
Tratamento do cancro da mama avançado depende cada vez mais da conta bancária

Entre 2015 e 2025, agravaram-se as desigualdades no acesso aos tratamentos para o cancro da mama avançado, uma doença que tem tratamento, mas não tem cura.
De acordo com a ABC Global Alliance, essa é uma realidade em todos os países desenvolvidos, incluindo Portugal. Apenas cerca de 10% dos doentes são diagnosticados com cancro da mama avançado, ou metastático (estadio IV), mas em 25% dos casos, mesmo os cancros detetados precocemente e tratados, podem reaparecer.
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Representantes de mais de 100 países, que integram a ABC Global Alliance (Aliança Global Contra o Cancro da Mama Avançado), estão reunidos em Lisboa para fazer o balanço da última década e discutir os avanços no tratamento da doença. Há 10 anos foram definidos 10 objetivos que se pretendia alcançar, mas o relatório global que agora será apresentado mostra que nem todos foram atingidos.
“As desigualdades aumentaram nesta última década, não só entre países, mas dentro de cada país. E Portugal é assim também. Os doentes são tratados de forma diferente consoante a sua cobertura de saúde. No SNS há limitações, mas nas instituições privadas o tratamento varia consoante o plafond do seguro. E não é raro, sobretudo no setor privado, tratarem-se doentes com a mesma doença de forma diferente”, afirma Fátima Cardoso, uma das maiores referências mundiais em Oncologia e presidente da ABC Global Alliance.
Um dos objetivos que foi claramente alcançado foi o aumento da sobrevida dos doentes. Ainda assim, destaca Fátima Cardoso, “o que vemos é que em dois dos três subtipos de cancro da mama, a média de vida depois do diagnóstico é hoje de 5 a 6 anos. Mas para alcançar essa mediana temos de ter acesso aos melhores e mais recentes tratamentos e o facto é que os novos medicamentos são, por norma, bastante caros, daí que a sua utilização não seja igual para todos”.
Tal como o acesso aos medicamentos inovadores, também a qualidade de vida destes doentes está condicionada por fatores económicos.
“Queríamos melhorar a qualidade de vida destes doentes e, no global, isso foi alcançado, mas mais uma vez isso depende de vários fatores: por exemplo, sabemos que alguém que é tratado por uma equipa multidisciplinar especializada tem melhor sobrevida e melhor qualidade de vida. Sabemos que um acesso precoce aos cuidados paliativos e aos cuidados de controlo de sintomas é fundamental para essa qualidade de vida, mas todos conhecemos a dificuldade que existe em Portugal no acesso aos cuidados paliativos”, acrescenta.
A ABC Global Alliance foi criada para responder às necessidades específicas dos doentes com cancro da mama avançado. Fátima Cardoso recorda que “nos inquéritos feitos a mulheres com cancro da mama avançado (apenas 1% são homens), as doentes sentiam-se abandonadas por todos, fossem eles profissionais de saúde, investigadores, jornalistas ou decisores”.
E sublinha: “Toda a gente está focada no ‘movimento cor-de-rosa’, que é extremamente importante na deteção precoce através do rastreio, mas esquecem-se que, mesmo fazendo tudo bem, o cancro avançado pode surgir e estes doentes têm necessidades próprias”.
Em Portugal, um dos próximos objetivos passa por garantir o direito ao trabalho dos doentes com cancro da mama avançado.
A lei portuguesa já prevê flexibilidade laboral, permitindo que estes doentes possam fazer tratamentos e manter alguma atividade profissional, seja em teletrabalho ou a tempo parcial. No entanto, “a lei diz que fica ao critério do empregador. E como o empregador não tem apoios do Estado, ela não é implementada, nem sequer pelo próprio Estado”, lamenta Fátima Cardoso.
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