
Greve dos enfermeiros na Arrábida com adesão maciça afeta hospitais e centros de saúde
Uma greve dos enfermeiros na Unidade Local de Saúde da Arrábida (ULSA) paralisou esta terça-feira uma fatia considerável dos serviços, com uma adesão que o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) classifica como “superior a 80%”. O motivo central do protesto é o incumprimento no pagamento de dívidas relativas a trabalho extraordinário, um problema que se arrasta há anos e para o qual, garantem, existem planos de pagamento não concretizados.
Zoraima Prado, do SEP, descreveu um cenário de disrupção significativa durante uma concentração à porta do Hospital de São Bernardo. O bloco operatório estaria a funcionar apenas com a sala de urgência, enquanto várias unidades de cuidados de saúde primários permaneciam encerradas devido a uma adesão total dos enfermeiros. “Temos vários serviços de internamento [com uma adesão] a 100%, só com cuidados mínimos”, explicou, traçando um retrato de um dia de luta que se fez sentir de forma desigual, mas incisiva, na estrutura hospitalar.
O problema, segundo a sindicalista, vai além do não pagamento. A raiz estaria numa “ausência de diálogo” com o Conselho de Administração da ULSA. Já em abril o SEP terá alertado para o agravamento destas questões, que incluem, para além das horas extra em atraso, os retroativos de produções que remontam a 2018 e o arrastar das progressões de carreira que deviam ter ocorrido em janeiro. A existência de uma sentença judicial que obrigou ao pagamento a alguns colegas é vista como um precedente que deve ser alargado a todos, um ponto que a administração, na visão do sindicato, teima em ignorar.
A dimensão financeira do conflito é avultada e varia consoante a experiência profissional e o serviço de cada um. Zoraima Prado deu um exemplo que causa algum desconforto: um enfermeiro do serviço de urgência poderia, em teoria, ficar um ano sem trabalhar, tal é o montante que lhe é devido em trabalho extraordinário. Para alguns, essa dívida ronda os 20 mil euros, um valor que pode duplicar se somados os retroativos a que teriam direito desde 2018. Há ainda uma teia de dívidas herdadas da antiga Administração Regional de Saúde (ARS), de 2023, que a ULSA ainda não assumiu formalmente, complicando ainda mais o já espinhoso processo de regularização.
Contactado pela Lusa, o Gabinete de Comunicação da ULSA não conseguiu contabilizar de imediato o impacto real da paralisação, mas deixou um misto de estranheza e apaziguamento. A administração referiu que, a 16 de setembro, já tinha comunicado ao sindicato a intenção de resolver “progressivamente” as situações apresentadas. No comunicado, a ULSA lamenta a decisão do SEP de avançar com a greve, mas garante manter o empenho em encontrar soluções, num equilíbrio delicado entre as preocupações dos profissionais e as, presume-se, complexas restrições orçamentais. O impasse, por ora, mantém-se.
NR/HN/Lusa