
Quando a tecnologia cuida de quem cuida
Portugal vive um dos momentos mais desafiantes do seu Sistema Nacional de Saúde. As listas de espera crescem, os profissionais sentem-se sobrecarregados e o acesso a cuidados básicos torna-se, para muitos, um obstáculo quase intransponível. Neste cenário, a saúde digital deixa de ser uma promessa distante e transforma-se numa necessidade urgente. A tecnologia, e em particular a inteligência artificial, tem o potencial de mudar a forma como cuidamos e somos cuidados. O seu papel não é substituir o toque humano, esse continua a ser insubstituível, mas libertar tempo e energia para que os profissionais se concentrem no que verdadeiramente importa: o bem-estar das pessoas.
Um exemplo claro surge na gestão de doenças crónicas, como a diabetes, cujo Dia Mundial se assinala a 27 de novembro. Em Portugal, mais de 900 mil portugueses têm diabetes, com o número de casos diagnosticados a subir de ano para ano, e é aqui que as soluções digitais já demonstram o seu valor. Dispositivos e aplicações inteligentes permitem o acompanhamento contínuo do estado clínico, promovendo uma relação mais próxima entre pacientes e profissionais. A saúde digital é, no fundo, uma forma de devolver autonomia e confiança às pessoas, colocando a informação ao serviço da prevenção e da decisão consciente.
O estudo “Artificial Intelligence (AI)–Powered Documentation Systems in Healthcare: A Systematic Review”, publicado em fevereiro de 2025 no Journal of Medical Systems, demonstra de forma clara como as soluções baseadas em IA estão a reduzir de forma significativa a carga administrativa dos profissionais de saúde. Este impacto direto permite-lhes dedicar consideravelmente mais tempo ao acompanhamento direto dos pacientes, um dos principais achados da revisão sistemática. Estes resultados reforçam que a integração tecnológica não é apenas uma tendência, mas um contributo real e mensurável para a humanização dos cuidados.
É através de exemplos como este que percebemos que, no setor da saúde, o investimento em inovação tem vindo a crescer, com um foco claro na criação de sistemas mais acessíveis, seguros e centrados no paciente. A combinação entre inteligência artificial, dados e experiência humana permite-nos desenvolver plataformas que simplificam tarefas, desde a marcação de consultas à gestão de tratamentos, e melhoram a comunicação entre utentes e instituições. Quando integradas com os sistemas públicos, estas ferramentas podem representar um avanço qualitativo significativo para o SNS. A inteligência artificial não surge como uma substituta, mas como uma parceira que apoia médicos, enfermeiros e administrativos a tomarem decisões mais rápidas e mais informadas.
Mas simplificar um setor tão complexo como o da saúde exige mais do que tecnologia. Requer confiança, empatia e uma visão centrada nas pessoas. Só cruzando inovação, humanização e experiência é possível devolver ao SNS o recurso mais precioso de todos: o tempo. Porque cuidar de quem cuida é, também, cuidar de todos nós.






