
A origem da febre dos transplantes de cabelo na Turquia
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À boleia das redes sociais e dos preços baixos, a Turquia está a tornar-se o principal destino mundial para os carecas que querem fazer transplantes capilares. No entanto, o boom de popularidade traz também preocupações com o crescimento das clínicas clandestinas.
Os transplantes capilares têm ganhado popularidade em todo o mundo, e a Turquia tornou-se a sua capital não oficial. Atraídos pelos preços baixos, pelos pacotes de viagem e por uma rede crescente de clínicas, os pacientes estão a alimentar o boom desta indústria multibilionária.
A Associação Turca de Turismo de Saúde refere que um milhão de pessoas viajaram para a Turquia em 2022 para restauração capilar, gastando cerca de 2 mil milhões de dólares. Em 2024, o setor mais amplo do turismo de saúde arrecadou quase 3 mil milhões de dólares com dois milhões de visitantes, de acordo com o Ministério da Saúde.
Para muitos, o principal atrativo é financeiro. Justin R., um enfermeiro da Califórnia, disse à NPR que todo o procedimento, incluindo o voo e o alojamento, custou cerca de 3400 dólares, em comparação com os mais de 13 mil dólares das clínicas americanas. “Foi uma decisão fácil“, disse. Os aeroportos de Istambul até já têm anúncios a transplantes capilares ao lado da típica publicidade a passeios turísticos e hotéis.
Mas, no meio do marketing chamativo, os especialistas alertam para os riscos. A Sociedade Internacional de Cirurgia de Restauração Capilar recebeu relatos de clínicas clandestinas, onde funcionários sem licença realizam vários procedimentos por dia, levando a infeções, cicatrizes e resultados artificiais.
O psicólogo Glen Jankowski, autor do livro Branding Baldness, alerta que a recolha excessiva de folículos pode afetar a pressão arterial e que, por vezes, os pacientes recebem medicamentos como o minoxidil ou a finasterida sem consentimento total. “São medicamentos sérios com potenciais efeitos secundários“, disse.
O Ministério da Saúde da Turquia prometeu uma supervisão mais rigorosa, mas, com cerca de 5000 clínicas só em Istambul, a fiscalização promete ser desafiante. O próprio presidente turco Erdogan admite que a cena pode assemelhar-se a um caótico “Velho Oeste”, incentivando os pacientes a pesquisar bem antes de agendar.
O aumento da procura também é impulsionado pelas redes sociais. Plataformas como a TikTok e o Instagram estão repletas de vídeos de transformação, retratando a cirurgia como uma “melhoria de vida” que aumenta a confiança. Para muitos homens, o procedimento tornou-se tão normalizado como ir ao ginásio.
Ainda assim, nem todos acreditam. Jankowski, que estuda as pressões culturais por detrás da queda de cabelo, defende a aceitação em vez da cirurgia. “Nós achamos que o cabelo que temos no topo da cabeça tem significado, mas não tem”, disse. “Há uma beleza e uma sabedoria na calvície que infelizmente estamos a perder”.






