
Mulheres com baixa massa muscular podem ter um pior prognóstico no tratamento do câncer de mama

Crédito: domínio público UNSPLASH/CC0
A manutenção da massa muscular provou ser crucial para os pacientes submetidos ao tratamento do câncer. Estudos mostraram que indivíduos com mais músculo tendem a responder melhor a terapias como quimioterapia e radioterapia. Eles também têm um risco menor de complicações e experimentam uma recuperação mais eficaz.
Isso ocorre porque o músculo desempenha um papel essencial no metabolismo, ajudando a regular a resposta inflamatória e a absorção de medicamentos. Por outro lado, pacientes com câncer com baixa massa muscular apresentam maior risco de sofrer toxicidade durante o tratamento, o que pode resultar em um pior prognóstico e menor taxa de sobrevivência.
Um estudo realizado na Escola de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), no Brasil, avaliou dados de mulheres que foram diagnosticadas recentemente com câncer de mama. O estudo confirmou que aqueles com menor massa muscular no início do período de acompanhamento tiveram um pior prognóstico do que aqueles com massa muscular normal. Os resultados foram publicados na revista Descubra oncologia.
O estudo faz parte de uma análise secundária de um estudo maior que examinou alterações metabólicas relacionadas à quimioterapia em mulheres com câncer de mama. Os pesquisadores pretendiam avaliar as possíveis associações entre marcadores de massa muscular avaliados pela tomografia computadorizada e resultados do ângulo de fase obtidos da análise de bioimpedância.
Um total de 54 pacientes foram recrutados no ambulatório de mastologia no “Hospital Das Clínicas”, um hospital geral e de ensino afiliado à FMRP-USP e uma referência regional no Brasil. Todos os pacientes foram diagnosticados com câncer de mama em estágio inicial e foram encaminhados para quimioterapia.
No entanto, antes de iniciar o tratamento, todos foram submetidos a avaliações antropométricas, testes de bioimpedância e tomografias com análise da terceira vértebra lombar. Eles também foram submetidos a testes de função física, como resistência à mão e testes de velocidade da marcha, bem como exames de sangue.
De acordo com Mirele Savegnago Mialich Grecco, nutricionista, autor do artigo e pesquisador do Departamento de Ciências da Saúde da FMRP-USP, mulheres com câncer de mama estão predispostas à perda de massa, qualidade muscular prejudicada e força diminuída durante o tratamento. Essas mudanças podem prever resultados adversos, incluindo mortalidade.
Esse público foi escolhido para o estudo porque há muitos pacientes com sobrepeso ou obesos, o que pode acabar mascarando o verdadeiro estado da composição corporal do paciente.
“Muitas vezes, esse excesso de peso dá a falsa impressão de que tudo está bem com essa mulher, como se ela tivesse uma maior reserva de massa muscular. O tratamento é altamente tóxico e gera uma resposta inflamatória muito importante, o que favorece a redução dessa massa muscular ao longo da jornada”, explica ela.
Como os resultados foram obtidos
A tomografia computadorizada do tórax faz parte do tratamento de rotina para esses pacientes. Os pesquisadores pegaram uma amostra de imagens da região lombar (especificamente da vértebra L3) para analisar a quantidade e a qualidade da massa muscular em mulheres com câncer antes de iniciarem a quimioterapia ou outros tratamentos.
No entanto, como as varreduras de TC nem sempre estão disponíveis ou práticas para avaliar a composição corporal na prática clínica, os pesquisadores também analisaram o ângulo de fase (PHA) como um método alternativo. Esta é uma medida associada à integridade da membrana obtida por análise de bioimpedância. É uma ferramenta rápida e não invasiva que pode refletir a composição corporal.
“É um método portátil, de baixo custo e amplamente acessível para avaliar indivíduos em ambientes clínicos. No entanto, é necessário um conhecimento específico para interpretar corretamente os resultados”, pondera Grecco.
Cinco anos depois, os pesquisadores revisaram os registros médicos desses pacientes para verificar a mortalidade durante o período. Os resultados mostraram que mulheres com câncer de mama não metastático e baixa massa muscular apresentaram uma taxa de sobrevivência significativamente menor do que aquelas com massa muscular normal.
Além disso, indivíduos com baixa massa muscular também apresentaram ângulos de fase mais baixos, que foram associados a um pior prognóstico e afetaram negativamente a sobrevida do paciente, independentemente da idade ou do estágio do câncer. Segundo Grecco, isso significa que a medição do ângulo de fase emergiu como um marcador promissor da saúde geral e pode ser uma ferramenta clínica valiosa para avaliar o prognóstico.
Impacto na vida real
O câncer de mama é uma das principais causas de morte do câncer entre as mulheres. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima quase 74.000 novos casos da doença por ano e 18.000 mortes entre 2023 e 2025. Segundo o Ministério da Saúde, a rede pública registrou 60.866 casos desse câncer em mulheres apenas em 2023 – 11% dos quais tinham menos de 40 anos.
Segundo o estudo, a prevalência de baixa massa muscular entre pacientes com câncer varia amplamente, de 38% a 70%. Para o câncer de mama especificamente, os estudos relatam uma prevalência próxima a 40%. Nesta população, a massa muscular reduzida tem sido associada à falha do tratamento, toxicidade da quimioterapia, diminuição da atividade física, progressão do tumor e menor sobrevida.
Segundo Grecco, a perda de massa muscular durante o tratamento do câncer é esperada, mas não desejada. Por esse motivo, avaliar com precisão a composição corporal é essencial para o monitoramento de alterações metabólicas relacionadas à doença e orientando intervenções nutricionais direcionadas, especialmente em populações onde uma maior adiposidade pode mascarar essas mudanças.
Assim, o objetivo do estudo foi tentar identificar medidas mais práticas que possam ser incorporadas às rotinas clínicas para permitir que os profissionais de saúde intervejam mais cedo para esses pacientes.
“Nossa idéia com este trabalho é dar uma olhada mais detalhada e propor uma ingestão anterior de proteínas para essa mulher, assim que ela é diagnosticada com câncer de mama, indicando a quantidade de proteína que ela precisaria comer por dia, por exemplo”, diz o nutricionista.
Outra sugestão é que os profissionais de saúde monitorem a massa muscular dos pacientes desde o início e indique -os para um programa de exercícios físicos, conforme sua condição permitir. “Especialmente exercícios de resistência e força, o que ajudará a preservar um pouco mais a massa muscular. A idéia não é para promover o ganho muscular, mas para minimizar a perda e permitir melhor que o corpo dessa mulher suporta todo o tratamento do câncer”, enfatiza o pesquisador.
Mais informações:
Mirele Savegnago Mialich et al, Associação de quantidade e qualidade do músculo esquelético com mortalidade em mulheres com câncer de mama não metastático, Descubra oncologia (2025). Doi: 10.1007/s12672-025-01999-1
Citação: Mulheres com baixa massa muscular podem ter um pior prognóstico no tratamento do câncer de mama (2025, 28 de maio) recuperado em 29 de maio de 2025 de https://medicalxpress.com/news/2025-05-women-muscle-mass-worse-prognóstico.html
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