
Não consigo dar 100% de mim nem na faculdade nem no trabalho e isso tem impacto emocional
A realidade está há muito diagnosticada e é alarmante. Segundo um estudo da Universidade de Évora, 23% dos estudantes do ensino superior foram diagnosticados com um problema de saúde mental. O tema foi debatido esta quinta-feira, no encontro “Pobreza, Exclusão Social e Saúde Mental no Ensino Superior: um desafio urgente”, promovido pela Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN).
À Renascença, a presidente da EAPN, Maria Joaquina Madeira, salienta que “os fatores de saúde mental são decisivos para os problemas da pobreza e da exclusão social e a exclusão social, por outro lado, provoca também graves problemas de saúde mental”.
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“É muito importante refletir quais são as causas e as consequências e que medidas têm de ser tomadas aos vários níveis, nomeadamente político, sobre este problema”, diz.
Esse é um trabalho que “tem vindo a ser feito”, ressalva Maria Joaquina Madeira. De facto, não faltam estudos que avaliam a saúde mental dos jovens universitários. Por exemplo, um relatório da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia conclui que 46% dos inquiridos demonstram sintomatologia depressiva e 39% sintomas ligados à ansiedade. A esmagadora maioria dos alunos (93%) do ensino superior reportam ainda estarem sujeitos a pressão na vida académica.
O problema da pressão na vida académica afeta especialmente os estudantes com carências económicas, ressalta o presidente da Federação Académica do Porto (FAP). À Renascença, Francisco Porto Fernandes revela que, “de 40 alunos nas residências da FAP, 20 reportaram problemas com a sua saúde mental”.
“Estamos a criar uma pressão exacerbada nas pessoas que têm menos para conseguirem passar nos exames, para continuarem a ter bolsa, para continuarem a ter alojamento e complemento e apoio ao alojamento. Essa pressão muitas das vezes provoca o insucesso académico”, lamenta.
Porto Fernandes salienta que os estudantes carenciados que chegam ao ensino superior ingressam, na maioria das vezes, em cursos com médias mais baixas. “Desde o 25 de Abril tivemos uma democratização na frequência do ensino superior, mas ainda existe uma brutal desigualdade no que diz respeito aos cursos que são frequentados”, aponta.
“No caso da Universidade do Porto nós temos um caso muito paradigmático. Na Faculdade de Medicina, no mestrado integrado de medicina, que tem uma média muito alta, há 4%, 5% de estudantes bolseiros. E depois temos a Faculdade de Letras, com médias mais baixas, com 40%, 50% de estudantes bolseiros. Isso prova-nos de que o elevador social ainda não está a funcionar”, remata.
Na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a Renascença falou com Guilherme. No primeiro ano de Ciências da Comunicação, depara-se com o “desafio de ser trabalhador estudante”. “Por vezes não conseguimos equilibrar tudo e isso acaba por impactar emocionalmente, ficamos frustrados por não conseguir fazer tudo”, diz o estudante de 23 anos.
Entre o trabalho e a faculdade, são os estudos que acabam por ficar em segundo plano, “porque precisamos pagar o aluguer e alimentarmo-nos”, admite Guilherme.
“Eu sinto que eu não consigo dar 100% de mim nem na faculdade nem no trabalho e eu adoraria poder estar mais presente em ambos”, termina.
Já para Francisca Santos, também aluna de Ciências da Comunicação, a distância da família e a forte carga horária é o que mais impacta a saúde mental.
“Sinto que é uma quantidade muito grande de trabalho para o pouco tempo que temos. Sou deslocada e muitas vezes tenho que passar muitas semanas sem conseguir ir a casa para conseguir dar conta de todos os trabalhos”, remata.
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