Notícias

Mindfulness pode melhorar a saúde de mulheres com dor crônica na mandíbula

Publicidade - continue a ler a seguir

dor de dente

Crédito: Pavel Danilyuk da Pexels

Viver diariamente com dores crônicas impacta não apenas o corpo, mas também a mente e as emoções. Essa é a realidade de milhares de pessoas com disfunção temporomandibular (DTM), condição que afeta a articulação responsável por abrir e fechar a boca, bem como os músculos da mastigação. Para esses indivíduos, dor constante na mandíbula, nas têmporas, no rosto ou nos ouvidos; dificuldade em mastigar; e dores de cabeça podem afetar sua rotina diária e saúde mental.

Um estudo realizado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP) mostrou que a prática regular de mindfulness, técnica de meditação que envolve foco e atenção plena, pode ajudar a reduzir a sensibilidade à dor e melhorar a regulação emocional nesses indivíduos.

Os resultados são publicados em o Jornal de Reabilitação Oral.

A pesquisa foi realizada no Centro de Mindfulness e Terapias Integrativas da Universidade de São Paulo. O estudo foi liderado por Edilaine Gherardi Donato, enfermeira e professora titular da EERP-USP, que coordenou a equipe.

Segundo Gherardi-Donato, o estudo teve como objetivo entender se a prática da atenção plena poderia aliviar a dor crônica associada à DTM e melhorar múltiplos fatores envolvidos, incluindo aspectos neurofisiológicos e psicológicos, como estresse, ansiedade e “catastrofização da dor”. A catastrofização da dor ocorre quando uma pessoa se concentra apenas na dor, amplificando a percepção negativa dela como se fosse incontrolável e insuportável.

“Uma das condições humanas que causa muito sofrimento psicológico e prejudica a saúde mental é conviver com a dor. A dor causa estresse constante, tanto físico quanto mental”, explica a pesquisadora. “Quando promovemos a saúde mental por meio de estratégias de cuidado que conectam corpo e mente, prevenimos doenças e promovemos qualidade de vida à população”.

Segundo Gherardi-Donato, a DTM é duas a três vezes mais prevalente em mulheres do que em homens e pode evoluir para dor crônica com duração de três a seis meses, mesmo em repouso e após tratamento conservador. A DTM compromete a função, prejudica o sono e o humor e pode causar hiperalgesia, uma resposta exagerada a estímulos dolorosos.

Nessas situações, o corpo entra em estado de alerta, o cérebro fica sensibilizado e a percepção da dor aumenta, afetando não só a região da mandíbula, mas também outras partes do corpo.

“Esses indicadores mostram que a dor deixou de ser apenas um problema articular, mas passou a ser um fenômeno de modulação do sistema nervoso central, exigindo uma abordagem multidimensional”, afirma a pesquisadora.

No ensaio clínico randomizado, a pesquisadora e sua equipe observaram 53 mulheres, com idades entre 18 e 61 anos, com diagnóstico de DTM crônica. As mulheres foram recrutadas no serviço especializado da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP-USP), parceira do projeto, bem como por meio de publicidade em instituições de saúde e em redes sociais.

Metade das mulheres participou de um programa de mindfulness de oito semanas, composto por reuniões presenciais semanais de duas horas e uma sessão ao ar livre de quatro horas. Os participantes também receberam gravações em áudio das práticas de mindfulness aprendidas durante os encontros e orientações sobre como praticar as técnicas diariamente em casa. O grupo controle não recebeu nenhuma intervenção no mesmo período e foi monitorado para garantir que não iniciasse nenhum outro tipo de tratamento.

“Em nossa pesquisa, avaliamos apenas mulheres porque elas são mais afetadas pelo problema e apresentam variabilidade hormonal que pode influenciar os achados. Analisamos casos de DTM dolorosa crônica, ou seja, pessoas que convivem com dor há muito tempo e apresentam os sinais típicos da cronicidade. Essas mulheres também estão mais predispostas a sentir dores em diferentes regiões do corpo devido ao envolvimento de mecanismos de sensibilização periféricos e centrais, pois o sistema nervoso está constantemente em alerta”, explica a pesquisadora.

O programa de mindfulness foi adaptado à cultura brasileira. Começou com práticas de cinco minutos, que aumentaram gradualmente para 30 minutos diários ao longo das semanas. As atividades incluíam exercícios formais, como concentração na respiração, sensações corporais, pensamentos e emoções; bem como diferentes posturas, como sentar, deitar, mover-se e meditar andando. O programa também incluiu práticas informais destinadas a conscientizar as pessoas sobre tarefas rotineiras como escovar os dentes, comer, vestir-se e lavar a louça.

“Não se pode esperar que alguém que nunca praticou mindfulness consiga meditar meia hora imediatamente. A progressão é essencial para que a pessoa aprenda o que significa estar presente no corpo e nas emoções sem julgamento.

Após oito semanas, as mulheres que participaram do programa apresentaram melhora significativa no limiar de pressão dolorosa. Isso significa que eles poderiam tolerar mais estímulos antes de começarem a sentir dor. Houve também redução de pontos dolorosos por todo o corpo, diminuição do estresse e menos catastrofização da dor.

“Essas mulheres relataram diminuição da dor e foram menos sensíveis a estímulos dolorosos leves que estavam presentes antes da intervenção e eram desconfortáveis. Houve redução dos pontos de dor orofacial e da dor por pressão nas regiões facial e corporal”, relata a pesquisadora.

“Eles também desenvolveram maior controle da atenção, conseguindo perspectivar a dor. A dor ainda estava presente, mas não ocupava mais 100% da atenção, abrindo espaço para o autocuidado e lidando de forma mais consciente com as emoções e pensamentos negativos que a acompanham e intensificam”, explica.

Outra descoberta importante do estudo foi a melhora na consciência corporal e na regulação emocional. Segundo Gherardi-Donato, a prática ajudou os participantes a lidar com sensações desafiadoras de forma mais eficaz. “A mente de quem sofre de dor crônica tende a ruminar, alimentando o medo de que a dor só piore. Isso aumenta o estresse e o risco de ansiedade e depressão. Com a prática da atenção plena, as mulheres começam a reconhecer a dor como algo impermanente que não precisa dominar suas vidas.

Embora o estudo não tenha revelado mudanças significativas nos sintomas de ansiedade ou depressão, Gherardi-Donato observa que os benefícios observados na redução do estresse e da ansiedade, na melhoria da percepção da dor e no fortalecimento das habilidades cognitivas e de atenção são significativos.

Baixo custo e disponível no sistema público de saúde

Os resultados reforçam a ideia de que práticas integrativas e complementares de saúde, como o mindfulness, podem ser uma ferramenta importante no manejo da dor crônica, especialmente de condições complexas como a DTM. Além disso, a atenção plena é uma prática de baixo custo, fácil de implementar e incorporar nos serviços públicos de saúde.

“Mindfulness, como modalidade de meditação, foi incluída na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS [acronym for “Sistema Único de Saúde,” Brazil’s national public health system] desde 2017 [Ordinance No. 849] Isso significa que pode e deve ser ofertado como um cuidado acessível à população, representando uma ampliação do modelo assistencial”, destaca.

Segundo a pesquisadora, o mindfulness tem um impacto que vai além do alívio físico, promovendo uma mudança de atitude diante da vida.

“O programa restaura habilidades cognitivas e emocionais essenciais e melhora o autoconhecimento e o autocuidado. As pessoas aprendem a manter a atenção por mais tempo e a acessar esse estado de presença também em suas atividades diárias.

Mais informações:
Melissa de Oliveira Melchior et al, Impacto de uma intervenção baseada na atenção plena na dor e nos fatores psicológicos em mulheres com distúrbios temporomandibulares dolorosos crônicos, Revista de Reabilitação Oral (2025). DOI: 10.1111/joor.70028

Citação: Mindfulness pode melhorar a saúde de mulheres com dor crônica na mandíbula (2025, 4 de novembro) recuperado em 4 de novembro de 2025 em https://medicalxpress.com/news/2025-11-mindfulness-health-women-chronic-jaw.html

Este documento está sujeito a direitos autorais. Além de qualquer negociação justa para fins de estudo ou pesquisa privada, nenhuma parte pode ser reproduzida sem permissão por escrito. O conteúdo é fornecido apenas para fins informativos.

Publicidade - continue a ler a seguir

Seja membro da PortalEnf 




[easy-profiles template="roundcolor" align="center" nospace="no" cta="no" cta_vertical="no" cta_number="no" profiles_all_networks="no"]

Portalenf Comunidade de Saúde

A PortalEnf é um Portal de Saúde on-line que tem por objectivo divulgar tutoriais e notícias sobre a Saúde e a Enfermagem de forma a promover o conhecimento entre os seus membros.

Artigos Relacionados

Deixe um comentário

Publicidade - continue a ler a seguir
Botão Voltar ao Topo