
Médicos Sem Fronteiras fazem “apelo urgente” a Portugal para receber feridos e doentes de Gaza
O Presidente internacional da ONG Médicos Sem Fronteiras faz um “apelo urgente” a Portugal para que receba feridos e doentes de Gaza. Em declarações exclusivas à Renascença, Javid Abdelmoneim apela a que, por esta via, Portugal ajude a salvar pessoas em risco de vida por incapacidade de tratamento no destruído sistema de saúde em Gaza.
“Há pessoas a morrer enquanto aguardam transferência para receberem cuidados médicos porque o sistema de saúde em Gaza, por ter sido tão destruído, não consegue prestar esses cuidados. Países como Portugal, como todos os países da UE, pode fazer a diferença. E Portugal ainda não recebeu nenhum doente. Portanto, fazemos aqui um apelo explícito a Portugal”, declara o médico britânico que preside à organização “Médicos Sem Fronteiras” (MSF) desde junho.
As evacuações médicas de Gaza são organizadas pela Organização Mundial de Saúde ( OMS). Desde os atentados de 7 de outubro de 2023, já foram retirados mais de 7.600 doentes de Gaza que necessitavam de cuidados médicos de emergência especializados no estrangeiro e que foram identificados por um médico num hospital público. Dois terços dos doentes retirados de Gaza são crianças.
“Existem várias listas geridas pela Organização Mundial de Saúde, e, juntamente com o Ministério da Saúde e também connosco, os doentes são triados e os seus registos médicos completos são registados. Podem ser pessoas com doenças congénitas, adultos e crianças com cancro, pessoas com doenças crónicas e também algumas lesões traumáticas muito complexas”, explica o líder dos Médicos Sem Fronteiras que liderou operações de emergência daquela organização em Gaza em 2024.
Apenas 13 dos 36 hospitais de Gaza ainda estavam em funcionamento em setembro, de acordo com a OMS. “O sistema está a funcionar com muita dificuldade. Estes doentes beneficiariam imenso de receber cuidados de saúde ao serem transferidos para um sistema de saúde capaz de os atender. E Portugal tem um desses sistemas”, confirma Javid Abdelmoneim.
A Organização Mundial de Saúde estima que 15.600 pessoas doentes ou feridas ainda tenham de ser retiradas. Apenas 397 doentes foram transferidos para unidades da União Europeia e mais de metade foram para Itália e Espanha. “Portugal não recebeu nenhuma pessoa. É uma forma muito concreta de salvar vidas, que não envolve política. Está ao alcance de todos. Por isso, instamos Portugal a dar o seu melhor”, apela Javid Abdelmoneim através da Renascença.
O custo das transferências de doentes é suportado pela Organização Mundial de Saúde e os países que recebem os feridos ficam responsáveis pelos custos de saúde, de alojamento e de bens de primeira necessidade para pelo menos um acompanhante de menores transferidos de Gaza. A OMS esclarece que as operações de evacuação só se realizam depois de garantidas as necessárias condições de segurança.
“As evacuações estão a acontecer e, enquanto aparentemente há um cessar-fogo, estamos a pedir a abertura de vários pontos de entrada para realizar as evacuações médicas”, explica o presidente dos Médicos Sem Fronteiras, face à diminuição do ritmo de operações de retirada de doentes.
Dados da Organização Mundial de Saúde mostram que entre o cessar-fogo de 19 de janeiro de 2025 e 10 de setembro de 2025, foram retiradas 2266 pessoas, em comparação com 4947 pessoas entre outubro de 2023 e 6 de maio de 2024.
“Um aspeto que também tem de ser respeitado é o direito de regresso dos doentes. Esta é uma questão importante para os palestinianos, sempre que abandonam os seus territórios”, alerta Javid Abdelmoneim. Até à cerca de um mês , a maioria dos feridos e doentes de Gaza foi acolhida pelo Egipto, Emirados Árabes Unidos, Qatar e Turquia. Mais de mil doentes foram encaminhados para países da região europeia da OMS, incluindo 397 na União Europeia. Entre os 27, os países que mais doentes de Gaza receberam foram Itália (201 evacuações) e Espanha (65 transferências ).
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