Raimundo considera incompreensível que PS admita viabilizar documento
O secretário-geral do PCP considerou hoje normal que o Chega viabilize o Orçamento do Estado para 2026, afirmando o documento “dá recursos públicos” a quem financia este partido, mas incompreensível que o PS o faça.
“Eu percebo bem porque é que o Chega está perfeitamente de acordo com este Orçamento, porque ele vai dar recursos públicos àqueles que financiam o Chega, os grandes grupos económicos. O que me custa acreditar é como é que o PS se deixa levar por esta conversa”, afirmou Paulo Raimundo em declarações aos jornalistas durante uma arruada em Setúbal.
Paulo Raimundo abordou as declarações do secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, que disse hoje que, em 99,9% do Orçamento, “o Governo correspondeu às exigências” que tinha colocado ao primeiro-ministro, afirmando que lhe “custa acreditar”.
“Não consegui compreender. Se, este Orçamento em concreto, com as consequências negativas que vai ter na vida da maioria, do país, se corresponde a 99,9% das aspirações do PS, fico ainda mais preocupado”, afirmou.
Para Paulo Raimundo, a proposta de Orçamento do Estado hoje entregue pelo Governo na Assembleia da República “é um exemplo da transferência de recursos públicos para os grandes grupos económicos”.
“São os benefícios fiscais: mais 1.800 milhões euros. São as parcerias público-privadas que vêm buscar aos nossos recursos: mais 1.400 milhões de euros. São os apoios aos residentes não habituais, que são os que vêm cá comprar as nossas casas e os prédios para alugar: mais 1.900 milhões”, elencou.
O secretário-geral do PCP defendeu que “o país assim não vai para a frente”, defendendo que o que é necessário “é atacar os dois milhões de pobres” em Portugal e não gastar “recursos que fazem falta”.
Paulo Raimundo disse que, fora “as medidas que passaram em rodapé, supostamente positivas”, referindo-se aos anúncios que o primeiro-ministro fez durante a campanha eleitoral, como a redução do IRS ou o aumento do Complemento Solidário para Idosos (CSI), o “sumo [do Orçamento do Estado] é profundamente negativo”.
Questionado sobre o facto de o Governo ter anunciado uma redução de impostos, Paulo Raimundo contrapôs que “a grande descida dos impostos deste Orçamento do Estado é do IRC”.
“Vamos pôr as coisas nestes termos: o Governo apresenta-se de peitaça a dizer que vai baixar 0,3% no IRS e depois baixa 1% no IRC. Porque é que não faz ao contrário? Isso é que era de valor. É uma opção”, criticou.
Sobre o facto de o ministro das Finanças ter avisado que “não há margem para medidas adicionais” no Orçamento do Estado, Paulo Raimundo considerou que essas declarações “revelam um caminho”.
“Este Orçamento do Estado é um instrumento da política que está em curso e quem se associar a ele vai ficar responsabilizado pela política que está em curso”, disse,
Paulo Raimundo salientou que há falta de médicos e enfermeiros no país, urgências fechadas, não há “casas para morar” e os salários e as pensões são baixas e frisou que, sobre isso, no Orçamento do Estado, “não há nenhuma resposta”.
“Mesmo o orçamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que é apresentado com um aumento — e é verdade que aumenta — mas, outra vez, metade desse orçamento é para transferir para aqueles grupos que fazem da doença negócio. Isto assim não vai lá”, disse.