
“Enfermeiros podem ter um papel muito mais importante”, defendem Médicos em Luta

O movimento Médicos em Luta mostra-se, à partida, favorável à ideia lançada pelo presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH). Em entrevista à Renascença, Xavier Barreto recomenda que o trabalho dos médicos se centre apenas no primeiro diagnóstico e na definição de um plano terapêutico e entende que a partir daí poderiam ser os enfermeiros a fazer o seguimento do doente.
Em reação, Susana Costa, a porta-voz do movimento, diz também à Renascença que os enfermeiros podem ter um papel muito mais importante e interventivo, e que até serviria para agilizar o trabalho entre as equipas médicas e as de enfermagem.
“Teria que, efetivamente, haver equipas capazes de desenvolver um trabalho dessa ordem. Haverá situações e algumas patologias em que seria possível. O médico não pode intervir uma vez só, como é evidente, mas há muitas coisas que podem ser desenvolvidas efetivamente pelos enfermeiros e os enfermeiros têm um papel que pode ser muito mais importante no âmbito da medicina, tanto hospitalar como dos cuidados de medicina geral e familiar, sem dúvida nenhuma”, declara.
Susana Costa dá um exemplo onde as equipas de enfermagem poderiam ter maior intervenção, no serviço de urgência hospitalar.
“Por exemplo, no pequeno trauma, no serviço de urgência em que o doente é triado porque tem uma ferida e fica sentado com um capacete na cabeça ou no braço, por exemplo, e fica à espera da primeira observação médica. Ora, não faz sentido nenhum. Aqui, o doente deve ser admitido, numa primeira observação, pelo enfermeiro, na pequena cirurgia e, se houver necessidade, chama o médico. O grande problema é que há sempre escassez [de recursos humanos] e as equipas não são desenhadas para esse efeito”, argumenta.
Susana Costa diz que a decisão clínica cabe sempre aos médicos que não devem ter de ocupar o seu tempo com o preenchimento de relatórios e atividades burocráticas. Por outro lado, a porta-voz do movimento também frisa que há casos que precisam de um acompanhamento médico de maior proximidade.
“Não podemos ser estanques ao ponto de dizer que o médico vê o doente, faz o diagnóstico, diz o tratamento que é para fazer e depois é o enfermeiro que segue o doente porque não é bem assim. Essa não é a realidade. No caso dos doentes oncológicos fazemos o diagnóstico e o doente passa a fazer um plano de quimioterapia. Tem um médico que está à chamada para as necessidades, faz o ciclo da quimioterapia com o apoio de enfermagem, se for necessário, chama o médico, mas ao fim de determinados ciclos, o médico tem de reavaliar e ver qual é a resposta ao tratamento porque os tratamentos não são estanques”, sustenta.
A porta-voz do movimento Médicos em Luta afirma que a medida não deve permitir uma substituição dos enfermeiros pelos médicos, mas pode ajudar a agilizar procedimentos clínicos.
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