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Fernando Rosas aponta “erros graves” a Mortágua e pede “empatia” e “ousadia” à futura direção

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Fernando Rosas, historiador e fundador do Bloco de Esquerda (BE), aponta “erros graves” à atual direção, mas considera que Mariana Mortágua, que anunciou no último fim-de-semana a decisão de não se recandidatar à liderança do partido, foi vítima de “patriarcalismo reacionário” por parte da extrema-direita, como nunca viu acontecer antes.

Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal Público, Fernando Rosas aconselha a futura direção a “não temer estar em minoria” e usa a palavra “radical” como um adjetivo elogioso.

O antigo deputado bloquista e cabeça de lista do BE pelo círculo de Leiria nas legislativas de maio critica a direção de Mortágua pela polémica com o despedimento de trabalhadoras que tinham sido mães há pouco tempo. “Na forma como o assunto foi tratado terá havido erros que se pagaram”. Rosas atira contra “um certo estilo de direção muito centralizado e de desvalorização da própria comissão política” do partido, algo que considera que “tem de ser corrigido” na convenção marcada para o fim de novembro.

Quanto à possibilidade de um partido como o BE desaparecer, Fernando Rosas diz que enquanto houver problemas na habitação ou na saúde “o terreno social e político para a existência de um partido como o Bloco continuará a existir”.

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O que se está a passar com o BE? A culpa é do eleitorado ou há uma responsabilidade partilhada da direção?
A crise das esquerdas em Portugal — e também a do Bloco — é uma crise europeia. Estamos a viver na Europa a segunda crise histórica dos sistemas liberais do Ocidente. A primeira ocorreu na sequência da Grande Depressão de 1929, a segunda está agora em curso. O sistema do capitalismo neoliberal está a falir e isso motiva o afundamento dos partidos do centro. Em Portugal, o PS e o PSD deixaram de representar a maioria do eleitorado, pelo menos em termos eleitorais e a esquerda à esquerda do PS é também arrastada por esse processo. Por outro lado, à direita, há a constituição de um pólo que se tornou vulnerável à demagogia populista, fascizante, xenófoba e racista, capaz de captar o sentimento de desconforto e, até, de raiva.

E por que razão o Bloco não conseguiu contrariar essa tendência?
Porque não encontrou uma resposta eficaz e credível. O BE precisa de reencontrar um caminho de resposta nesta nova situação, em que há um grande desvio de parte da opinião pública para a direita e uma vulnerabilidade crescente aos argumentos de uma extrema-direita muito agressiva e fascizante. O BE precisa de o fazer, tal como o PCP.

O Livre parece não ter tido esse problema, já que tem obtido algum sucesso eleitoral.
O Livre, com todo o respeito, é, em certos aspetos, uma esquerda de que a direita gosta, uma esquerda mais conjuntural. Mas o Livre enfrenta também problemas sérios, como os restantes partidos da esquerda. Há uma deslocação de parte da opinião pública não só para a direita, mas para os valores da extrema-direita, ligados à xenofobia, ao racismo e ao culto do passado salazarista. E tudo isso é muito inquietante.

Imagine que a extrema-direita ganha as eleições em França, em Espanha, no Reino Unido. Já está no poder em Itália e, na realidade, também nos Países Baixos. O que acontecerá à democracia social e política na Europa? Estamos num cotovelo da história muito complicado.

É inevitável Portugal seguir o mesmo caminho?
Há essa possibilidade, claro que há. A vitória deste trumpismo enlouquecido tem um impacto internacional brutal, generalizado, que se repercute em toda a Europa.

Mariana Mortágua tomou posse há dois anos e meio, quando o mundo já dava sinais dessa viragem. Por que motivo esta direção do BE não conseguiu, nessa altura, ler a realidade e adaptar-se?
A direção do Bloco tem tido dificuldade em construir uma resposta credível e eficaz a esta deslocação para a direita que se verifica também em Portugal. Agora, Mariana Mortágua anunciou que, no fim do mandato, não se recandidatará. Foi uma decisão ponderada, tomada por vontade própria, ninguém a empurrou.

Fez bem?
Foi uma decisão justificada, porque, sob a sua direção, o BE sofreu, pelo menos, duas derrotas eleitorais muito significativas. A resposta política do Bloco não correspondeu, como os resultados mostram, ao que poderia ser uma resistência ou um contrapeso à ofensiva da extrema-direita. Falhou nesse aspeto, não há dúvida. O Bloco tem agora uma convenção, no fim de novembro, onde se avaliará essa situação. O Bloco renovará substancialmente a sua direção para enfrentar esta conjuntura.

Mas nunca teve tão poucos votos.
Exatamente. O Bloco está numa situação difícil. Mas, enquanto milhões de portugueses não tiverem direito à habitação, enquanto o Serviço Nacional de Saúde (SNS) for destruído pela ofensiva privatizadora, enquanto as leis laborais estiverem sob ataque, o terreno social e político para a existência de um partido como o Bloco continuará a existir. Cabe à futura direção do BE concentrar-se nesses problemas, cuja não resolução alimenta o descontentamento que sustenta a demagogia populista e reacionária da extrema-direita. Qual é o programa do Chega para a habitação? Alguém sabe? Trata-se apenas da exploração dos instintos primitivos das massas: Xenofobia, racismo, patriarcalismo reacionário. Na decisão de Mariana Mortágua de não se recandidatar pesou também este verdadeiro assassinato de caráter levado a cabo por setores da direita e da extrema-direita. Nunca vi ataque semelhante.

Por ela ser mulher?
Por ser mulher, jovem, de esquerda, por ter opções próprias de vida e querer afirmar-se com o seu estilo e ênfase pessoais como dirigente e deputada. Há uma parte da sociedade portuguesa que não perdoa isso. Se fosse um homem não teria sido alvo de semelhante ataque. Não estou com isto a dizer que não houve erros graves da parte da direção do Bloco.

Que erros graves?
As soluções encontradas para responder à ofensiva da direita não resultaram. É preciso saber aproveitar o terreno social objetivo: ter a ousadia de ir contra a corrente, não temer estar em minoria, defender convicções com pedagogia e empatia, concentrar-se nos problemas reais das pessoas.

Mariana Mortágua não teve empatia?
Tinha o seu estilo de direção. As circunstâncias em que exerceu o cargo, bem como os ataques de que foi alvo, dificultaram-lhe a tarefa.


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