
Os emails de A., “O Homem Invisível”, para Ghislaine Maxwell
“Estou aqui no Campo de Férias da Família Real em Balmoral“, ironiza o remetente em 16 de agosto de 2001, despedindo-se com A. O email faz parte de uma série de correspondência trocada naquele verão entre Ghislaine Maxwell e uma figura ligada à família real britânica, que se especula ser André Mountbatten-Windsor, à luz dos desenvolvimentos dos últimos anos do caso Jeffrey Epstein e da divulgação de ficheiros do processo que o departamento de Justiça norte-americano tem vindo a fazer a conta gotas.
É a partir daquela residência privada da realeza, situada em Aberdeenshire, na Escócia, que foram despachados outros emails enviados por The Invisibile Man (O Homem Invisível). “As atividades acontecem o dia todo e estou totalmente exausto ao final de cada dia. As meninas estão completamente de rastos e hoje vão ter que ir para a cama cedo porque estou estourado de tentar separá-las. Como está LA? Arranjaste–me novos amigos inapropriados? Diz-me quando vieres porque eu estou livre de 25 de agosto até 2 de setembro e quero ir a algum lugar quente e soalheiro com algumas pessoas divertidas antes de me enfiar no outono. Qualquer ideia é bem vinda!
“Lamento desapontá-lo, mas a verdade deve ser dita. Só consegui encontrar amigos apropriados. Logo lhe digo se houver reuniões da igreja nessas datas”, responde Maxwell.
Em mais uma réplica, a 18 de agosto, A. mostra-se perturbado devido a um acontecimento inesperado envolvendo o pessoal. “Não fazes ideia, mas perdi o meu criado na quinta-feira. Morreu enquanto dormia. Ele estava comigo desde os meus dois anos. Estou um pouco abalado. Não só o meu escritório foi reestruturado, deixei o enfermeiro e agora a minha vida inteira está virada do avesso, não tenho ninguém para cuidar de mim. Ele era uma rocha e quase parte da família. Se tiveres alguma ideia de como voltar a pôr a minha mente no bom caminho, agradecia o conselho. Até breve… Espero que venhas.!”.
A troca de mensagens inscreve-se numa vasta publicação de arquivos que têm vindo a ser escrutinados pela imprensa, nomeadamente a britânica e norte-americana. Só esta terça-feira foram mais de 30 mil arquivos, entre emails, vídeos e arquivos de áudio, adianta a BBC, que descreve o conteúdos destes emails, que voltam a estabelecer um vínculo entre Ghislaine e elementos do clã real.
E o conteúdo não se fica por frivolidades. Trocas de e-mail entre fevereiro e março de 2002 mostram Ghislaine Maxwell e um mesmo homem identificado como “A” ou “O Homem Invisível” a planear uma viagem ao Peru que envolve “meninas”. Maxwell não esteve nessa deslocação mas André visitou aquele país em março de 2002, uma visita oficial em que o então duque de York foi até fotografo a posar com bombeiros em Lima. Nos emails que antecedem essa visita, A. discute cavalos, comida e deixa outra nota no ar: “Quanto às meninas deixo isso inteiramente nas suas mãos…”
Numa troca de e-mail de 27 de fevereiro com Maxwell, um homem que segundo a CNN parece agir como um supervisor local no Peru sugere algumas atividades que podem ser sugeridas a A., como equitação ou um almoço privado à beira mar. E pergunta ainda: “Sobre as meninas… Que idade tem ele?”. A certo ponto da conversa Ghislaine chega mesmo a referir-se a A como Andrew.
Em outubro, a família real britânica retirou a Mountbatten-Windsor, anteriormente conhecido como príncipe André, todos os seus títulos reais e ordenou-lhe que saísse de sua residência de 30 quartos nos terrenos do Castelo de Windsor, já que a pressão sobre o caso Epstein, a quem o antigo duque foi apresentado em 1999, se tem vindo a intensificar. André não chegou a ser acusado de nenhum crime e negou anteriormente e repetidamente qualquer transgressão. Mas cada novo detalhe exposto publicamente aperta mais e mais o cerco.
Em 2022, o então príncipe pagou um acordo a uma mulher, Virginia Giuffre, que o acusou de abusar sexualmente dela enquanto ainda era menor. Embora não admitisse a transgressão, André reconheceu o sofrimento de Giuffre como vítima do tráfico sexual. Insistiu também que não se lembrava de ter conhecido a Giuffre, que entretanto se suicidou, apesar de ter tirado uma fotografia com ela.
Já esta terça-feira, André, de 65 anos, concordou em entregar a sua licença de porte de arma depois de a polícia especializada ter visitado a sua casa em Windsor. As licenças desta natureza são revistas regularmente e podem ser revogadas perante uma mudança de circunstâncias afetando o titular.




