competente e eficaz dos hospitais e do SNS, em geral. Melhor seria que houvesse a coragem de perceber que um sistema de saúde só consegue proporcionar coberturas cada vez mais amplas e exigentes, se trabalhar em rede, integrando público, privado e sector social. O resto é demagogia e conversa para ingénuos.

Importante seria, por exemplo, por ordem no papel dos médicos, a única classe profissional que não conhece desemprego. Os médicos não são gestores nem têm de ser, mas o SNS é, na prática, produto dos seus interesses e das suas vontades. A Ordem continua a ter poderes que manietam todo o desenvolvimento que vise a racionalização do sistema.

O Serviço Nacional de Saúde é um polvo. Domá-lo implica coragem para contrariar interesses corporativos e cortar a direito. Duvido que ela exista.

Assim, iremos continuar a assistir ao contínuo lançamento de ministros para a fogueira. Mais competentes ou menos, com mais ou menos jeito para a comunicação todos acabam da mesma maneira. Ana Paula Martins é mais uma cabeça para rolar. Quem lhe suceder que se prepare, pois o seu destino não será diferente.

Fonte: Lifestyle Sapo

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