
Discriminação no setor da saúde atinge quase metade dos profissionais LGBTQ+
Quase metade dos profissionais de saúde LGBTQ+ inquiridos num estudo nacional reporta ter sido alvo de discriminação no trabalho. Episódios de insultos, ameaças e comentários transfóbicos são comuns, criando um ambiente de stress e afetando o bem-estar das equipas e a qualidade dos cuidados prestados
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Um estudo nacional hoje divulgado vem expor uma realidade incómoda nos contextos de saúde portugueses: a discriminação com base na orientação sexual e identidade de género é uma experiência partilhada por quase metade dos profissionais LGBTQ+. A investigação, que inquereu 178 trabalhadores – incluindo enfermeiros, médicos especialistas e internos, e técnicos de diagnóstico e terapêutica –, revela que 47% foram pessoamente alvo de, pelo menos, um episódio de discriminação no seu local de trabalho.
Os relatos colhidos no âmbito do projeto PULSAR, desenvolvido no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, descrevem um leque de situações perturbadoras. Para além das piadas ofensivas, que 83% dos participantes ouviram em algum momento, foram documentados casos de ameaças, insultos diretos e comentários homo ou transfóbicos. Um enfermeiro gay, para citar um exemplo concreto, viu-se proibido de prestar cuidados a jovens do sexo masculino. Esta discriminação nem sempre é experienciada na primeira pessoa, mas a sua presença é ubíqua. Quase metade (49%) dos inquiridos testemunhou colegas a serem vítimas destas práticas.
A coordenadora do estudo, a investigadora Mara Pieri, realça que o preconceito se manifesta mesmo na ausência de uma revelação formal da identidade de cada um. “A maioria dos participantes nunca revelou a sua identidade a utentes ou doentes”, afirmou, sublinhando que essa invisibilidade voluntária acaba por alimentar um ciclo vicioso. “Faz com que se pense que não existem profissionais LGBTQ+ no setor da saúde e, por consequência, que não é necessário agir para promover inclusão – o que afeta tanto os profissionais como os utentes LGBTQ+”.
O custo psicológico desta realidade é palpável. Mais de metade (53%) dos profissionais considera que ser LGBTQ+ é, por si só, uma fonte de stress adicional no emprego. Apontam o preconceito enraizado, a ignorância e uma gritante falta de formação sobre estas matérias como fatores que corroem o seu equilíbrio emocional. Neste sentido, não surpreende que uma esmagadora maioria de 73% defenda ser urgente investir em formação específica sobre questões LGBTQ+ para todos os profissionais. Esta necessidade é acentuada pela perceção de mais de metade dos inquiridos de que o seu local de trabalho simplesmente não está preparado para lidar de forma adequada com utentes LGBTQ+, levantando questões sobre a qualidade e equidade dos cuidados prestados a esta população.
O projeto PULSAR – O papel de profissionais LGBTQ+ para uma saúde inclusiva é coordenado por Mara Pieri e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Mais informações sobre o estudo podem ser consultadas no sítio do Centro de Estudos Sociais.
NR/HN/Lusa
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