
Sónia Sanfona prepara o concelho de Alpiarça para o futuro com mandato recheado de desafios
Sónia Sanfona é na atualidade uma das políticas mais experientes não só da Lezíria do Tejo, como de todo o distrito de Santarém. Eleita para um segundo mandato para a presidência da Câmara Municipal de Alpiarça, pelo Partido Socialista, tem consigo a experiência de, entre outras funções, ter sido Governadora Civil e Deputada na Assembleia da República. Viu reforçada a sua votação, pelos eleitores alpiarcenses que lhe reforçaram a maioria obtida em 2021, e que lhe ratificou os projetos e visão para o concelho de Alpiarça.
Com foco na habitação, educação, saúde e segurança, Sónia Sanfona fala nos do presente e futuro de Alpiarça, e também daquilo que pretende para o futuro do seu concelho. Uma entrevista longa, mas onde Sónia Sanfona não recusou os desafios e questões.
Nesta primeira parte da entrevista, abordamos o concelho de Alpiarça, o seu presente e futuro. A segunda parte será dedicada à sua visão para a região e também para o país.
Notícias do Sorraia (N.S.): Presidente, o PS obteve nas últimas eleições uma votação ainda mais expressiva que em 2021, mais 500 votos. Isso foi um sinal que a população deu, de reconhecimento do vosso trabalho. Pode entender se assim?
Sónia Sanfona (S.S.): Eu penso que sim. Penso que a forma de entender é, de facto, que a população de Alpiarça reconheceu que, ao longo destes quatro anos, nos esforçámos, que fizemos um trabalho de acordo com aquilo que eram as suas necessidades e procurámos criar respostas para essas necessidades.
É evidente que o trabalho não se consome nem se esgota em quatro anos, é preciso fazer planeamento a longo prazo. Os projetos são muitos, há muitos em curso, alguns já estão concretizados, outros estão em execução e há novos projetos.
Portanto, eu acho que a população fez uma análise positiva da nossa prestação e que nos premiou, digamos assim, por esse facto.
N.S.: A Presidente falou em projetos. Alguns já são conhecidos. O Posto da GNR é uma realidade, o Centro de Saúde está aí também muito em breve, as obras da escola, que não chegaram ainda a ser inauguradas, mas que estão concluídas também. Que projetos estão em execução, em conclusão, e aqueles que, obviamente, vêm agora para os próximos quatro anos…
S.S.: Bom, então, concretizámos o quartel da GNR. Era, como é sabido, uma necessidade e uma ambição já com muitos anos. Finalmente foi possível torná-lo realidade e nós estamos muito satisfeitos por isso. As condições que a GNR tinha eram péssimas e, obviamente, pedir que uma força de segurança preste um serviço de qualidade e de proximidade, que gere na população um sentimento de tranquilidade e de segurança, nas condições que existiam, era manifestamente exagerado e inviável.
Depois concluímos também as obras na Escola EB2/3 e Secundária. Fizemos um investimento cujo valor inicial era de cerca de 1.6 milhões de euros, aumentámos esse investimento e, no total, investimos ali mais de 3 milhões de euros. Foram as primeiras obras de reabilitação daquela escola, que foi construída nos anos 80 e que tinha muitas necessidades prementes. Algumas delas não estavam previstas no projeto inicial, que vinha ainda do anterior mandato. Neste nosso primeiro mandato, reformulámos o projeto e adotámos uma obra de maior investimento.
Ela está concluída. Fizemos intervenção ao nível das cozinhas, das cantinas e dos refeitórios, que não estavam previstas, e introduzimos a questão da climatização. Foi feito um conjunto de obras nos edifícios, nos blocos de salas, e fizemos também todos os arranjos exteriores, o arranjo da pista e do campo de jogos. Tudo isto foi acrescentado por nós, porque não havia financiamento para esses trabalhos.
Neste momento, a obra está concluída, embora não esteja ainda completamente em funcionamento, porque temos ali um constrangimento com as novas obras de ampliação da escola Escola Básica Professor Abel Avelino.
Até agora, e ainda hoje, temos as crianças do primeiro ciclo do ensino básico divididas entre duas escolas, porque o Centro Escolar Professor Abel Avelino, quando foi feito, já não tinha dimensão para acolher todas as turmas. Nós tivemos aqui uma opção que foi regularizar, de uma vez por todas, o ensino no nosso concelho. Estamos a fazer obras de ampliação da Escola Professor Abel Avelino, onde vamos conseguir colocar todo o primeiro ciclo do ensino básico.
Lançámos agora o concurso para fazermos a readaptação do edifício onde funciona o pré-escolar, para o transformar em creche municipal, que é um serviço que não temos e que é dos mais necessários no concelho nesta altura. A única creche que existe é a da Fundação José Relvas e está completamente esgotada em termos de capacidade. Temos muitas famílias, muitos pais, a colocar os seus bebés e crianças até aos três anos de idade em creches nas redondezas, porque não têm resposta aqui.
Considerámos que este era um projeto fundamental. Vamos reestruturar o edifício e o pré-escolar passará a estar no edifício onde agora funciona o ensino básico, na escola da Avenida Carlos Relvas, a EB1.
Neste momento temos lá todas as turmas enquanto estamos a fazer as obras do outro lado. Isto obriga a um esforço de coordenação, mas eu penso que, no início do próximo ano letivo, já teremos condições para ter todos estes anos escolares e todas as fases de ensino arrumadas nos seus devidos locais, o que nos dará finalmente uma resposta de qualidade, em termos infraestruturais, para as famílias.
Depois temos o novo Centro de Saúde, uma nova unidade de saúde, muito avançada. Acabámos os trabalhos exteriores, estamos agora a terminar o edifício no interior. Eu penso, numa perspetiva otimista, que no primeiro trimestre teremos a obra entregue. Agora entrou o inverno, o que complica sempre um pouco a conclusão das obras.
Nós solicitámos ao empreiteiro que avançasse com as obras exteriores, uma vez que conseguimos ir buscar financiamento para elas, que não tínhamos inicialmente, mas tínhamos de as ter concluídas dentro de determinado prazo. Privilegiámos esses trabalhos exteriores e deixámos resvalar um pouco os trabalhos interiores, porque estamos dentro dos prazos do projeto PRR. Temos financiamento PRR, estamos dentro dos prazos. Eu conto que, no primeiro trimestre, tenhamos a obra entregue, o que nos vai permitir depois fazer a mudança para lá, em articulação com a nossa USF, assim que haja essa entrega de obra.
Eu penso que, até abril, numa perspetiva otimista, em abril ou maio, teremos capacidade para ter a nova unidade já a funcionar em pleno. Estamos dependentes da candidatura para o recheio da unidade de saúde, que não é feita por nós, é feita pela ULS. Estamos a acompanhar e é preciso que esse recheio chegue para permitir, de facto, esta mudança. Estamos cientes de que, mais uma vez, este é um investimento estruturante, que fez e fará muita diferença no futuro para fixarmos aqui profissionais, médicos e enfermeiros, o que é uma necessidade absoluta nesta área da Lezíria.
Tem sido também uma aposta do município privilegiar a capacidade do serviço de saúde, porque achamos que é fundamental. Temos uma população envelhecida e que precisa deste apoio na área da saúde e entendemos que este era um foco que não devíamos perder.
Depois temos outras obras que estão a começar ou lançadas em termos de concursos.
Já iniciámos a criação da área de serviço de autocaravanismo. Esteve um período parada por causa de uma questão colocada relativamente à arqueologia e à preservação daquela área.
A área onde está a ser feita a instalação está fora do perímetro arqueológico, mas mesmo assim, temos de tentar compatibilizar, até porque temos um concelho com uma área extensa e com interesse arqueológico e não queremos contribuir para destruir um património que consideramos importante.
Penso que a obra avançará rapidamente, sem grandes constrangimentos, uma vez que, naquela área, a informação que temos de técnicos e professores de arqueologia é que não tem interesse do ponto de vista arqueológico, apesar de ser próxima de outras zonas com interesse. Rapidamente teremos a obra a continuar, até porque se trata sobretudo de movimentos de terras, pois não vamos fazer infraestruturas em betão.
Depois temos em curso as obras do programa Primeiro Direito, uma intervenção num bairro com casas do município, cerca de 20 casas que são propriedade municipal e que nunca tiveram manutenção ao longo da sua vida, de várias décadas. Estão, de facto, em condições muito más e por isso o município, no âmbito da Estratégia Local de Habitação, avançou com esta intervenção.
Tivemos uma providência cautelar, apresentada por um conjunto de proprietários de moradias contíguas. Neste momento, ainda não temos decisão do Tribunal relativamente à providência cautelar.
Por razões de interesse público e de necessidade de cumprimento de prazos, uma vez que é uma obra também com financiamento PRR, avançámos com a obra. Não estamos a fazer os trabalhos que foram colocados em causa na providência cautelar, que têm a ver com a remoção das coberturas de amianto.
É um investimento que ultrapassa os 2 milhões de euros e que vi permitir que aquelas casas, que vão ser devolvidas aos inquilinos que lá estão, passem a ter condições de eficiência energética e de conforto, com tudo remodelado e com melhor qualidade dos materiais. Estamos a falar de mudanças de canalização, de eletricidade, de tudo o que era original em muitos casos. Vamos devolver as casas aos inquilinos em muitíssimo melhores condições, mantendo as condições contratuais existentes. Serão devolvidas aos mesmos inquilinos, porque cumprem os critérios relativos ao acesso à habitação municipal.
Depois vamos iniciar a reabilitação da pista de ciclismo e a mudança do relvado do campo do complexo desportivo. Temos o projeto aprovado e a candidatura para submeter.
Relativamente ao edifício onde funcionava a GNR, vamos fazer a reabilitação desse edifício, para o destinar a Museu da História de Alpiarça, o Museu do Território. Estamos a falar de um investimento que rondará os 2 milhões de euros, entre a reabilitação do edifício e a construção de uma parte de apoio ao edifício museu, para o qual temos a candidatura pronta.
Temos um estudo prévio para a zona industrial, relacionado com financiamento disponível no Alentejo 2030 para áreas empresariais, para fazermos o investimento que nos permita criar uma zona de acolhimento empresarial e melhorar algumas áreas. O dinheiro não é propriamente para infraestruturas pesadas, será para infraestruturas tecnológicas, mas conseguiremos compatibilizar uma coisa com a outra.
Estamos a terminar um projeto de eficiência energética para as piscinas municipais, para o qual também temos financiamento no âmbito do Alentejo 2030. Este vai permitir mudar caixilharias, vidros, bombas de aquecimento, entre outros elementos. Vai permitir que as piscinas, que nunca tiveram manutenção profunda, possam agora ser intervencionadas e ganhar conforto, cumprindo os requisitos para a prática desportiva e lúdica, sobretudo na piscina interior.
Na piscina exterior, vamos fazendo pequenas reabilitações em cada época balnear, retocando a piscina e corrigindo o que não está em condições. Já fizemos a mudança de dois filtros, que nunca tinham sido mudados, e pretendemos mudar os outros dois, para que, de uma vez por todas, a piscina fique a funcionar em condições.
Temos um investimento preparado que vem na sequência do que já fizemos em reabilitação de passeios, asfaltamento de estradas e ruas, criação de novas zonas de passeio e de novas ruas. Entre o que já fizemos e o que temos planeado para o próximo orçamento, este investimento andará à volta dos 700 a 800 mil euros, para reabilitar um conjunto de vias dentro da vila e nos lugares, onde há situações complicadas que já duram há muito tempo.
Temos planeado intervir também na correção de algumas situações relacionadas com falta de resiliência em períodos de intempéries. Há dois ou três pontos em Alpiarça onde temos intenção de intervir, porque as ruas ficam completamente inundadas, o que cria problemas às pessoas.
Vamos continuar a desenvolver outros projetos, fazer manutenção do que temos, procurar novas fontes de investimento para permitir a reabilitação de alguns edifícios públicos que precisam.
Estamos a iniciar a construção de um elevador nas piscinas municipais, que vai permitir aceder ao primeiro piso em separado, para criar condições à sua exploração por alguma entidade, com entrada independente da das piscinas.
Temos um projeto aprovado para colocação de um elevador no edifício dos Bombeiros e da Sociedade Filarmónica. Vamos fazer também a reabilitação das casas de banho públicas do Estádio Municipal, para criar condições de acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida, o que neste momento não existe, e vamos melhorar também essas casas de banho.
Ou seja, os projetos são muitos, os que vêm e os novos que eventualmente surgirão. Até porque o mundo é dinâmico e Alpiarça também é.
Nós queremos fazer uma intervenção importante na Reserva do Cavalo, começando por criar condições para dotar a reserva de uma administração mais consonante com as necessidades.
Percebemos que precisamos de encontrar ali algumas receitas para garantir a manutenção daquela reserva, que é um espaço único.
Queremos dinamizar a zona da Barragem. Vamos concluir a intervenção que começámos no Parque do Carril, quer com o arvoredo, quer com a ampliação da frente ribeirinha da vala para o outro lado, criando ali uma pista de pesca e melhorando substancialmente o espaço. Gostaria, neste mandato, de ter condições para mudar o espaço do restaurante, gostaria de retirar o que lá está e criar algo novo.
Relativamente às bancas de venda de fruta, queremos manter o parque com a característica de parque de venda de fruta e parque lúdico, mas melhorá-lo.
N.S.: Elencou um conjunto de investimentos, em áreas fundamentais como a educação, saúde, segurança e habitação, onde parece haver um propósito e objetivo, uma aposta no futuro e, sobretudo, garantir condições para quem já cá está e, ao mesmo tempo, tentar atrair mais pessoas para o concelho…
S.S.: É isso mesmo. O nosso propósito é garantir que, no nosso território, temos as melhores condições para as pessoas que cá vivem e para aquelas que eventualmente queiram vir para cá. Os territórios diferenciam-se pela qualidade dos serviços que têm e pela qualidade de vida que proporcionam.
Há coisas que nós não queremos ser. Somos uma vila, um concelho rural. Essa ruralidade é algo que nos orgulha. Nós gostamos de ser rurais, sem qualquer tipo de depreciação. Acho que estes territórios, em termos de qualidade do que produzem, até de massa crítica, são cada vez melhores. Queremos continuar a ser uma vila rural, afirmando essa ruralidade, as nossas tradições, a nossa cultura.
Esta aposta na cultura é cada vez mais importante, para informarmos as novas gerações sobre os nossos valores e a nossa forma de vida. Hoje há ameaças muito complexas, vindas de vários lados, e precisamos de criar condições robustas para que as pessoas saibam fazer as suas escolhas de forma informada, mas que queiram manter essa qualidade de vida e essa ligação à terra, às famílias, à comunidade. É isso que queremos proporcionar!
Por outro lado, queremos que venham novos moradores, que venham novas pessoas. Queremos que os filhos da terra, que saem para estudar ou que estão deslocados por razões temporárias, queiram voltar a Alpiarça.
É fundamental criarmos condições, sobretudo ao nível da habitação e dos serviços, para as famílias que estão agora a formar-se e a crescer, de maneira a que estes jovens, que se foram capacitar e qualificar, queiram ficar a viver em Alpiarça e tenham capacidade para comprar ou arrendar uma casa.
Que possam ter aqui uma creche para pôr os seus filhos, uma escola de qualidade onde possam fazer o seu percurso académico, serviços de saúde à altura das necessidades.
Isto é fundamental para termos qualidade de vida. Se juntarmos a isto a qualidade ambiental, a preservação dos espaços maravilhosos que temos no concelho, que são altamente diferenciadores de outros concelhos ao nosso redor, e se conseguirmos atrair investimento que permita criar riqueza e emprego, fazemos o pleno.
A nossa proposta é essa, é esse o caminho que queremos seguir. Esta escolha de algumas infraestruturas e áreas de investimento tem exatamente esse compromisso, criar essas condições para, a seguir, podermos apostar no turismo, para que as pessoas venham.
Neste momento queremos que os turistas venham, mas ainda não temos condições para os albergar… Os projetos privados que vão surgindo são fantásticos e a Câmara acolhe-os com todo o gosto e interesse, porque também criam uma mais-valia que permite usufruir do nosso vasto património.
N.S.: A Presidente falou de fixar a população, mas há algo muito importante que está na ordem do dia, que é a habitação. Falou na reabilitação de algumas, há também investimento privado… e a autarquia tem algum projeto para novas habitações?
S.S.: Ao longo dos últimos quatro anos, temos verificado um aumento substancial, não só da construção de novas casas e moradias, mas sobretudo da reabilitação de casas. O número de projetos que têm entrado e de reabilitações que têm sido feitas é muito interessante e crescente, o que tem requerido, da parte dos serviços, uma capacidade adicional.
Onde é que vemos o futuro da criação de capacidade de gerar investimento em habitação e acolher novas famílias? Em primeiro lugar, continuando os apoios e, eventualmente, reforçando o apoio ao investimento em reabilitação.
Em números apurados há mais de um ano, tínhamos cerca de 400 casas fechadas, devolutas, abandonadas ou em ruínas, não ocupadas, o que para Alpiarça é um número elevado.
Queremos continuar a incentivar, com benefícios fiscais, facilitação de licenças, isenção de IMI, entre outras medidas.
Queremos reforçar o que já temos nesse aspeto, porque julgo que isso vai contribuir para que se continuem a reabilitar casas, pois é muito importante termos um parque habitacional reabilitado, bonito e arranjado.
Por outro lado, fizemos agora a aquisição de três lotes de terreno, naquela urbanização a que chamamos Terras Frias, a urbanização antes de chegar ao Intermarché, que tem só um edifício construído.
A Câmara adquiriu três lotes de terreno e, como há um projeto aprovado pelo IHRU no âmbito do protocolo celebrado com a CIM e com os municípios para construção de habitação para arrendamento acessível, temos já um estudo prévio aprovado para criarmos ali cerca de 40 novas habitações em três lotes que adquirimos.
Vamos seguir com esse projeto, quarenta novas habitações para arrendamento acessível é um número interessante, que complementa a oferta, sobretudo a oferta privada. Como sendo do IHRU, as regras fixadas são de arrendamentos durante determinado período de anos e depois, as habitações ficam para o município, podendo ser alienadas ou mantidas como habitação municipal.
Temos também áreas onde precisamos de trabalhar em sede de revisão do PDM, o que é muitíssimo importante. Temos feito um esforço grande para concluir rapidamente esse trabalho, que passa pela criação de novas áreas de expansão dentro do PDM. São áreas importantíssimas para garantir que investidores privados podem adquirir terrenos sabendo que podem construir.
Estamos a falar de sítios já viabilizados e dentro do PDM, onde é possível crescer, e de outros que queremos que o PDM venha a contemplar para criar essas oportunidades.
Gostaria muito que nascesse uma nova área habitacional ali na zona onde estamos a fazer o Centro de Saúde. O terreno em frente ao Centro de Saúde é municipal e estamos disponível para, em parceria ou alienando, conforme se entenda mais interessante, criar ali uma urbanização.
Gostávamos que nascessem ali casas e habitações que permitissem gerar uma nova centralidade. Há também terrenos contíguos com capacidade para albergar construção e queremos seguir por esse caminho.
Pontualmente, dentro da Estratégia Local de Habitação, será possível reabilitar algumas casas para as colocar no mercado, sobretudo para responder às famílias mais carenciadas, às pessoas que não têm possibilidade de arrendar casa, famílias monoparentais ou com dificuldades financeiras e isto vai permitir criar condições para dar resposta a essas pessoas.
N.S.: Alpiarça é atravessada pela Estrada Nacional 118, uma via nacional percorrida todos os dias por milhares de pesados e ligeiros. Esse é um dos grandes problemas, um dos grandes desafios…
S.S.: É um peso e um desafio, e é um problema, por várias razões. Não é só a qualidade de vida de quem vive junto à Nacional 118, é também o risco que todos os dias a população corre.
Esta via é atravessada por veículos que transportam matérias perigosas, que, em caso de acidente, podem ser libertadas na atmosfera. Temos uma fraquíssima capacidade de resposta e não estamos preparados. Se for necessário evacuar uma área contígua à Nacional 118 em minutos, o município não tem capacidade para o fazer, e as forças de proteção civil, quer regionais, quer nacionais, também não.
Além disso, do ponto de vista económico, é outra fragilidade. Eu preciso que o meu parque industrial, ainda hoje zona industrial, tenha acessibilidade para garantir o investimento de empresas com grande componente de mobilidade.
Para se ter noção, o investimento da Suprema em Alpiarça, nos próximos anos, comporta criação de postos de trabalho, investimento numa nova unidade industrial e, necessariamente, a capacidade de escoar os produtos.
Estamos a falar, numa perspetiva futura, de termos mais movimento de pesados do que o gerado pela Mercadona em Almeirim hoje.
Isto é um problema, como é evidente, porque todo esse tráfego tem de circular pela Nacional 118. Não é só um problema de Alpiarça, é também de Almeirim, enquanto não houver circular, é problema de Salvaterra, da Chamusca… pelo menos até à Chamusca, tendo em conta que temos o Eco Parque instalado no Pinheiro Grande, com contrapartidas não só para a Chamusca, mas para a região, a acessibilidade àquela infraestrutura tem de ser garantida de outra forma.
Precisamos há muito tempo, e os municípios, independentemente das cores políticas, têm sido unânimes na reivindicação da construção do troço do IC3 e hoje demonstra-se que isso é cada vez mais urgente.
Depois, com a lógica de termos um novo aeroporto em Benavente, mais ainda se coloca a premência desta situação.
O que aconteceu ao longo dos anos foi que, havendo já uma conceção estabelecida, trajetos definidos, com prevalência para um deles, estando esse processo avançado, o Estado deixou cair. Neste momento voltámos à estaca zero relativamente ao IC3, algo para o qual alertei várias vezes e que, julgo, nunca teve a atenção que devia ter tido por parte de outras entidades governamentais.
Precisamos urgentemente de uma via alternativa, em termos de mobilidade, para criar condições que não matem este território, do ponto de vista empresarial e do ponto de vista das pessoas que aqui vivem.
Quem tem de fazer diariamente este percurso, para ir para a estação em Santarém apanhar o comboio, ou quem vem da Chamusca trabalhar para Almeirim, ou para Salvaterra e vice-versa, sofre com a fragilidade dos transportes públicos e com o inferno diário da 118. A qualidade do ar, o barulho, tudo isto é quase insuportável para quem vive junto à Nacional 118.
É prioritário e um desafio importantíssimo criar acessibilidades que permitam que esta circulação se faça noutras condições.
N.S.: Alpiarça tem a particularidade de dispor de um dos poucos corpos de bombeiros municipais, com todos os constrangimentos e problemas que isso acarreta para o município…
S.S.: Nos grandes municípios, onde há bombeiros municipais, há mais corporações de bombeiros e, portanto, não há fragilidade como há, por exemplo, aqui ou em Coruche, ou noutras zonas do Ribatejo, onde há meia dúzia de municípios com corpos de bombeiros municipais. Aqui em Alpiarça, por exemplo, são a única corporação de bombeiros que existe.
Gerir o corpo de bombeiros tem sido um problema e um desafio, por várias razões. Não é um problema no sentido de pânico, porque tivemos a capacidade de criar e manter um corpo de bombeiros que, sendo municipal, é extremamente capaz, competente e profissional e isso não é fácil, como todos sabemos.
Foi um trabalho que se tem vindo a fazer ao longo do tempo e que permite a Alpiarça ter alguma tranquilidade relativamente à resposta dos bombeiros.
Em termos de financiamento, os bombeiros são funcionários do município. Toda a contratação tem de ser feita como para outros funcionários, por concurso, etc…
O orçamento dos bombeiros é totalmente financiado pelo município. Temos a parte do DECIR, a participação nos dispositivos especiais, que é financiada pela Autoridade Nacional, mas, nesses dispositivos, os nossos bombeiros não estão ao serviço da nossa população, estão ao serviço do país. Nesse caso, o financiamento é assegurado por essa via, mas para o dispositivo permanente, somos nós que pagamos.
Quando cheguei, os bombeiros estavam numa fase de transição de carreira para serem equiparados a bombeiros sapadores. Estavam a receber a atualização do vencimento à razão de 25 por cento ao ano, até perfazerem o total do vencimento de sapador.
Logo no ano seguinte à nossa entrada, em 2022, antecipámos o pagamento da totalidade do vencimento para todos os bombeiros. Puxámos a despesa para aquele ano, mas garantimos que todos começavam a auferir o vencimento de sapador, em vez de andarem com atualizações sucessivas.
Depois fizemos um investimento grande em fardamento, equipamentos de proteção individual e, sobretudo, em viaturas, mais concretamente ambulâncias. Tínhamos duas ambulâncias do município a funcionar em condições muito precárias e uma do INEM. Logo que cheguei à Câmara, tive uma reunião com o INEM e reclamei a mudança da ambulância que já tinha cerca de 12 anos e estava muito degradada.
Foi-me dito que, naquele ano, não era possível, mas que seria lançado o concurso no ano seguinte, porque é sempre complicado adquirir uma grande quantidade de viaturas. Havia dificuldades com o Tribunal de Contas. Fiquei a aguardar relativamente a essa, mas avançámos relativamente às outras.
O município comprou uma ambulância nova e tivemos a sorte de ter uma empresa que ofereceu uma segunda ambulância.
Ficámos, em simultâneo, com duas ambulâncias novas, o que nos dá segurança, não só para os bombeiros que as operam, como para as pessoas que são transportadas. Depois, já antes das eleições, conseguimos garantir a aquisição de uma nova ambulância para o INEM. Estamos a tratar do procedimento, porque, como o INEM não conseguiu comprar as viaturas, aumentou a transferência mensal para os bombeiros, o que nos permite garantir o funcionamento do serviço e, ao mesmo tempo, pagar a prestação de uma ambulância nova. O que permite que, com a transferência maior, possamos garantir o funcionamento e, simultaneamente, adquirir a viatura.
Depois, no âmbito da CIM, estamos a adquirir um novo carro de combate a incêndios florestais, porque não é fácil fazer a atualização de meios apenas com financiamento municipal. Ao contrário das associações humanitárias, nós não podemos recorrer a determinado tipo de financiamento que elas podem.
A média de idades das viaturas dos Bombeiros Municipais de Alpiarça andava na casa dos 29 anos. Agora desceu um pouco, porque as ambulâncias são novas, mas os outros veículos envelheceram mais alguns anos.
Precisamos de outros veículos, que iremos planear, mas o fundamental é garantirmos recursos humanos que possam assegurar o socorro à população prioritariamente.
Até porque atuamos no âmbito do comando sub-regional e as nossas ambulâncias e os nossos bombeiros fazem serviços em várias áreas do território.
Acho que o sistema deve funcionar assim, não tenho dúvidas. É importantíssimo que aconteça.
Por outro lado, temos tentado criar condições para que os bombeiros possam evoluir na carreira, porque estiveram anos estagnados. É importante sentirem que podem crescer. Estamos a tentar contratar gente nova, o que se revela difícil, dadas as condições e constrangimentos, mas vamos investindo e tentando, porque é fundamental renovar o pessoal. As pessoas chegam a uma certa altura em que já não conseguem fazer determinados serviços.
Para se ter uma ideia, para garantirmos o funcionamento do nosso Corpo de Bombeiros, temos, normalmente por ano, um orçamento que quase atinge 1 milhão de euros. Estamos a falar de 800 e muitos, 900 mil euros por ano, sem aquisição de veículos. Isto, comparativamente com Almeirim, onde não nos podemos comparar em dimensão, mas que também só tem um corpo de bombeiros, detido por uma associação humanitária, representa uma despesa, para o município de Almeirim, se calhar na ordem dos 300 ou 400 mil euros por ano, que é o montante que a Câmara transfere para a associação. Isto mostra bem as diferenças e o peso que tem o Corpo de Bombeiros em Alpiarça.
Defendo, há muito tempo, uma lógica de organização diferente dos bombeiros no país. Dizem-me que é muito difícil porque sai caro ao país. Eu acho que as coisas que saem caras, às vezes, depois saem mais baratas.
Quando estão todos juntos a combater um incêndio, olham para o lado e um recebe de determinada maneira, outro tem outros direitos, outro anda num carro com condições, outro tem de andar “a atar aquilo com arames”. Eles sentem, no terreno, que não são todos iguais, quando naquele momento estão todos a fazer o mesmo trabalho e a correr os mesmos riscos.
Eu acho isto desajustado. Um país moderno devia ter forças de proteção civil assentes nos bombeiros, que são o núcleo da proteção civil. Devíamos ter bombeiros profissionalizados, a ganhar de acordo com as atribuições do seu trabalho, condignamente. Acho que devíamos ter uma Força Nacional de Bombeiros.
Assim como temos forças de segurança nacionais, os meios dos bombeiros das associações humanitárias são privados, os meios dos bombeiros municipais são públicos.
No teatro de operações, não posso pôr condutores de uma corporação a conduzirem viaturas de outra corporação, que são meios privados, tal como aconteceu durante anos, quando mandávamos equipas de Alpiarça para o norte, na altura dos grandes incêndios. Os homens faziam 300 quilómetros em autoestrada nestas viaturas, chegavam lá e não podiam ir descansar, tinham de ir logo para a frente de fogo.
Havia corporações com carros estacionados no quartel e bombeiros sem sair. Isto é inconcebível, do meu ponto de vista.
Agora, que isto custa mais dinheiro ao Estado, custa. É uma questão de organização. Estou disponível para ser convencida do contrário, mas acho que precisávamos de uma solução que não perpetuasse esta diferenciação e que criasse condições para que estes homens e mulheres queiram ser bombeiros, queiram dar este contributo inestimável à sociedade e tenham condições para o fazer.
E que haja uma resposta capacitada do Estado, relativamente às condições que lhes dá quando nos vão defender. Eu acho que isso não tem existido, com muita pena minha.
Source link
