
Enfermeiros. Horários fixos pesam mais no SNS que salários
Um estudo de investigadores da Universidade Nova de Lisboa conclui que os horários fixos e a conciliação da vida familiar e laboral pesam mais do que os salários na decisão dos enfermeiros de permanecerem no Serviço Nacional de Saúde.
Este trabalho, publicado no European Journal of Public Health, conclui que as oportunidades de carreira também influenciam mais a decisão de permanecer no Serviço Nacional de Saúde (SNS) do que os salários.
“A retenção não depende apenas do que recebem, mas sobretudo de como trabalham e de como se projetam no futuro dentro da instituição“, afirma Tiago Correia, coautor do estudo, citado em comunicado.
Neste estudo foram ouvidos cerca de 1.500 enfermeiros que trabalham no SNS, seja nos cuidados primários (centros de saúde) ou hospitalares.
As conclusões mostram ainda que quase um em cada três profissionais com horários fixos tendem a expressar maior intenção de permanecer no SNS do que aqueles que trabalham em regime rotativo.
Os resultados destacam a importância de ter estratégias integradas de retenção dos profissionais que combinem “melhorias organizacionais, planos de progressão na carreira e políticas de equilíbrio entre vida profissional e pessoal”.
No estudo, os investigadores do Instituto de Higiene e Medicina Tropical sublinham que os resultados diferem daqueles observados entre médicos em estudos paralelos, confirmando a necessidade de abordagens de retenção específicas para cada profissão.
“A retenção é hoje [atualmente] um dos maiores determinantes da sustentabilidade dos sistemas de saúde“, sublinha o coordenador do Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para Políticas e Planeamento da Força de Trabalho em Saúde e professor do IHMT.
Os autores chamam ainda atenção para a importância de ter em conta, na decisão das políticas a tomar, a posição de enfermeiros que já deixaram o SNS — que não integraram este estudo —, sublinhando que esta medida será essencial para “capturar toda a gama de motivações, barreiras e experiências que influenciam as decisões de retenção”.
Face às conclusões a que chegaram, os investigadores — Mónica Morgado, André Beja, Rita Morais e Tiago Correia — sugerem o alargamento da adoção de modelos de horários de trabalho previsíveis, particularmente em ambientes hospitalares, para mitigar o impacto negativo dos turnos rotativos na retenção dos enfermeiros.
Defendem ainda a definição de “percursos de progressão na carreira estruturados e transparentes”, para aumentar o reconhecimento profissional e reter enfermeiros mais jovens, e a aplicação de estratégias de retenção nos ciclos nacionais de planeamento de recursos humanos em saúde, evitando que sejam intervenções isoladas, mas que façam parte de “esforços mais amplos de sustentabilidade” da força de trabalho.
Esta investigação surge numa altura em que Portugal enfrenta o envelhecimento profissional na área da saúde, com forte competição do setor privado e do mercado de trabalho internacional, fatores que dificultam a estabilidade das equipas do SNS.
Os dados da Ordem dos Enfermeiros indicam que, este ano, em julho e agosto, a organização atribuiu 3.000 títulos a novos enfermeiros, recém-licenciados, e 50% pediram a declaração para poderem emigrar”.
Os dados de dezembro de 2023 do Ministério da Saúde mostravam que havia, na altura, 14 mil enfermeiros em falta no SNS.
Os números da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgados em novembro indicam que Portugal é um dos países que mais “exportam” enfermeiros.
Em 2020, havia 15.418 enfermeiros portugueses a trabalhar em algum país da OCDE, um crescimento de 568% face a 2000 (quando eram apenas 2.310).
No relatório divulgado em novembro, a OCDE lembra que a escassez de profissionais de saúde se tornou um desafio crítico nos países que fazem parte da organização, impulsionada pelo envelhecimento da população, pelo aumento das necessidades de cuidados e pela crescente procura de serviços médicos.
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