
Unidades de saúde familiar não concordam com farmacêuticos a tratar doentes com infeções ligeiras
A proposta da presidente da Associação Nacional de Farmácias de colocar farmacêuticos a tratar doentes com infeções ligeiras é vista com muita cautela pela Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar. À Renascença, André Biscaia diz que a solução apenas pode beneficiar os doentes crónicos.
“Estas medidas levam a uma dispersão quer do financiamento, quer da logística“, afirmou o representante das USF, apontando que na “vacinação da gripe isto representa 7 milhões anualmente para as farmácias”, valor que é “desviado do orçamento que, por exemplo, poderia pagar todo o ordenado anual de todos os enfermeiros que fazem falta nos cuidados de saúde primários”.
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“Aquilo que pode fazer a diferença em termos de saúde da população é a gestão da doença crónica”, sublinha André Biscaia, que “realmente está a ser feita a nível dos cuidados de saúde primários, com muito sucesso e, portanto, aquilo que se tem que fazer é providenciar uma equipa de saúde familiar, um médico ou enfermeiro, um secretário clínico para toda a população, porque realmente está provado que faz diferença, quer na gestão da doença crónica, quer na gestão da doença aguda”.
Ema Paulino, presidente da Associação Nacional de Farmácias, defendeu, em entrevista ao Hora da Verdade, que os farmacêuticos podem tratar infeções ligeiras, reforçando que “noutros países existe a possibilidade de o farmacêutico alargar essa avaliação a mais situações clínicas, aplicando testes rápidos que podem ser realizados nas farmácias e, mediante os resultados, dispensar a medicação”.
Do lado dos administradores hospitalares, a proposta da Associação Nacional de Farmácias é vista como uma boa possibilidade. Contudo, Xavier Barreto sublinha que tem de ser bem pensada, porque não resolve os problemas das urgências no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“É possível fazer em Portugal? Admito que sim, naturalmente que tem que ser planeado com tempo. Temos que ter projetos piloto, temos que ir acompanhando com muito cuidado para perceber como é que está a correr, quais são, no fundo, os resultados também para os doentes e, portanto, eu acho que é uma ideia sobre a qual vale a pena refletir, eventualmente implementar em alguns locais para depois podermos avaliar e perceber que o impacto é que isto poderia ter”, estima Xavier Barreto.
Barreto admite que a solução “provavelmente não” resolve os problemas das urgências em Portugal, “porque esses problemas são muito mais profundos e relacionam-se com falta de profissionais de saúde”. Mas considera que “ainda assim, pode ser uma medida positiva e pode ajudar a resolver o problema de um segmento específico de doentes, que são os menos graves”.
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