
Enfermeiros congregam-se em Fátima para debater futuro da profissão
Fátima recebe a IV Convenção Internacional de Enfermeiros, com 3500 participantes. Bastonário e Secretária de Estado apelaram à cooperação entre profissionais de saúde, evitando “disputas de territórios”
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O encontro, que se prolonga até hoje no centro de Fátima, juntou milhares de profissionais no que é considerado a maior assembleia do setor em Portugal. Na sessão solene de abertura, o Bastonário da Ordem dos Enfermeiros (OE), Luís Filipe Barreira, não economizou palavras para descrever os desafios que empurram os recém-formados para fora do país. Quase metade, disse, opta por emigrar, num êxodo que classificou de “drenagem sustentada de cérebros e mãos competentes”.
A plateia ouviu, num misto de reconhecimento e inquietação, as propostas para travar esta fuga. Barreira foi perentório ao exigir “políticas de retenção que passam obrigatoriamente por condições dignas, estabilidade contratual e carreiras que não desmotivem no primeiro ano”. O discurso, por vezes carregado de uma frustração contida, voltou-se depois para uma das bandeiras históricas da OE: a prescrição por enfermeiros. “Tratam este assunto como se fosse uma ousadia, um capricho corporativo. Não é. É simplesmente bom senso e evolução”, afirmou, referindo que em muitos países esta prática está consolidada, agilizando o acesso aos cuidados.
Noutro ponto da sua intervenção, o Bastonário abordou o desgaste rápido da profissão, lembrando os “contextos de risco permanentes, o esforço físico imenso e a carga psicológica que se acumula”. Defendeu, por isso, a criação de um regime especial de aposentação. Já sobre o modelo de acompanhamento de grávidas de baixo risco por enfermeiros especialistas, garantiu que o processo está “na recta final”. Este modelo, explicou, visa colmatar a falta de vigilância em mulheres sem equipa de saúde familiar e prevê a prescrição de exames num esquema colaborativo. “Só quem prefere que estas grávidas fiquem sem cuidados é que cria obstáculos”, disparou, num claro sinal de impaciência com resistências internas no sistema.
A resposta do Governo coube à Secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, que representou a ministra Ana Paula Martins. Num tom conciliador, mas firme, começou por classificar os enfermeiros como “a espinha dorsal do SNS”. Dirigindo-se implicitamente às tensões entre classes, advertiu: “O que nos fragiliza não são as diferenças, mas a falta de entendimento. O que nos fortalece é a capacidade de trabalhar lado a lado”. Apelou ao abandono de “disputas de territórios” e a uma actuação baseada na “complementaridade”. “O utente quer ser cuidado com dignidade. Não quer saber quem manda mais”, resumiu, deixando um elogio à capacidade de liderança dos enfermeiros neste caminho.
O Presidente da Câmara de Ourém, Luís Miguel Albuquerque, e o Reverendo Padre Pedro Viva, representante do Bispo de Leiria-Fátima, completaram a mesa da sessão inaugural, salientando a importância socioeconómica do evento para a região.
Já o primeiro-ministro, Luís Montenegro, não pôde marcar presença física, mas fez-se representar por uma mensagem gravada. Agradeceu o trabalho diário dos enfermeiros, colocados na “primeira linha dos cuidados de qualidade”, e elogiou o papel da OE. Garantiu o compromisso do Governo em “continuar a valorizar a carreira e as condições de trabalho” da classe, sem contudo adiantar medidas concretas ou prazos.
A convenção, que atinge o limite máximo de inscrições, serve de palco para dezenas de painéis e debates até ao final da semana. O ambiente nos corredores do centro de congressos é de reencontro, mas também de expectativa para ver como as palavras proferidas no palco principal se irão materializar em acções fora dali.
PR/HN
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