
Técnicos de emergência médica criticam propostas das ordens e exigem paramédicos
Associação e sindicato dos técnicos de emergência médica rejeitam as propostas das ordens dos médicos e enfermeiros para o SIEM. Acusam-nas de perpetuar um sistema falhado e defender a criação da carreira de paramédico, apontando atrasos de uma década na visão sobre os socorros.
A contestação às propostas das ordens dos médicos e enfermeiros para o futuro do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) ganhou voz através dos técnicos do setor, que as consideram desatualizadas e incapazes de resolver as falhas crónicas. A Associação Nacional de Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) não poupa críticas, sustentando que as sugestões apresentadas apenas consolidam um modelo que tem dado provas sucessivas de insucesso.
Paulo Paço, presidente da ANTEM, expressou perplexidade perante a ideia de reforçar os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) com mais médicos e enfermeiros. “Questionamos como é que, com a falta destes profissionais nos hospitais e centros de saúde, se vai garantir a sua presença no pré-hospitalar”, disse, em declarações à Lusa. A solução, defendeu, reside numa mudança de paradigma formativo. “Devemos abandonar o sistema formativo e adotar um sistema educativo”, afirmou, advogando a integração da figura do paramédico, um técnico avançado cuja introdução em Portugal tem sido polémica.
Um maior número de profissionais com este perfil, assegurou Paço, garantiria uma equidade no acesso ao suporte avançado de vida que atualmente não se verifica. Os relatórios do INEM, citados pelo dirigente, indicam que mais de vinte mil pessoas ficaram sem acesso a um socorro especializado no ano passado.
Carlos Silva, presidente da Sociedade Portuguesa de Emergência Pré-Hospitalar, ecoou o mesmo ceticismo, questionando a legitimidade das ordens para validar programas de educação. “Não compete à ordem dos médicos, nem à ordem dos enfermeiros, validar aquilo que já está validado anteriormente por pessoas com muito mais competência nesta área”, declarou, invocando o exemplo dos Estados Unidos. Para Silva, o socorro em Portugal tem uma qualidade deficiente e carece de um serviço médico de emergência eficaz, assente em técnicos devidamente qualificados colocados nas corporações de bombeiros, que, juntamente com a Cruz Vermelha, respondem a mais de 85% das ocorrências.
A sensação de desatualização foi sublinhada pelo STEPH – Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar. Rui Lázaro, seu presidente, caracterizou as propostas como algo com um “‘delay’ de cerca de 10 anos”. “Já há 10 anos, pelo menos, existem mais níveis de intervenção”, observou, acrescentando que a nota conjunta das ordens parece ignorar a existência e o papel dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH), que prestam cuidados diferenciados em dezenas de ambulâncias e motociclos do INEM. “São os profissionais em Portugal que mais formação têm em emergência médica”, vincou.
Lázaro não esqueceu o Suporte Imediato de Vida, uma rede que, segundo descreveu, pegou em profissionais de saúde formados para contexto hospitalar e lhes deu “um mês de formação” para os lançar na emergência pré-hospitalar. O foco, defendeu, deve estar em “capacitar quem faz mais de 85% do serviço em Portugal”. O sindicalista entende que as ordens, ao apresentarem tais propostas, estão a “extravasar as suas competências”, já que a sua função primordial é “regular e fiscalizar o exercício de uma profissão”. Esta movimentação ocorre numa altura em que o INEM externalizou a formação dos TEPH para as escolas médicas, um protocolo assinado na semana passada.
NR/HN/Lusa
Outros artigos com interesse: