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Pesquisadores do Brasil e da Itália vasculham resíduos industriais em busca de novos medicamentos para Alzheimer

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resíduos industriais

Crédito: Pixabay/CC0 Domínio Público

Autoproclamada entusiasta da colaboração Brasil-Itália, a pesquisadora Laura Bolognesi criou o Laboratório Conjunto B2AlzD2 no Departamento de Farmácia e Biotecnologia da Università di Bologna (UNIBO), o primeiro laboratório conjunto Brasil-Bolonha dedicado ao desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento da doença de Alzheimer. Os parceiros incluem cientistas de quatro universidades brasileiras: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Brasília (UnB), Universidade de São Paulo (USP Ribeirão Preto) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Um dos projetos em andamento do laboratório é identificar compostos com potencial para desenvolvimento de medicamentos em resíduos industriais, principalmente no líquido da casca da castanha de caju (CNL), óleo natural considerado subproduto do processamento industrial da castanha de caju, com alto teor de compostos fenólicos.

A linha de pesquisa e os princípios que norteiam o trabalho do grupo foram apresentados por Bolognesi nesta terça-feira (15/10) em painel sobre saúde e meio ambiente que integrou a programação da FAPESP Week Itália.

“Precisamos integrar o conceito de sustentabilidade na busca por moléculas bioativas. Essa deve ser a palavra-chave”, disse Bolognesi em sua apresentação. “Se adotarmos os resíduos como matéria-prima para o desenvolvimento de medicamentos, os produtos resultantes da pesquisa serão inerentemente sustentáveis”.

O trabalho do grupo também adota a abordagem One Health, disse Bolognesi. Concebido na virada do século, este conceito refere-se a uma abordagem integrada que reconhece a ligação entre a saúde humana, animal, vegetal e ambiental.

“É uma visão holística na qual todos os envolvidos devem estar incluídos. Acreditamos que não basta apenas encontrar um novo medicamento que seja potente e biodisponível. por exemplo, mais de 90% dos pacientes afetados não têm acesso ao tratamento, apesar de viverem em três grandes economias [Brazil, Argentina and Mexico]”, observou ela.

Outra preocupação do Laboratório Conjunto B2AlzD2, disse Bolognesi, é integrar os princípios da química verde em seu pipeline de desenvolvimento de medicamentos.

Doenças negligenciadas

Luiz Carlos Dias, professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), foi outro integrante do painel. Apresentou o trabalho de um consórcio internacional criado para apoiar a busca de novos medicamentos contra a doença de Chagas e a malária. A iniciativa reúne a UNICAMP, a USP e duas organizações sem fins lucrativos: a Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDi) e a Medicines for Malaria Venture (MMV).

“Nosso trabalho aborda vários ODS [Sustainable Development Goals of the 2030 Agenda]e seu objetivo central é reduzir o tempo necessário para a descoberta de medicamentos”, afirmou.

Dias explicou à Agência FAPESP que o consórcio recebe da DNDi e da MMV informações sobre a estrutura das moléculas a serem estudadas, todas não patenteadas. “Sintetizamos as substâncias na UNICAMP, purificamos e enviamos para vários laboratórios brasileiros da rede para serem testadas contra o parasita. Para aquelas que apresentam atividade antiparasitária, desenvolvemos moléculas análogas com pequenas modificações para tentar aumentar a potência, a estabilidade e segurança. Somente depois de muitos testes in vitro passamos para testes em animais. Nosso desafio agora é desenvolver um composto viável para um ensaio clínico”.

No início do projeto, disse ele, toda essa fase de testes pré-clínicos foi feita fora do Brasil porque não havia capacidade instalada no país.

“Hoje fazemos toda a cascata de testes, a parte de parasitologia primária e secundária. Adquirimos uma competência que não tínhamos porque o país nunca investiu na descoberta e no desenvolvimento de medicamentos. com experiência em diversas áreas”, comentou.

Dias reflete que os desafios do grupo são grandes e as metas ambiciosas: desenvolver medicamentos de baixo custo e seguros o suficiente para serem usados ​​por crianças e gestantes, que estão entre as principais populações afetadas por essas doenças negligenciadas.

No caso da malária, há um desafio adicional: o tratamento deve ser em dose única, por via oral. “O Plasmodium adquire resistência muito rapidamente. Precisamos de um medicamento que consiga eliminá-lo em dez dias, com dose única, para contornar esse problema”, disse.

O painel também contou com a participação de Monica Cricca, pesquisadora do Departamento de Ciências Médicas e Cirúrgicas da UNIBO que desenvolve equipamentos para diagnóstico de infecções. Um dos objetivos de seu grupo é desenvolver um sistema de vigilância para detecção de Candida auris, superfungo resistente a diversas classes de medicamentos e capaz de causar infecções graves.

Ela disse que o patógeno se espalhou pela Itália durante a pandemia de COVID-19, fenômeno que também foi observado no Brasil. “Estamos tentando implementar um sistema de vigilância para limitar sua propagação”, disse ela.

O tema resistência antimicrobiana também foi abordado por Ana Cristina Gales, professora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e vice-coordenadora do Instituto de Resistência Antimicrobiana de São Paulo (Projeto ARIES).

O painel também contou com a participação de Carmino Antonio de Souza, professor da UNICAMP, vice-presidente da FAPESP e um dos fundadores da Associação Ítalo-Brasileira de Hematologia (AIBE), que visa promover a integração dos serviços de hematologia dos dois países por meio do intercâmbio dos profissionais de saúde e o desenvolvimento de protocolos clínicos e laboratoriais de interesse comum.

As discussões foram moderadas por Bolognesi e Niels Olsen Saraiva Câmara, professor da USP e assessor do diretor científico da FAPESP.

Citação: Pesquisadores do Brasil e da Itália pesquisam resíduos industriais em busca de novos medicamentos para Alzheimer (2024, 17 de outubro) recuperado em 18 de outubro de 2024 em https://medicalxpress.com/news/2024-10-brazil-italy-industrial-alzheimer-drugs.html

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