
A resiliência do SNS: entre a pressão demográfica e a busca de eficiência
O Serviço Nacional de Saúde mantém cobertura universal, mas enfrenta desafios históricos de acesso, recursos humanos e integração de cuidados, segundo o perfil de saúde de 2025
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O State of Health in the EU Portugal, Country Health Profile 2025 não poderia deixar de colocar o foco no pilar central do sistema de saúde português: o Serviço Nacional de Saúde (SNS). A sua existência, garantindo em teoria cuidados universais e abrangentes, continua a ser um baluarte fundamental de equidade. No entanto, o relatório pinta um retrato de uma estrutura sob tensão, a braços com desafios que se acumularam ao longo do tempo e que a pandemia veio escancarar. A questão do acesso atempado a consultas e a cirurgias eletivas permanece um calcanhar de Aquiles, com listas de espera que, apesar de esforços de redução, continuam a ser uma fonte de ansiedade e de sofrimento para muitos cidadãos. Esta dificuldade é sentida de forma mais aguda nas regiões do interior, onde a escassez de profissionais de saúde agrava a descontinuidade dos cuidados.
A crise dos recursos humanos é, talvez, o desafio mais premente. A escassez de médicos, especialmente em especialidades como a medicina geral e familiar, e de enfermeiros, ameaça a própria sustentabilidade do modelo. As causas são multifatoriais: envelhecimento dos profissionais, condições de trabalho por vezes desgastantes, atratividade de outros países ou do setor privado. Sem uma estratégia concertada e atrativa para reter e captar talentos, o SNS arrisca-se a ver a sua capacidade de resposta definhar. Paralelamente, há um imperativo de melhorar a eficiência. O relatório sugere que há espaço para uma melhor gestão da capacidade instalada, para uma maior aposta na telemedicina onde ela fizer sentido, e para uma desburocratização de processos que consome tempo precioso de clínicos e doentes.
O fortalecimento dos cuidados de saúde primários é reiterado como a pedra angular de um sistema mais resiliente. Um médico de família acessível e com tempo para o doente pode resolver a grande maioria dos problemas, coordenar o percurso em situações complexas e atuar de forma decisiva na prevenção. Investir nos centros de saúde é, portanto, investir na inteligência e na primeira linha de defesa do sistema. O financiamento, naturalmente, é uma peça-chave deste puzzle. Garantir um financiamento estável e adequado às necessidades de uma população que envelhece e cronicifica é um debate político da maior importância, que vai muito além de meras discussões contabilísticas. O documento oferece uma análise exaustiva sobre estas matérias: State of Health in the EU Portugal, Country Health Profile 2025.
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