
Suicídio. Apoio na escola e sem juízos
O coordenador do programa de prevenção do suicídio nas escolas +Contigo, José Carlos Santos, defendeu hoje a criação de uma rede de atendimento que permita aos jovens serem ouvidos sem julgamento e encaminhados para cuidados especializados sempre que necessário.
Em declarações à agência Lusa, a propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala na próxima sexta-feira, e após o suicídio de dois alunos de uma escola em Castro Daire, o responsável sublinhou que o programa não está a intervir neste caso específico, mas destacou a necessidade de reforçar estratégias de prevenção.
José Carlos Santos, enfermeiro especialista em saúde mental e psiquiátrica e recentemente nomeado coordenador clínico da Linha Nacional de Prevenção do Suicídio 1411, afirmou que é essencial “estar atento a sinais de sofrimento nos jovens, evitar o isolamento e criar uma rede de apoio próxima”.
O responsável destacou a importância de gabinetes de atendimento nas escolas, onde os jovens possam “ser ouvidos sem juízos críticos ou morais”, validando o sofrimento e permitindo o encaminhamento para cuidados de saúde mental mais diferenciados quando necessário.
Sublinhou ainda que a prevenção do suicídio é uma responsabilidade coletiva: “São importantes os colegas dos adolescentes, mas também os pais, os vizinhos, os professores e os profissionais de saúde. É uma tarefa de todos e todos devemos estar envolvidos.”
José Carlos Santos alertou, contudo, para o risco de dramatizar em excesso: “Falamos de situações muito dolorosas, mas é importante não hipervalorizar sintomas que podem ser normais na adolescência. O equilíbrio é essencial.”
Nos casos de maior vulnerabilidade, os jovens podem recorrer ao psicólogo da escola, aos centros de saúde ou à Linha 1411, que oferece apoio emocional e esclarecimento de dúvidas.
Criado em 2008, o Programa +Contigo promove a saúde mental e previne comportamentos suicidários através de ações em escolas e cuidados de saúde primários, envolvendo profissionais de saúde, alunos, encarregados de educação, professores, assistentes operacionais e autarquias.
“Há uma intervenção em sala de aula dirigida aos alunos e outras ações específicas para pais, professores e auxiliares”, explicou. Quando ocorre um suicídio numa escola, o programa assegura acompanhamento continuado ao longo do ano, de forma a apoiar a comunidade educativa e prevenir o chamado “efeito de contágio”.
Embora a taxa de suicídio entre adolescentes em Portugal seja relativamente baixa (cerca de quatro por mil habitantes), o coordenador alertou que o número “merece a maior atenção”, sobretudo face ao aumento dos comportamentos autolesivos, como cortes ou ferimentos. “Estes comportamentos são muitas vezes pedidos de ajuda e devem ser levados a sério”, advertiu.
No último ano letivo (2024-2025), o programa avaliou cerca de 18 mil alunos: 41% apresentavam sintomas depressivos ligeiros, 26,5% sintomas moderados ou graves, 2.069 adolescentes foram identificados em risco de comportamento suicidário, sendo 70,6% raparigas.
Cerca de 200 jovens foram encaminhados para cuidados especializados. Desde a sua criação, o +Contigo já chegou a mais de 80 mil alunos, em 1.215 escolas de todo o país e ilhas.
Contactos de apoio e prevenção do suicídio:
Linha Nacional de Prevenção do Suicídio – 1411
SOS Voz Amiga – 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660
Conversa Amiga – 808 237 327 | 210 027 159
SOS Estudante – 915 246 060 | 969 554 545 | 239 484 020
SO/LUSA
Notícia relacionada
Linha Nacional de Prevenção do Suicídio e Apoio Psicológico 1411 já tem coordenador clínico