
O teste identifica a infecção anterior pelo vírus Zika e todos os quatro sorotipos do vírus da dengue

Crédito: Arquivo dos pesquisadores
Os pesquisadores brasileiros desenvolveram um teste simples que quase instantaneamente diz se uma pessoa foi exposta a qualquer um dos quatro sorotipos do vírus da dengue, bem como ao vírus zika. O teste é um imunoensaio enzimático semelhante ao ELISA, uma plataforma amplamente utilizada em testes de laboratório em todo o Brasil. A tecnologia pode ser facilmente adaptada para uso em sistemas automatizados e testes rápidos de ponto de atendimento.
O estudo foi realizado no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) em parceria com pesquisadores da mesma faculdade de medicina da universidade (FM-USP) e colaboradores da Universidade Federal da Bahia Ocidental (UFOB) liderados por Jaime Henrique Amorim. Um artigo que relata as descobertas é publicado no Jornal de Virologia Médica.
A dengue é a doença arboviral mais comum em todo o mundo. É causado por um flavivírus com quatro sorotipos antigenicamente distintos (DENV -1, -2, -3 e -4) e co -circula com pelo menos nove outros flavivírus, incluindo zika (Zikv). As semelhanças entre os antígenos de DENV e ZIKV levam à reatividade cruzada, dificultando o diagnóstico sorológico específico.
Para aprimorar a precisão do ensaio na detecção de anticorpos no sangue de pessoas infectadas anteriormente (mesmo aquelas sem sintomas aparentes), os pesquisadores usaram fragmentos de proteínas virais, especialmente uma parte da proteína do envelope de Denv (a camada mais externa do vírus) conhecida como EDIII, que está envolvida na ligação viral aos recipientes humanos.
Durante o estudo, conduzido durante o Ph.D. Pesquisa de Samuel Santos Pereira na ICB-USP, o teste foi inicialmente validado com amostras de sangue de camundongos infectados experimentalmente com DENV e Zikv.
Esta etapa do estudo confirmou a capacidade do teste de distinguir entre anticorpos específicos contra cada vírus, bem como os anticorpos produzidos em resposta a todos os quatro sorotipos de DENV.
Em seguida, o teste foi validado com cerca de 650 amostras de sangue doadas por pessoas em São Paulo durante a epidemia brasileira de zika (2015–17). Os resultados mostraram 87,8% de sensibilidade (evitar falsos negativos) e 91,4% de especificidade (evitação de falsos positivos).
“Também testamos 318 amostras de sangue doadas por pessoas saudáveis sem diagnóstico prévio de dengue em barreiras [a city in the western region of Bahia state, where DENV and other arboviruses are endemic]para avaliar a capacidade do ensaio de monitorar anticorpos específicos produzidos em resposta à exposição aos vírus “, disse Luís Carlos de Souza Ferreira, professora completa da ICB-USP e investigador principal do estudo.
Segundo Ferreira, cerca de 65% das amostras reagiram a pelo menos um antígeno dengue (88 para DENV-1 sozinho e 90 para mais de um). Curiosamente, apenas três amostras foram reativas para o ZIKV, sugerindo que esse vírus não circulou na região há alguns anos ou que os anticorpos específicos produzidos em resposta à infecção pelo vírus não duram muito.
“Ao todo, esses resultados mostram que temos uma ferramenta poderosa para monitorar a imunidade sorológica de qualquer pessoa exposta a esses vírus, especialmente pessoas que vivem em áreas endêmicas para DENV e Zikv, ou que tomaram ou planejam tomar uma das vacinas de dengue disponíveis”, disse ele.
Saúde pública
Oficialmente relatou mortes de dengue no Brasil atingiram 21 nas primeiras quatro semanas de 2025, com dois terços ocorrendo no estado de São Paulo. O reaparecimento do DENV-3 após um intervalo de 17 anos alarmou especialistas, que temem que isso possa levar ao aumento da gravidade nos surtos da doença.
Em futuros surtos, acrescentou Ferreira, o teste desenvolvido na ICB-USP servirá para detectar indivíduos e grupos populacionais sem imunidade contra os sorotipos circulantes do DENV, como base para a ação para combater o vetor e aplicar vacinas.
“Os anticorpos medidos no ensaio [mainly immunoglobulin G, or IgG] são amplamente responsáveis pela imunidade que protege as pessoas contra a doença, pois impedem que o vírus entre em nossas células. Essa característica significa que o teste pode ser usado para avaliar a imunidade de pessoas saudáveis que foram expostas aos vírus no passado, bem como à imunidade de pessoas que foram vacinadas.
“No caso do ZIKV, será possível testar a imunidade de pessoas em idade reprodutiva e mulheres grávidas, os principais grupos em risco, sem ter que se preocupar com a possibilidade de reatividade cruzada com anticorpos produzidos após infecção pelos quatro seremgipos do Brasil.
Mais informações:
Samuel Santos Pereira et al. Jornal de Virologia Médica (2024). Doi: 10.1002/jmv.70100
Citação: O teste identifica a infecção prévia pelo vírus zika e todos os quatro sorotipos do vírus da dengue (2025, 27 de fevereiro) recuperados em 27 de fevereiro de 2025 de https://medicalxpress.com/news/2025-02-prior-infection-zika-virus-dengue.html
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