
“Vale a pena acreditar em Portugal”

A declaração do primeiro-ministro no Portugal Markets Day 2025, organizado pela Euronext e AEM – “Vale a pena acreditar em Portugal” – foi a conclusão política de uma realidade económica documentada.
Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui
O estudo Portugal as a Prime Investment Destination: Infrastructure & Innovation at the Core, apresentado nesse mesmo evento pelo Centro de Estudos Aplicados da CATÓLICA-LISBON, descreve não uma mera recuperação cíclica de Portugal, mas uma transformação estrutural profunda. Os dados revelam que o país se reposicionou como um destino de investimento de primeira linha, sustentado por pilares tangíveis que justificam o otimismo de Luís Montenegro.
Solidez macroeconómica
O “milagre” económico português é silencioso, mas robusto. O crescimento do PIB, projetado entre 2% e 3% ao ano, é apenas a face mais visível de uma mudança mais profunda. A base desta nova realidade assenta na correção de desequilíbrios históricos: a dívida pública desce de forma sustentada, suportada por sucessivos excedentes orçamentais (uma raridade no contexto Europeu). Um sinal claro de que a economia se tornou competitiva a nível global, financiando-se a si própria e atraindo investimento produtivo.
Contrariamente ao que poderia ser esperado, este crescimento não foi alcançado à custa da coesão social. Pelo contrário, a percentagem da população em risco de pobreza situa-se agora abaixo da média europeia. O desemprego atingiu um mínimo (5,8%) e o emprego um máximo (5,3 milhões) históricos, demonstrando que um Estado Social eficaz e uma economia dinâmica se podem reforçar mutuamente.
Pilares da competitividade
A solidez macroeconómica é a base; as vantagens competitivas são o motor. Portugal desenvolveu dois trunfos decisivos: Infraestruturas e inovação.
A transição energética deixou de ser apenas uma ambição ambiental para se tornar numa vantagem económica de referência. Com uma das mais altas percentagens de energias renováveis na Europa (70% na geração de eletricidade), o país oferece energia limpa e a preços competitivos para a indústria. Num mundo onde a eletricidade é o combustível da revolução digital e da reindustrialização verde, este é um fator crítico para atrair data centers e projetos industriais de grande escala.
Esta revolução energética é complementada por uma revolução digital. A cobertura quase universal de fibra ótica e 5G cria o sistema nervoso para uma economia moderna. Mais estratégica ainda é a localização de Portugal como principal ponto de ligação de cabos submarinos entre a Europa, a América e África. Esta posição, que poderia ter sido explorada como ponto de referência geográfica comercial, é agora a “porta digital” do Atlântico. É um ativo geoestratégico inestimável, assegurando a latência e resiliência que as empresas globais exigem.
Num mundo marcado pela incerteza geopolítica, a estabilidade de Portugal transforma-se num “porto seguro”. A sua localização periférica na Europa e as suas pontes históricas com a América Latina e África tornam-no um hub atrativo para talento e investimento que procuram refúgio de regiões mais instáveis. Esta resiliência é reforçada por um sistema bancário sólido e amplamente capitalizado e regulado, capaz de financiar um ciclo robusto de investimento privado.
Contudo, o ativo mais valioso de Portugal é o seu capital humano. A população ativa com ensino superior disparou, invertendo a narrativa da “fuga de cérebros”. Esta força de trabalho qualificada é ampliada por uma política de imigração, que atrai talento altamente qualificado e de fácil integração cultural (aproximadamente 50% proveniente do Brasil e PALOP e cerca de 20% vindos dos EUA e Europa). Liderar os rankings de expatriados não é um acidente; é o resultado de uma combinação única de qualidade de vida, segurança e abertura, que atrai empreendedores, investidores e cientistas.
A inovação em Portugal já não é um fenómeno concentrado em Lisboa. O estudo do CEA identifica um ecossistema multipolar, com clusters de excelência a florescerem em todo o país. A saúde, a biotecnologia e o fintech – com casos de sucesso global como a o GIMM, CEiiA e Feedzai – demonstram a capacidade de transformar conhecimento em valor económico. A presença de centros de competência de multinacionais e de hubs de cloud computing confirma que o país é já um ator maduro na economia do conhecimento.
Uma oportunidade, não uma aposta
“Vale a pena acreditar em Portugal” é, portanto, muito mais do que um slogan. É a conclusão lógica de uma análise aos dados. O país construiu uma base macroeconómica sólida, vantagens competitivas únicas em infraestruturas, resiliência face à volatilidade global e uma massa crítica de talento e inovação.
Os desafios persistem, mas o ponto de partida mudou radicalmente. Portugal já não é o caso problemático do Sul da Europa. É um laboratório de sucesso, um exemplo de como uma nação pode reposicionar-se através de políticas sensatas e uma aposta estratégica no futuro. Acreditar em Portugal deixou de ser um ato de fé para se tornar numa decisão informada, suportada por evidências sólidas. Para investidores e empresas internacionais e portuguesas, o país é hoje uma oportunidade clara e convincente. O futuro não é uma esperança; é um dever que está a ser cumprido.
Rute Xavier, professora da Católica-Lisbon School of Business and Economics
Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica-Lisbon School of Business and Economics
Source link


