
Primeira equipa dedicada apenas à urgência não consegue garantir horário completo
Um ano depois de se ter estreado no Hospital de São José em Lisboa, a primeira equipa hospitalar dedicada apenas à urgência não conseguiu atrair médicos suficientes para assegurar as 24 horas do dia.
Começou com 16 médicos, tem neste momento 21 – que asseguram a urgência das 8 horas às 20 horas – mas precisa de, pelo menos 26 para garantir o horário completo.
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A administradora do CRISU (Centro de Responsabilidade Integrada para a Urgência), Miriam Rodrigues Viegas, diz à Renascença que faltam profissionais, mas a burocracia, aliada ao não cumprimento de todas as promessas, também tem atrasado as contratações.
“Há alguma dificuldade de captação de médicos mas o facto de não podermos providenciar um contrato por tempo indeterminado, por limitações legais, também não ajuda”, explica, adiantando que se trata de “um problema transversal a todas as Unidades Locais de Saúde que aguardamos que a Direção Executiva do SNS e o Ministério da Saúde possam resolver”.
O não pagamento dos prometidos prémios anuais, atribuídos em função do cumprimento das metas de desempenho, é outro fator a dificultar a atração dos médicos. “Como o nosso CRI para o Serviço de Urgência foi o único dos cinco previstos, a avançar a Comissão criada para apurar os indicadores de cumprimento do índice de desempenho, ainda não o fez e não sabemos se, neste primeiro ano de funcionamento temos ou não direitos a prémio”.
A administradora hospitalar não esconde que esta situação “ cria alguma desmotivação e insatisfação junto dos profissionais. E, em simultâneo, também cria algumas dificuldades na atração dos profissionais, porque as coisas não estão a acontecer, como inicialmente tinham sido legisladas”.
De resto, Miriam Rodrigues Viegas não tem dúvidas de que os incentivos financeiros foram determinantes para a contratação de “outros profissionais que temos alguma dificuldade em captar, como os técnicos auxiliares de saúde, ou os assistentes técnicos”.
Paulo Barreiros, enfermeiro gestor e vogal do CRISU também espera que a questão dos prémios por desempenho se resolva o mais depressa possível. “Precisamos que estas questões sejam clarificadas para que efetivamente a equipa perceba quais são os objetivos e as metas que temos que atingir até para nós próprios fazermos um ponto da situação” sublinha.
Contactada pela Renascença, a Direção Executiva do SNS remeteu explicações para o Ministério da Saúde que por sua vez apontou para o responsável pelo grupo de trabalho criado para definir estas metas, mas Nelson Pereira não se mostrou disponível para responder às nossas questões.
Apesar destas dificuldades na contratação de médicos para alargar o período de funcionamento, o balanço do primeiro ano de funcionamento do CRI da urgência do São José é claramente positivo.
Segundo Miriam Viegas, “cerca de 80% dos utentes são atendidos dentro do tempo alvo determinado o que representa uma melhoria de 10%“. Por outro lado, “a melhoria na articulação com a atividade programada, quer seja nos cuidados de saúde primários, quer seja em ambiente hospitalar, permitiu o encaminhamento de mais 32% de utentes para o ambulatório programado”.
A responsável salienta, ainda, “uma redução de 5% da taxa de utilizadores frequentes que passaram a ter resposta nos cuidados primários” . Neste momento – conclui – “temos na urgência cada vez mais situações prioritárias, ou seja, utentes que são triados com pulseira amarela, laranja e vermelha e menos utentes com pulseiras verdes e azuis, ou seja, pouco urgentes ou não urgentes”.
O projeto piloto das equipas dedicadas às urgências deveria ter arrancado em cinco centros hospitalares mas só avançou na ULS de São José. Em outubro, se tudo correr como previsto, deve começar a funcionar também na ULS de Coimbra.
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