
Randstad Insight: O mercado de trabalho na área da saúde
Com o objetivo de oferecer uma visão clara e completa da evolução do mercado de trabalho no setor da Saúde, a Randstad compilou a informação conjuntural mais relevante sobre o mercado de trabalho nesta área, através de um conjunto de tabelas e gráficos.
As principais fontes utilizadas são o Inquérito ao Emprego do INE, os registos do Ministério do Trabalho e da Economia Social e do Ministério da Inclusão, Segurança Social e Migrações, e os dados do Eurostat.
Para esta análise, utiliza-se a Classificação Portuguesa das Atividades Económicas (CAE Rev. 3), que organiza e identifica as atividades económicas em Portugal, facilitando o tratamento de dados estatísticos. A secção Q da CAE Rev. 3 abrange as atividades de saúde e apoio social, como hospitais, clínicas, consultórios médicos, lares de idosos, centros de dia e serviços de apoio ao domicílio.
O EMPREGO NO SETOR
Atividades de saúde humana e apoio social Segundo os dados do INE, no ano 2024, o setor da saúde representou 9,7% do emprego total em Portugal.
Este setor não só é vital para o bem-estar da população, mas também é um dos maiores empregadores do país, gerando milhares de postos de trabalho e contribuindo significativamente para a economia do país.
A sua relevância é crescente, impulsionada pelo envelhecimento da população e pelo aumento da procura por serviços de saúde.
O setor da saúde demonstrou um crescimento consistente no emprego ao longo do período, passando de 472,6 mil pessoas em 2019 para 524,5 mil empregados no 2Q de 2025.
Em 2024, houve uma pequena queda no emprego de 1,2%. No entanto, os dados dos primeiros trimestres de 2025 mostram um novo impulso de crescimento, com um aumento de 6,5% no primeiro trimestre e 0,3% no segundo trimestre, sugerindo que o emprego no setor está a expandir novamente.
A área da saúde caracteriza-se por uma maior feminização.
No 2Q de 2025, a distribuição do emprego total por género em Portugal revela uma paridade a nível nacional, com 2,7 milhões de homens (51% do total do emprego) e 2,6 milhões de mulheres (49%). Isto contrasta com o setor da saúde, onde as mulheres representam quase 82% do emprego, totalizando 429 mil pessoas e os homens constituem 18% do emprego no setor, com um total de 95 mil pessoas.
Segundo os dados da Eurostat, o setor da saúde teve ritmos de crescimento diferentes em cada divisão. A divisão 86 foi a que mais cresceu nos anos da pandemia, com um aumento de 4,8% em 2020 e 9,4% em 2021. Em contraste, a divisão 87, que abrange lares e residências para idosos, sofreu quedas significativas de 7,1% em 2020 e 7,6% em 2021.
No período pós-pandemia, a divisão 87, que foi a mais afetada, iniciou uma recuperação robusta a partir de 2022, e mostrou um crescimento notável de 13,7% no 1Q de 2025, sugerindo um regresso à normalidade e uma procura crescente por este tipo de serviços. A divisão 86 também continuou a expandir-se, enquanto a divisão 88 apresentou flutuações.
No setor da saúde, o segmento de saúde humana é o principal motor de emprego no setor, absorvendo quase dois terços do emprego do setor (62,2%).
As atividades de apoio social, tanto com (24%) como sem alojamento (13,9%), representam uma parcela menor do emprego total, com a atividade de apoio social com alojamento a empregar mais de metade do pessoal que trabalha na área de apoio social.
Do total de profissionais do setor, no ano 2024, 90% eram empregados por conta de outrem (assalariados).
Dentro destes, a maior parte estava concentrada no setor privado, que empregava 284,8 mil pessoas, o que corresponde a 63,6% do total do emprego no setor. Em contraste, o setor público empregava 163,3 mil pessoas, representando 36,4% do emprego total do setor. Embora o setor público seja crucial para a prestação de serviços de saúde em Portugal, a maior parte do emprego (referente apenas a PCO, isto é excluindo trabalhadores por conta própria) é gerada por entidades privadas.
No ano 2024, o número de trabalhadores por conta própria situou-se em 35,2 mil pessoas. Estes profissionais são essencialmente trabalhadores independentes (trabalhadores liberais, emitindo os designados “recibos verdes”).
A evolução destes profissionais na área da saúde demonstra uma tendência de crescimento, que foi particularmente visível a partir de 2018, refletindo uma procura crescente por flexibilidade no setor. Isto sublinha a importância deste tipo de vínculo para o funcionamento do setor da saúde em Portugal, que depende cada vez mais de profissionais liberais (médicos, enfermeiros e técnicos de diagnóstico e terapêutica) para complementar os seus serviços.
A estrutura do emprego na área da saúde e apoio social em 2024 é marcada por uma forte especialização e dependência de pessoal de cuidado direto. Do total de 497,8 mil pessoas empregadas, a maioria concentra-se em profissionais de alta qualificação, sendo os profissionais da saúde (médicos, enfermeiros, etc.) 41,6% (207,2 mil pessoas).
O segundo maior grupo são os trabalhadores dos cuidados pessoais e similares, que constituem 30,1% (149,8 mil pessoas) do total.
Os restantes grupos de ocupação têm uma representatividade significativamente menor.
Segundo os dados do INE, o pessoal de saúde em Portugal entre 2021 e 2024 teve um crescimento constante em todas as categorias profissionais.
Os médicos/as dentistas e médicos/as apresentaram o maior crescimento percentual (9%) indicando um investimento na especialização e nas áreas clínicas. Por sua vez, farmacêutico/as e enfermeiros/ as registaram crescimentos de 7%, o que, embora seja percentualmente menor, representa um maior aumento em termos absolutos. Este crescimento transversal do pessoal é vital para responder ao aumento da procura destes profissionais em Portugal.
SISTEMA DE CONTAS INTEGRADAS
Empresas, pessoal ao serviço e remuneração
Em 2023, o número total de empresas na área da saúde foi de 118.558. Por atividades, existe um claro domínio das relacionadas com a saúde humana, que representam 94,6% do total.
Na última década, o setor expandiu significativamente. Esse crescimento é impulsionado, principalmente, pela divisão das atividades de saúde humana, que teve um aumento de 45,4%.
A evolução no último ano também reflete esta tendência positiva, com um aumento de 2,2% no número de empresas do setor.
A atividade de saúde humana, concentra a maioria das empresas e do pessoal ao serviço das empresas. Esta divisão, que inclui subatividades como a prática clínica em ambulatório e os estabelecimentos de saúde com internamento, absorve a maior parte do emprego do setor. Embora o apoio social com alojamento tenha menos empresas, emprega um número expressivo de pessoas, com destaque para o apoio a idosos e pessoas com deficiência. Por sua vez, o apoio social sem alojamento, com mais empresas, emprega um número substancialmente menor de pessoas, sugerindo a presença de empresas de menor dimensão.
A remuneração na área da saúde em Portugal é 13,6% superior à média da remuneração total do país e mostra um crescimento contínuo desde 2016, passando de um valor próximo de 1.195€ para 1.978€ em junho de 2025.
Para além disso, a remuneração apresenta um padrão cíclico e sazonal. No entanto, a tendência subjacente de aumento constante é clara. A remuneração no setor teve um crescimento expressivo de 54,8% nos últimos 10 anos. No último mês de junho de 2025, o crescimento foi de 18,7%.
DADOS DE REGISTOS
Desemprego registado
Em agosto de 2025 a área da saúde teve um total de 20.286 pessoas desempregadas registadas nos Centros de Emprego, sendo responsável por 6,7% do desemprego registado do país.
De acordo com a Classificação Portuguesa das Profissões (CPP 2010) o grupo de trabalhadores dos cuidados pessoais e similares (grupo 53) lidera o desemprego no setor da saúde, seguido dos profissionais de nível intermédio da saúde (grupo 32). Os profissionais de saúde (grupo 22), com maior qualificação, têm o menor número de desempregados. Esta análise sugere que a procura por profissionais mais qualificados é mais resiliente, enquanto que os trabalhadores com menos qualificações são mais vulneráveis ao desemprego.
Segundo os dados do IEFP o setor da saúde em Portugal tem um total de 20.286 desempregados, com a grande maioria concentrada nas regiões mais populosas do país: o Norte (8.281) e Lisboa (6.432). O resto do Continente regista números significativamente inferiores, e as Regiões Autónomas apresentam os valores mais baixos.
Embora o desemprego registado no setor esteja concentrado nas regiões mais populosas, os profissionais com qualificações mais baixas (grupos 53 e 32) são os mais afetados. Os profissionais mais qualificados têm um menor número de desempregados, o que pode refletir uma maior procura por estas competências no mercado de trabalho.
Consulte este estudo completo e outros no site da Randstad Portugal em www.randstad.pt/randstad-research/
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 236 de Novembro de 2025






